Carga cognitiva refere-se ao esforço mental exigido para realizar determinada tarefa. Em um ambiente de trabalho complexo, dinâmico, em rede, ágil, somado a uma sobrecarga de demandas é comum que os profissionais lidem com cargas cognitivas elevadas, o que leva, ao cada vez mais corriqueiro, burnout. Matthew Skelton e Manuel Pais, no livro "Team Topologies" (2019), criticam os formatos de trabalho convencionais e sugerem que o organograma de uma empresa reflita a preocupação com a saúde mental dos seus colaboradores.
Uma pesquisa realizada pela consultoria americana Gallup (que acompanha níveis de estresse no trabalho) demonstrou que, em 2021, 74% dos empregados americanos relataram algum nível de burnout. Se, para o profissional, o formato da organização do trabalho atual gera exaustão, para a empresa gera dificuldade de priorização, qualidade baixa de entrega, atrasos. Os autores acreditam que as dinâmicas internas das equipes influenciam diretamente a sua produtividade. Defendem que diferentes tipos de trabalho exigem diferentes tipos de equipe e que não deve existir uma abordagem única para todos os contextos. "Team topologies" atua a partir de um mapa de capacidade cognitivo definido para o desenvolvimento de determinado produto ou serviço como base para definir o tamanho do time, as competências necessárias e principalmente suas relações e limites cognitivos. A estrutura das equipes deve ser projetada de maneira a permitir uma comunicação eficaz, colaboração horizontal e um compartilhamento de conhecimento fluído entre os membros, promovendo um ambiente de trabalho mais saudável.
De forma prática, os autores sugerem quatro tipos de times: SAT - stream-aligned team, que executa o projeto ou desenvolvimento do produto do início ao fim; Enabling team que tem mais maturidade e competências comportamentais mais específicas e ensina e tutora o SAT; Complicated subsystem que possui competências técnicas muito específicas e executa especificamente atividades complexas; Platform team responsável pela gestão do conhecimento e das interações. Em vez de organogramas hierárquicos e estáticos, a teoria prevê três formas de interação que podem ocorrer dinamicamente entre os quatro times a partir da necessidade do projeto: Colaboração, em que dois ou mais times executam juntos determinada atividade; a service, em que um time presta serviço para outro e facilitating em que um time ensina e tutora o outro.
Embora a teoria tenha nascido para o desenvolvimento de softwares, já está sendo utilizada por diversos setores. Isso porque a lógica por trás desta teoria vem da lei de Conway, em que o autor Melvin Conway, em 1967, demonstrou que o produto projetado por uma empresa reflete inevitavelmente a estrutura de sua comunicação interna. Em um mundo em que a informação está cada vez mais disseminada, sem curadoria ou filtro, em que a velocidade de resposta exigida não é nada menos do que o imediato, em que as conexões estão cada vez mais complexas, e que as mudanças constantes cada vez mais evidentes é essencial assumir a necessidade de revisão dos organogramas de qualquer instituição.
Elisa Carlos é especialista em inovação e head de operação (elisaecp@gmail.com)