21 de novembro de 2024
Opinião

A corrida pelo hidrogênio verde

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A emergência climática fez com que 196 países assinassem, em 2015, o Acordo de Paris. Entre outros compromissos, o texto estabelece que a temperatura do planeta não pode subir mais de 1,5 grau Celsius, até o fim do século XXI. O mundo está buscando soluções para diminuir as emissões de gases de efeito estufa e atingir o objetivo traçado - meta que está bem distante de ser alcançada, diga-se, dado o ritmo atual de redução, com a inclusão de formas de gerar energia sem o uso de combustíveis fósseis.

Com isso, foi deflagrada uma verdadeira "corrida do ouro" mundial em que o hidrogênio verde desponta como a bola da vez. Ele é considerado um elemento estratégico na transição para uma economia de baixo carbono e, na bolsa de apostas, apontado como o combustível da próxima década. Por isso, países como Estados Unidos, Austrália, Chile, além da União Europeia já definiram políticas, programas de incentivo e de certificação relativas ao hidrogênio verde.

Mais de 650 projetos de hidrogênio verde já foram anunciados globalmente que representam mais de US$ 240 bilhões em investimentos. No entanto, apenas cerca de 10% chegaram à decisão final de investimento e devem virar realidade. Se o hidrogênio verde como fonte energética se tornar uma alternativa concreta, ainda que com baixo percentual de participação, será necessário produzir um múltiplo de muitas vezes do que existe hoje.

Há hidrogênio de várias "cores", que foram definidas de acordo com a fonte de energia. O preto, por exemplo, é oriundo do carvão mineral. Produzido a partir do gás natural, o cinza é o mais comum. O azul é obtido a partir da reforma do gás natural, seguida da captura e armazenamento de carbono emitido no processo.

Existem vários outros, mas o mais limpo é o hidrogênio verde. Ele é obtido a partir de fontes renováveis, particularmente, energias eólica e solar, via eletrólise da água, sem emissão de carbono. A eletrólise é um processo físico-químico no qual a energia elétrica decompõe a molécula de água (o H20) em hidrogênio e oxigênio.

O hidrogênio verde tem várias virtudes. Além de ser sustentável, é muito versátil, pois pode ser utilizado em processos industriais ou como combustível e no armazenamento de energia - embora ainda seja necessário desenvolvimento tecnológico para todas essas aplicações.

Há alguns obstáculos a serem superados para que seu uso seja massivo. O custo é um deles. Enquanto o preço do hidrogênio cinza tem se mantido na faixa de US$ 1 a US$ 2 por kg nos últimos anos, o verde é de duas a quatro vezes mais caro. Para ser economicamente viável, seu preço precisa cair. Outro ponto é o eletrolisador, que responde por 25% a 35% do custo final de produção do hidrogênio verde. É vital reduzi-lo para haver aumento de competitividade.

Hoje, a capacidade instalada anual para produção de eletrolisadores globalmente é de 8 GW. Já foram anunciados investimentos que representarão de 60GW a 70GW de capacidade de produção de eletrolisadores no mundo. A ideia é que, ganhando escala, o preço do produto seja reduzido, barateando também o custo do hidrogênio verde. Estima-se que o mercado dos eletrolisadores atingirá US$ 120 bilhões em dez anos.

No próximo artigo, vamos falar sobre como o Brasil está posicionado neste cenário e as oportunidades que existem para o país.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)