(Pode ser lido ouvindo "Eu e você" do Mestrinho)
Eu tenho pra mim que depois dos 30, ao fim de um relacionamento, fica uma sensação ruim, um misto de perda e recomeço. Falo depois dos 30 pois acho que esse é o marco que sabemos, ou melhor, aprendemos a duras perdas que dá uma preguiça reiniciar essa busca, esse processo de conhecer alguém, se apaixonar, alinhar expectativas...
Mais uma vez aquele sentimento de era ele, era ela. Bateu na trave.
Toda semana voltando do trabalho eu passava em frente ao mesmo bar. Sempre o mesmo movimento, um pessoal animado, até que um dia eu resolvi entrar.
Sabe aqueles dias que a gente não quer ficar em casa? Esse era um desses, resolvi que iria beber uma cerveja sozinho mesmo, ver a animação da galera e depois ir pra casa. Já que acordo cedo pra trabalhar.
Sentei na mesa, fiquei sentado assistindo eles dançarem forró, admirado como não se perdiam em meio a todos aqueles giros e movimentos de braços e pernas.
Enquanto eu dava um gole em minha cerveja eu ouvi uma menina gritando para a amiga:
"Ai, amiga, é a minha música, vamos dançar."
E percebi que a música fez todos se animarem pra dançar. Eu que não danço prestei a atenção na letra:
"Nunca pensei que eu fosse ter um grande amor
Alguém que eu me importasse
E me tornasse inseparável, tão amável
Brilha como o sol de uma manhã
Aí você apareceu
Pra me fazer sentir feliz, sorrindo, pleno, intenso
Querendo viver cada momento
Espaço, tempo, eternidade ao teu lado
Na alegria, na tristeza e na dor
Eu e você andando juntos lado a lado
Não tem tempo ruim, pois sobra tempo hábil
Pra amar, amar, amar
Nós somos feitos de amor
Inseparáveis como o céu, o mar e a lua
Me entreguei de mala e cuia
Pois tenho certeza que pra mim só existe você
É só você
Eu e você somos um só
Brincando, beijando, se amando, sentindo prazer
Eu e você somos um só
Sorrindo, chorando, cantando no amanhecer
Eu e você somos um só
Dormindo abraçados, jogados num mar de querer
Eu e você somos um só
Fazendo acontecer"
Me peguei pensando em ter essa pessoa pra dormir abraçado, brincar, ser um só, fazer acontecer.
Acho que é isso que eu quero, alguém pra fazer acontecer.
Quando a música acabou eu chamei a mesma moça que saiu doida pra dançar e perguntei o nome da música e quem cantava.
"Sério que você não conhece? Essa música é a melhor do Mestrinho. Se chama Eu e você."
"Vou salvar pra ouvir de novo depois."
"Você não dança?"
"Não."
"E o que te trouxe à um bar que toca forró?" Perguntou a moça com uma cara que fez eu me sentir um peixe fora d'água.
"Não queria ficar sozinho em casa e gostei da animação de vocês."
"Ah, legal, quer aprender uns passos?"
"Acho que sou duro demais pra isso."
"E eu uma boa professora, levante-se, vem. É só dois pra lá e dois pra cá. Não é nenhum conceito astrofísico de realinhamento dos planetas"
E, depois desse vem, eu perdi as contas de quantos pisões de pé eu já apliquei em pés bem-intencionados. Mesmo assim nunca mais larguei o forró, inclusive a moça que foi minha professora atende pelo nome de Viviane, mas eu a chamo de namorada.
Hoje inclusive é dia de forró, dia de fazer acontecer.
Jefferson Ribeiro é escritor e cronista