O presidente eleito Lula anunciou, na última sexta-feira (9), seus primeiros ministros. Acredito que pensou em acalmar os ânimos dos mercados - como se fosse possível - ao optar por Fernando Haddad como titular da fazenda. Visou também a pacificação com os militares e as polícias, que são setores de grande influência de Bolsonaro, com José Múcio (Defesa) e Flávio Dino (Justiça). Foram escolhidos também mais dois nomes, o de Mauro Vieira (Itamaraty) e Rui Costa (Casa Civil) muito mais por questões logísticas do que políticas. No entanto, deixou Lula a pasta da Educação para outro momento.
No meu ver, o Ministério da Educação deveria ter sido escolhido como prioridade máxima por Lula, considerando que apresenta o seu governo como de reconstrução. Não pretendo tecer comentários ou mesmo analisar a confusa gestão do Governo atual na condução desse setor no Brasil. Afinal de contas foram pelo menos seis ministros na pasta da educação - alguns com quinze dias, um mês nos cargos - e muitas indecisões, por essa razão entendo restarem imensos desafios a serem vencidos. E a situação é urgente!
Não resta dúvida que, depois da saúde, por motivos óbvios, a educação e não a economia, foi a mais afetada pela pandemia da Covid 19. Inúmeras escolas ficaram fechadas por muito tempo, com prejuízos imensos a milhões de jovens, principalmente os mais pobres, das escolas públicas. A ausência de comando centralizado para discutir temas emergenciais, elaborar um calendário, prejudicou sobremaneira o ensino.
Verifiquei que questões ideológicas acabaram predominando nos debates, com especialistas perdendo espaço para uma espécie de "palpiteiros" de ocasião. Resultado? Crianças e adolescentes com imenso déficit de aprendizagem e alta evasão escolar, ou seja, um retrocesso sem precedentes no setor educacional brasileiro.
A bem da verdade, o fechamento prolongado das escolas também afetou severamente a questão social. Recordo-me de uma matéria jornalística que relatava a atuação de uma professora de escola pública, que monitorava os alunos na pandemia. A docente constatou que uma família que tinha cinco crianças na escola passava fome, pois a merenda escolar era a principal refeição para elas. Com cinco meninos e meninas em casa, de uma só vez, a situação era caótica pela falta de alimentos e de ensino.
Tenho certeza que o Presidente Lula indicará seu ministro da educação esta semana. Mas a apresentação de um nome para esse ministério não basta. Na campanha presidencial, infelizmente os debates sobre o setor foram bastantes limitados, dando pistas de que os candidatos pouco ou nada tinham, a oferecer sobre o assunto.
O ministro da educação de Lula precisa apresentar, com a máxima urgência, planos para a normalização dos repasses de verbas a universidades - um problema que se arrasta há vários governos, é bom ressaltar - para a reestruturação de programas como o dos livros didáticos e da merenda, mas, principalmente, um projeto a curto, médio e longo prazos para conter e reverter a defasagem de aprendizado.
O futuro ministro do Governo Lula deve chegar com uma agenda emergencial, pois há uma geração de jovens que está num limbo educacional e profissional, e a sociedade precisa resgatá-la. O sucesso do novo governo deve seguir por esse caminho.
José Roberto Charone é advogado (charoneadvogados.com.br)