27 de dezembro de 2024

Dias Gomes e Vinícius

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Duas exposições em São Paulo celebram grandes escritores brasileiros: o dramaturgo Dias Gomes e o poeta Vinícius de Moraes. O carioca Vinícius tem sua arte exposta no Farol Santander em 200 itens, dentre fotos, manuscritos, capas de discos, desenhos e vídeos de sua vasta e grandiosa obra de poeta, dramaturgo, cronista e compositor musical. Nome central da cultura brasileira do século 20, Vinícius transitou com desenvoltura entre a poesia "dos livros" e a da canção pop. Contribuiu definitivamente para a renovação do cancioneiro brasileiro moderno. Na mostra "Vinícius de Moraes – por toda a minha vida", o visitante pode ver, por exemplo, rascunho de manuscritos para "Garota de Ipanema", em parceria com Tom Jobim, uma das canções com maior número de gravações ao redor do mundo. Além de retratos do poeta feitos por alguns de seus amigos pintores, como Di Cavalcanti e Cândido Portinari. Há também ilustrações de Santa Rosa e Elifas Andreato para livros e capas de discos do poetinha. Os curadores trataram com especial atenção a série de desenhos e poemas de "A Arca de Noé", um dos muitos clássicos de Vinícius. A exposição no Farol Santander segue até 26 de fevereiro. A visita deve ser agendada pela internet.

Já o baiano Alfredo de Dias Gomes está no Itaú Cultural, na "Ocupação Dias Gomes". Inaugurada em outubro do ano passado, para comemorar o centenário do escritor nascido em 1922, a mostra comporta 175 itens, dentre vídeos, manuscritos, depoimentos e itens pessoais (como o fardão da Academia Brasileira de Letras ou uma de suas máquinas de escrever). E há depoimentos do escritor, um notório contador de causos. "Homem de teatro", como ele mesmo sempre se definiu, Dias Gomes escreveu também para o rádio, o cinema e a televisão. Algumas de suas telenovelas estão entre os maiores sucessos da telinha brasileira, como "O bem amado" e "Roque Santeiro". O prefeito Odorico Paraguaçu, o pistoleiro Zeca Diabo e o coronel Sinhozinho Malta são algumas de suas criações imortais. O autor circulou também pelo fantástico, com a novela "Saramandaia", em que personagens ganhavam contornos extraordinários: a mulher que explodiu depois de tanto comer, o sujeito que punha o coração pela boca, o professor que virava lobisomem ou o rapaz que escondia sob a corcunda um monumental par de asas. Por sinal, na mostra pode-se "voar" como o João Gibão da novela. No cinema, a adaptação da peça "O pagador de promessas", com seu Zé do Burro protagonizado por Leonardo Vilar, virou um sucesso de prestígio mundial, único filme brasileiro ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Dos causos elencados pelo dramaturgo, estão os vetos a sua obra infringidos por governos de épocas diversas. O então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, mandou proibir uma de suas peças, com a frase que Gomes guardou como uma joia: "Nelson Rodrigues é um autor pornográfico. Dias Gomes é pornográfico e subversivo". O dramaturgo utilizou-a para o título de sua autobiografia, "Apenas um subversivo".

A "Ocupação Dias Gomes" é gratuita, e segue somente até este domingo, dia 15. Corra para ver.

Fernando Pellegrini Bandini é professor de Literatura (fpbandini@terra.com.br)