21 de novembro de 2024
Opinião

Auxilio gratuito de arquitetos

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Vem sendo levantada a situação da habitação e submoradia no país. Aqui, com competência e verdade, este jornal fez sua parte. Nathalia Sousa, jornalista, trouxe os números que não eram mostrados, e que surpreendem.

Tenho escrito sobre o acesso gratuito ao serviço do arquiteto para assessoria técnica em habitação de interesse social, o ATHIS, que aqui está demorando para ser aderido, porque tem que ser iniciativa da prefeitura. Mas o panorama das moradias em comunidade está escondido pela própria conformação geográfica, estrategicamente assentada nos dorsos da colina, o São Camilo só do alto se descortina uma paisagem muito semelhante às bem estabelecidas no Rio de Janeiro e conhecidas em qualquer lugar do mundo. E nessa situação, não faz parte do horizonte da cidade, dando a falsa impressão que não existe.

Aqui, o número de moradias e submoradias em 2019 era de 6 mil, essa contagem está abaixo do que esperamos, porque além de defasada tem o fato da contribuição da pandemia para piorar tudo.

Muito se fala de habitação social no Centro, o que é necessário para aumentar o movimento no período da noite e levar um comercio noturno. As ações de retrofit - processo de intervenção em instalações antigas que busca adequar, recuperar e modernizar o espaço, tornando-o mais seguro e qualificado à reocupação - no Centro de São Paulo para habitação social veem decrescendo, e aqui, se quer se cogita uma intervenção municipal em imóveis de particulares, e nem se incentiva que o façam.

Essa semana o New York Times mostrou a alarmante fuga das startups de São Francisco, um esvaziamento provocado, sobretudo, pelo aumento da violência, aumento do número de homeless (moradores de rua) e do trabalho home office propiciado pela pandemia. Se esse estado é universal, em cada caso as soluções provocadas são inesperadas, inovadoras e importantes para serem avaliadas e incorporadas para alterar os procedimentos de uso do planejamento e do mercado imobiliário.

Pessoalmente não acredito no retrofit para habitação social, o processo de restauração e reforma é caro, mas pode ser um grande motivo para outras faixas do mercado imobiliário, principalmente quando as áreas originais possam ser reduzidas para otimizar o aproveitamento e finalmente retomar a dinâmica, especialmente noturna, com novos moradores.

Nosso déficit habitacional pede muitas e diversificadas formas de investimento e soluções. Não vejo, aqui, as compensações para habitação social, nem nas aprovações de condomínios nem nas aprovações de edifícios. É uma maneira importante de usar no EIV - Estudo de Impacto de Vizinhança - para essa finalidade.

A Fumas (Fundação Municipal de Ação Social), não atende a demanda de famílias cadastradas. Está aquém do que precisava atender. Enquanto isso a comunidade do Jardim Sorocabana, Jardim São Camilo e Bairro do Poste estão com suas precárias habitações sem o que poderíamos chamar salubridade. As construções aleatórias que não tem sol, não tem tratamento contra umidade, não tem proteção das chuvas e não tem ventilação adequada, vem sim provocando doenças, especialmente respiratórias como já afirmou o médico Dr. Mauro Ciser.

O grande investimento no Hospital São Vicente parece que não corresponde ao investimento nesses lugares insalubres. O ambiente patológico precisa do olhar médico, da identificação e do diagnóstico de arquitetos. Porque essas relações são, sim, da saúde.

Como reafirma Nadia Somekh, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo - CAUB/BR, "cruzar dados da origem dos atendimentos com as doenças é um dado que precisa ser conhecido, revelado e estudado. É um forte indicador de onde é preciso interferir e onde é urgente investir".

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)