21 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Joelhos dobrados

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Da. Rose é uma senhora acolhedora e de fé inquebrantável, que compõe a equipe de voluntárias da Casa da Fonte. Além disso, faz curso de bordado no projeto. Impressiona-me como é atenta em motivos para agradecer e, diante deles, de imediato ajoelha-se, junta as mãos e olha para o Céu. Alegra-se com aquilo que acontece de bom com as pessoas. Demonstra felicidade que nem se fosse com ela. Mestra em aconselhar ervas e sucos para a cura de algumas doenças.

Recordo-me de um fato em 18 de fevereiro de 2022. Outra pessoa muito querida, aluna de bordado, Marina Neto, voltou às aulas após um período de enfermidade, na qual passou mal: entubada e com necessidade de traqueostomia. Recebíamos com ansiedade as notícias dela, através de sua filha Luciane Borges. Ao vê-la de volta, Da. Rose ficou tão emocionada que se ajoelhou ali mesmo, na entrada do espaço, bendizendo a Deus pela recuperação da Marina. De imediato, a Marina se ajoelhou e a abraçou. Choraram juntas. Sem dúvida, naquele momento, o Céu as envolveu.

Um acontecimento recente, que merece ser contado. Após visita a família beneficiária da Casa da Fonte, com entrega de cesta básica do Fundo Social de Solidariedade, muito bem dirigido por sua presidente Vanessa Machado e pela diretora Francine Picardi, a Rosemary Ormenesi, professora de artesanato, contou que o casal, que cuida do neto, possui limites. A senhora necessitou amputar uma perna até o joelho e o senhor teve AVC. Ao chegarem, a senhora lhes disse que apenas não ajoelhava para agradecer a Deus pela cesta que chegava porque não conseguiria. Acabara de fazer a última xícara de arroz. A Da. Rose, ao saber, no refeitório da Casa da Fonte, disse: "Eu me ajoelho por ela". Fez isso com as mãos voltadas para o alto. Difícil não se emocionar.

Nossa mãe rezava bastante. Nos últimos anos, lamentava-se por não mais conseguir ajoelhar. Em primeiro de outubro de 2016, mexeu na pia da cozinha, interditada para troca, e ela caiu em sua perna esquerda. Não quebrou nada, mas a impediu de dobrar a perna para se ajoelhar, mesmo com fisioterapia.

Aos domingos, ao chegarmos à Igreja para a Missa, imaginava que conseguiria. Tentava, mas sem sucesso. Durante a semana, por sua conta, fazia exercícios com esse propósito. No entanto, jamais deixou de tratar com Deus como Alguém diante de quem se deve dobrar, o Superior Amor, para reconhecer os bens, contemplar e pedir.

Padre Márcio Felipe, Reitor e Pároco do Santuário Santa Rita de Cássia, insiste na importância da oração para o crescimento da fé e afirma: "Começamos a Eternidade aqui ao experimentarmos sinais do Céu". Mas como percebermos sinais do Céu sem conversarmos com Deus? Ele nos convida, também, a rezarmos uns pelos outros e a cantar o "Pai Nosso" do Padre Marcelo Rossi: "Pai, meu Pai do céu/ Eu quase me esqueci/ Que o Teu amor vela por mim..." E repete de Santa Teresa D'Ávila: "Quem a Deus tem/ Nada lhe falta:/ Só Deus basta. / Eleva o pensamento, / Ao céu sobe..."

Dos poemas que nossa mãe gostava de declamar, um deles era "Ave Maria", dirigido aos filhos, de Olavo Bilac: "...Pede a Deus que te proteja/ E que dê vida a teus pais. / Ave Maria... Ajoelhado, / Pede a Deus que, generoso, / Te faça justo e bondoso, / Filho bom e homem honrado..."

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)