21 de novembro de 2024
Opinião

Uma matriz de arte, vida e alegria

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O carnaval de tudo o que não é oficial na arte traz para fora a explosão da expressão. Fora da academia das artes modernas bem comportadas a função é só na avenida com outros Acadêmicos, os do Tucuruvi e todos os mestres em carnaval, porque os paradigmas da arte foram quebrados sim e o lance agora é a farra. Isso porque os doutores como Neguinho da Beija-Flor, Paulo da Portela, Joãozinho Trinta e tantos outros carnavalescos já há muito tempo instalaram esse conjunto de arte, samba, alegoria e carros alegóricos. A universidade do samba.

O fato é que a academia não olhou quanto valor cultural tinha esse evento que é de interesse mundial, se evolui como nas avenidas, a arte também acompanhou, timidamente como na celebre obra "Samba" (1925) de Di Cavalcanti. Uma de suas obras mais importantes que com 1,54 metros por 1,77 metros traduziu a cultura brasileira para o jeito moderno, acabou queimado na cobertura de Jean Boghici, seu proprietário em uma desastrada e mal conservada coleção incendiada Copacabana.

Aquele sóbrio "Samba" de 100 anos atrás fica tímido diante das apropriações que Beatriz Milhares fez do carnaval, como a obra "O Moderno" (2002), que a tornaria a artista mais cara do país. Beatriz Milhazes que se apropriou do carnaval, vendeu sua obra por 16 milhões de reais na SP-Arte de 2016, o que consequentemente lhe deu o apelido de Beatriz "Milhazes".

Mas meu olhar é para a obra dos Campana, designers brasileiros que tem sucesso no mercado de arte, que romperam com o Design do século XX com inovações de todos os tipos e cores, com materiais e com referências brasileiras as mais surpreendentes. A produção com objetos de design com os materiais, efeitos, artifícios, gambiarras do carnaval é evidenciada.

Isso é facilmente comprovado no Vitra Design Museum, um dos mais importantes e reconhecidos museus de Design do Mundo, que tem em seu acervo obras, objetos e mobiliários de design do sec. XX que são referência mundial. É lá, naquele universo de racionalismo e Industrial Design, componíveis plásticos design, dos designs modulares, dos clássicos designs italianos, finlandeses e suecos e da produção "menos é mais" do design correto, limpo, severo, econômico da Bauhaus e de todos os sucedâneos arquitetos e designers europeus e americanos incluindo os pós-modern arquitetos dos anos 1990.

É ali que os nossos respeitados designers decompõem esse panorama do bom design com suas inusitadas invenções, como a Cadeira Favela, como o Sofá Bolotas ou com as coleções Cangaço e Sushi. Quebra todos os paradigmas do design como entendíamos. Estão no site www.vitra.com.

Carnaval não é uma fonte de criatividade, é uma inundação de inovação, transgressão Modern Design e, mais que tudo, liberdade dos cânones acadêmicos estabelecidos.

Viva o Carnaval! E que ele viva para todo mundo que trabalha com tudo o que for possível, que reusem reutilizem, refaçam, inventem e estraçalhem porque, como disseram os Campana, "as maravilhas do mundo estão diante de nossos narizes".

E mais: o carnaval não morre, só explode, aumenta, contamina e é para todo mundo curtir grátis. E uma cadeira dos Campana pode ser comprada por 25 mil reais, uma outra de plástico que eles se apropriam em qualquer mercado custa 60 reais.

Como diz o bordão "quem gosta de pobreza é intelectual, o povo gosta de luxo", a Cartier edita uma obra chamada "Casulo" sem divulgar preço e nem onde comprar dos Campana. Certamente a origem é do Brasil. Mas a partir de sexta-feira a arte está pra todo mundo e é o maior evento de arte que se conhece.

Está aberta!!! A obra será uma surpresa.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto (edupereiradesign@gmail.com)