A baixa produtividade dos trabalhadores brasileiros sempre foi considerada um dos maiores desafios do Brasil. A pandemia e as mudanças implementadas na forma de trabalhar e de fazer negócios - com uso mais intenso de recursos tecnológicos para superar o distanciamento social necessário - promoveram um salto da produtividade em 2020. Houve um crescimento de 12,7% na produtividade por horas efetivamente trabalhadas, depois de uma queda média de 0,3% entre 2014 e 2019, segundo dados do Observatório da Produtividade do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).
Em 2021, porém, o indicador caiu 7,9% e, em 2022, houve novo recuo, de 4,5%, conforme dado divulgado na semana passada. Pior: o número está abaixo do nível pré-pandemia e, para este ano, as perspectivas são de outra queda. Os supostos ganhos induzidos pela adoção de mais e novas tecnologias durante o auge da Covid-19 não se sustentaram para incrementar a produtividade agregada, infelizmente.
Uma das explicações é que os grupos mais atingidos pelas medidas de distanciamento social e fechamento das atividades econômicas foram, justamente, os menos produtivos. Essas pessoas, em geral, estão na informalidade, como na prestação de serviços às famílias. Com a reabertura, essas categorias retornaram ao trabalho, impactando negativamente a produtividade.
No ano passado, houve expressiva recuperação do mercado formal, em geral mais produtivo, com a criação de 2,04 milhões de empregos, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Mas nem isso foi suficiente. Segundo os especialistas do Observatório da Produtividade da FGV, a hipótese mais provável é que, na verdade, trata-se de uma formalização baseada em Microempreendedores Individuais, os MEIs.
Os dados disponíveis mostram que, em dezembro de 2022, o emprego da pessoa que trabalha por conta própria e tem registro estava 28,2% acima do período pré-pandemia. No caso dos trabalhadores com carteira assinada, estava apenas 5,7% acima. Não se espera que uma expansão via MEI resulte num salto de produtividade.
Na competição global, o Brasil está perdendo a corrida. Em 1980, um trabalhador brasileiro produzia o equivalente ao dobro de um sul coreano. Em 2021, no entanto, o mesmo indicador registrava que a produtividade do trabalho no Brasil não chegava à metade do que é obtido na Coreia do Sul.
A baixa produtividade limita o crescimento potencial do Brasil, que há 40 anos cresce pouco. São décadas perdidas - e vem piorando. Entre 2011 e 2021, por exemplo, o avanço médio foi de minguados 0,7% ao ano.
E, na toada atual, a estrada para se equiparar aos países mais produtivos é longa. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita brasileiro equivale a um quarto do PIB per capita norte-americano - da mesma forma, a produtividade do trabalho do Brasil também é 25% da dos Estados Unidos.
Considerando um crescimento per capita de 1,5% ao ano (uma hipótese otimista), o país levaria quase 100 anos para alcançar o PIB per capita dos EUA e cerca de 75 anos para atingir o da Coreia do Sul. É tempo demais.
As evidências mostram uma estreita ligação entre produtividade e educação. Por isso, investir seriamente na formação das crianças e jovens, como nunca foi feito neste país, é o caminho para o Brasil encurtar de forma mais rápida a distância que o separa dos países ricos. O enfrentamento desta realidade é urgente e não pode seguir relegado pelos governantes e o conjunto da sociedade.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)