23 de novembro de 2024
CONFORTO

Musicalização infantil: entretenimento X educação

Por Luciana Feres Nagumo | Jornal de Jundiaí
| Tempo de leitura: 2 min
Arquivo Pessoal
Luciana Feres Nagumo

Musicalização: ‘Ato ou processo de converter algo em música, como um texto literário’, (segundo o dicionário Michaelis). Ação de musicalizar, de dar forma musical, melodiosa a algo. Ação de despertar para a música, de iniciar ou de se iniciar musicalmente: musicalização dos alunos na escola. (Dicionário Aurélio).

Além de ter definição recente nos dicionários da Língua Portuguesa, a palavra ‘musicalização’ dá margem para muitas interpretações. Duas principais vertentes com objetivos bem diferentes: Entretenimento X Educação Musical. Entreter é ‘distrair, divertir, desviar o pensamento’ (Dic. Aurélio) e isso é delicioso. Dependendo da música que ouvimos, mudamos nosso estado de humor. Algumas músicas nos deixam mais tranquilos, relaxados, outras nos dão mais energia e ânimo para realizar determinadas atividades.

Entreter-se com música é, além de prazeroso, necessário também, mas não é educar. Entreter e educar são ações muito distintas. Ao contrário de distrair, educar é focar, é formar. Uma aula de musicalização com enfoque na educação, é um trabalho com objetivos bem definidos, com atividades que têm uma sequência evolutiva embasada nas diferentes faixas etárias do desenvolvimento infantil.

Esse trabalho, entre outras coisas, oferece oportunidades de promover desenvolvimento físico, emocional e cognitivo saudáveis. Cria possibilidades ricas de reforço no vínculo, na segurança, na socialização, no respeito, na auto-disciplina, no controle inibitório e tudo feito com muito prazer e diversão criando uma memória afetiva importantíssima para a formação da criança.

Como disse uma vez a educadora musical Josette S. M. Feres, ‘a Declaração dos Direitos da Criança deveria incluir mais um item: Direito a uma educação musical de qualidade’.

Na educação musical, por exemplo, o repertório escolhido para cantar com as crianças passa por uma série de critérios, entre eles, letra, conteúdo, tonicidade das palavras, melodia, tessitura, objetivos (o que deverá ser trabalhado de expressão corporal, percussão corporal, interpretação, apreciação musical, estimulação do aparelho fonador...). Se pensarmos que até uma determinada idade a criança é acompanhada na aula por algum adulto (preferencialmente seus familiares), esse repertório tem que contemplar tanto a criança, quanto o adulto também.

A tessitura da canção, por exemplo, tem que ser adequada tanto para a criança, quanto para o adulto cantar. O que torna o critério ainda mais refinado.

A participação da família nesse processo é extremamente importante, aliás, como em tudo na formação de uma criança. Uma educadora musical canadense, Donna Wood, uma vez escreveu um artigo intitulado: “Algumas palavras que as crianças gostariam de dizer para seus pais e professores de música” e no final colocou a seguinte frase: “Você não pode me ensinar a gostar de música, mas eu posso aprender a amá-la através de você”. Quando tudo isso acontece com verdade na vida de todos os que estão envolvidos com a criança, isso será verdade na vida delas também. E claro, os ganhos serão ainda maiores.

Luciana Feres Nagumo professora e diretora pedagógica da Escola de Música de Jundiaí (EMJ). WOOD, Donna – ‘Move, Sing, Listen, Play - Preparing the Young Child for Music’ - Alfred