Nesta segunda-feira, Dia dos Namorados, toda a cidade se iluminou. Não havia um só restaurante que não tivesse um casal de enamorados aguardando sua reserva. Como é gostoso ver esta gente que não se deixa de namorar, beijar, abraçar, experimentar, dançar. Não conservam suas roupas prediletas e nem o vestido decotado cheirando guardado. Ousa ficar bonita. Não se entrega à saudade. Não se permita fôlego à solidão.
Quando o amor chegar, aceite-o, ame-o. A vida envolve abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida do ser humano, Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.
Dizem os sábios que nossa vida nada tem que ver com o tempo. Que a natureza, em sua infinita sabedoria faz com que cada idade tenha sua própria juventude. E completam: só uma coisa pode deixar a alma completa: o amor. Esta suave energia se restaura, com a cumplicidade ao longo dos anos. Fruto de uma convivência que faz mais digna a vida. O prazer de dividir. O fortalecimento nas dificuldades. A emoção dos momentos felizes. O respeito à individualidade. O abraço afetuoso sincero. A admiração mutua. A sagrada família. Os adoráveis filhos. A magia encantadora dos netos. Quem de nós não guarda, como num relicário, todas estas coisas que tocam suavemente nossa vida? Estive com minha Miriam num destes restaurantes. Pude recolher algo disperso da formalidade destas homenagens nestes novos tempos. Visava algum diferente circunstancial. Nesta perseguição, me surpreendi com esta gente. Não há doença, velhice e nem morte. Fiquei desconcertado. O sorriso largo, o entusiasmo envolvente. Não há lamúrias e nem lágrimas. Há uma vontade enorme de se viver por inteiro, sem pecados. Passei a observá-los. Ao som de uma canção de amor, seus olhares se enriquecem. Transfigura-se com os versos, que espelham seus sentimentos. Mas a medida que as horas se avançavam deixei-me levar também por este campo fértil de inspiração. Meus pensamentos viajaram no tempo. Quem de nós não guarda um filme romântico no coração. Um livro de romance, que traduziu a vida de nossos sonhos. Quem não viveu uma viagem a dois. Quem não se recorda de um canto, a meia-luz, num jantar romântico. De uma aquecida lareira. De uma taça de vinho, De uma varanda florida. De um céu estrelado. De um perfume envolvente e sensual. Quem de nós não viveu a ternura de mãos se achando. A doce troca de olhares. O afetuoso abraço apertado e gostoso. O beijo ardente. Não sonhou acordado. E não ouviu, no calor da noite, um "te amo". Isto tudo não são lembranças. Não foi incenso que perfumou a vida. Essência real de viver deste amor. Que me perdoem os incrédulos. O prazer de amar a vida é um dever que temos que cumprir diante de nós mesmos. Quando a noite adormeceu, na suave madrugada ao retirar-me do recinto festivo, dei de súbito, com um casal de pedintes se beijando. Nossos olhares se encontraram. Eles não se surpreenderam. Continuaram no enlevo daquele encantado beijo. Assim eu quereria prestar minha homenagem ao dia dos namorados, que fosse puro como esse beijo.
Guaraci Alvarenga é advogado (guaraci.alvarenga@yahoo.com.br)