Jovens da Pátria Brasilis, eu fui, eu vi, testemunhei e participei do maior feito da História Espacial do nosso país, 30 anos agora e, acreditem, está no espaço e ainda funciona. Refiro-me ao espetacular SCD-1. Mas, ao contrário do super herói, nosso satélite é sempre esquecido, como quase todo herói (de verdade) de nossa História.
Quando trabalhei na INVAP, em Bariloche, Argentina, em 2009 e 2010, fiquei impressionado com o investimento do governo na área espacial e em como eles comemoravam suas conquistas. Eles já construíram entre muitos, dois satélites de comunicação e dois satélites radar de banda L (não esse que as Forças Armadas Brasileiras compraram do estrangeiro), radar que a Aeronáutica sonha para mapear geologicamente o Brasil.
Há uns anos, parei de ver o site da Nasa. Todo dia eles comemoravam um feito, não esperam múltiplos de cinco. Todo ano lembram cada feito. No INPE e na Agência Espacial Brasileira não lembram nem as datas cheias. O SCD-1 fez 20 anos e ninguém fez nem uma linha, até que eu lembrasse os diretores.
Comecemos pelo fim, o lançamento, já que ele ainda funciona. Aconteceu em 9 de fevereiro de 1993, o primeiro satélite projetado e construído pelo Brasil, o SCD-1, Satélite de Coleta de Dados 1, um marco para a Tecnologia Espacial do Brasil, pois fora projetado por cientistas e tecnologistas do INPE. E, ao contrário do que muita gente imagina, é um satélite sofisticado, tinha dois computadores de bordo, que também foram projetados e fabricados no INPE, pela equipe de computação espacial que eu integrava. Todo o software foi feito pelos meus colegas e por mim, desde o sistema operacional até o dos equipamento de testes.
E isso acontecia durante o maior arrocho salarial da história do INPE, perda de 75% do valor do salário. E trabalhamos noite e dia para montar o satélite e entregar à empresa norte-americana dentro do prazo estipulado no contrato. E essa não fora a primeira vez. O governo não paga hora-extra. Anos antes, eu mesmo passei várias madrugadas testando os computadores no Laboratório de Integração e Testes - LIT, nos testes de vácuo que duravam uma semana, sem parar. Trabalhávamos porque acreditávamos que estávamos construindo uma nação poderosa, que as crises seriam passageiras, que nossos políticos entenderiam e trabalhariam para um Brasil gigante.
Em julho de 1992, acertaram contratar o foguete Pégasus, aquele que é lançado de um avião. Um novo equipamento de testes do satélite precisaria ser desenvolvido, eu estava de férias e o gerente da missão telefonou na casa de meus pais e convocou-me para a tarefa. Dois engenheiros fizeram um projeto simples e brilhante de placas a serem inseridas em um PC e eu fiz todo o software. Tínhamos quatro meses, em apenas dois tudo estava pronto.
Fomos à Base de Edwards em novembro, instalar o satélite no foguete que teve uns problemas, voltamos em dezembro. Em janeiro de 1993, achei que seria mais útil em Âlcantara na antena do INPE, voluntariei-me quando soube que não queriam ir, era um fim de mundo. Por isso, tive a honra de ser o primeiro brasileiro a controlar o SCD-1.
Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano (mariosaturno@uol.com.br)