21 de dezembro de 2024

Fazer acontecer

Por Jefferson Ribeiro | Jornal de Jundiaí
| Tempo de leitura: 3 min
Arquivo Pessoal
Jefferson Ribeiro

(Pode ser lido ouvindo "Eu e você" do Mestrinho)

Eu tenho pra mim que depois dos 30, ao fim de um relacionamento, fica uma sensação ruim, um misto de perda e recomeço. Falo depois dos 30 pois acho que esse é o marco que sabemos, ou melhor, aprendemos a duras perdas que dá uma preguiça reiniciar essa busca, esse processo de conhecer alguém, se apaixonar, alinhar expectativas...

Mais uma vez aquele sentimento de era ele, era ela. Bateu na trave.

Toda semana voltando do trabalho eu passava em frente ao mesmo bar. Sempre o mesmo movimento, um pessoal animado, até que um dia eu resolvi entrar.

Sabe aqueles dias que a gente não quer ficar em casa? Esse era um desses, resolvi que iria beber uma cerveja sozinho mesmo, ver a animação da galera e depois ir pra casa. Já que acordo cedo pra trabalhar.

Sentei na mesa, fiquei sentado assistindo eles dançarem forró, admirado como não se perdiam em meio a todos aqueles giros e movimentos de braços e pernas.

Enquanto eu dava um gole em minha cerveja eu ouvi uma menina gritando para a amiga:

"Ai, amiga, é a minha música, vamos dançar."

E percebi que a música fez todos se animarem pra dançar. Eu que não danço prestei a atenção na letra:

"Nunca pensei que eu fosse ter um grande amor

Alguém que eu me importasse

E me tornasse inseparável, tão amável

Brilha como o sol de uma manhã

Aí você apareceu

Pra me fazer sentir feliz, sorrindo, pleno, intenso

Querendo viver cada momento

Espaço, tempo, eternidade ao teu lado

Na alegria, na tristeza e na dor

Eu e você andando juntos lado a lado

Não tem tempo ruim, pois sobra tempo hábil

Pra amar, amar, amar

Nós somos feitos de amor

Inseparáveis como o céu, o mar e a lua

Me entreguei de mala e cuia

Pois tenho certeza que pra mim só existe você

É só você

Eu e você somos um só

Brincando, beijando, se amando, sentindo prazer

Eu e você somos um só

Sorrindo, chorando, cantando no amanhecer

Eu e você somos um só

Dormindo abraçados, jogados num mar de querer

Eu e você somos um só

Fazendo acontecer"

Me peguei pensando em ter essa pessoa pra dormir abraçado, brincar, ser um só, fazer acontecer.

Acho que é isso que eu quero, alguém pra fazer acontecer.

Quando a música acabou eu chamei a mesma moça que saiu doida pra dançar e perguntei o nome da música e quem cantava.

"Sério que você não conhece? Essa música é a melhor do Mestrinho. Se chama Eu e você."

"Vou salvar pra ouvir de novo depois."

"Você não dança?"

"Não."

"E o que te trouxe à um bar que toca forró?" Perguntou a moça com uma cara que fez eu me sentir um peixe fora d'água.

"Não queria ficar sozinho em casa e gostei da animação de vocês."

"Ah, legal, quer aprender uns passos?"

"Acho que sou duro demais pra isso."

"E eu uma boa professora, levante-se, vem. É só dois pra lá e dois pra cá. Não é nenhum conceito astrofísico de realinhamento dos planetas"

E, depois desse vem, eu perdi as contas de quantos pisões de pé eu já apliquei em pés bem-intencionados. Mesmo assim nunca mais larguei o forró, inclusive a moça que foi minha professora atende pelo nome de Viviane, mas eu a chamo de namorada.

Hoje inclusive é dia de forró, dia de fazer acontecer.

Jefferson Ribeiro é escritor e cronista