24 de dezembro de 2024
Artigo

A educação das nossas crianças

Por Alexandre Martin | Jornal de Jundiaí
| Tempo de leitura: 4 min
Jornal de Jundiaí
Alexandre Martin

No mês em que as crianças se fazem representar pelo seu dia acredito que cabe um olhar ao nosso sistema de educação e como encaramos hoje o desenvolvimento dos nossos jovens frente a mudança dos paradigmas da sociedade.

Acredito que a etimologia de “educação” esclareça o ponto de vista que quero apresentar: o primeiro “e” da palavra é o mesmo que se apresenta nas palavras exterior, estrangeiro, exportação e que significa “a parte de fora”. O resto da palavra vem do verbo latim “ducare” significando conduzir.

Dessa maneira, educar significa basicamente colocar para fora aquilo que já está dentro de quem recebe a educação. Ao contrário do que pensamos, modernamente a educação não pode ser baseada em uma série de conteúdos que esperamos dar download no cérebro de nossos filhos.

Acredito que o conhecimento de fatos históricos, técnicas de cálculo, reconhecimento de mapas e relevos seja importante, mas de forma alguma parte prioritária da nossa educação.

Como costumava dizer um professor de inglês que eu tive, todas essas matérias são “entulho” cerebral, pois compartilhavam a mesma função que seus equivalentes na construção de casas: fornecem uma carga, um peso, necessário para se construir, mas não era suficiente para estruturar uma parede ou viga.

Acredito que a prioridade na educação é deixar externar aquilo que a criança já tem dentro de si tornando a habilidade do educador fundamental para perceber o dom que ela já tem, capacitando-a a colocar em ação.

Isso pode causar estranheza a aqueles que pensam que dentro das mentes dos nossos filhos e sucessores não podem existir algo que seja genuíno, mas, ao contrário, acredito que nela esteja a chave que conecta e estrutura todo o conhecimento que a pessoa precisa e precisará no futuro, basta que a tornemos consciente disso.

Para escrever esse artigo conversei com uma jovem bailarina, hoje com 17 anos, prestes a se profissionalizar em uma escola de nível mundial em Nova York, que chama a atenção não só pela competência e responsabilidade que tem apesar da pouca idade, mas pelo ser humano incrível, cheio de sensibilidade que é. Tenho o privilégio de ser um dos profissionais que cuida da sua saúde.

Pedi a ela imaginar-se conversando consigo mesma, na idade de sete anos. Que conselho essa mulher vitoriosa daria à sua versão infantil, para que alcançasse o sucesso de hoje? Algo sobre estudar mais? Treinar com afinco? Nunca desistir?

 Eu diria a ela “Use a sua respiração”. O meu queixo caiu. Nunca ensinei a essa jovem uma linha sequer sobre medicina chinesa, mas dentro da pequena frase dela estava a lição digna de mestre shaolin.

A respiração é a interface que permite controlar o sistema nervoso em todos os seus aspectos automáticos. Com o controle da respiração nos tornamos fortes nas situações de medo e eliminamos a angústia. Conseguimos o melhor do nosso desempenho e precisão quando a nossa energia corre suave pelos meridianos. E tudo isso só é obtido pela respiração.

Na simplicidade, ela me disse o local onde começam todos os caminhos para todos os lugares da vida. Tudo começa dentro de si mesmo, bem no centro de tudo, no movimento ritmado do diafragma. Ele dita o ritmo com que a energia corre dentro dos canais e por consequência, como ela flui, dentro e ao redor do corpo que a emana. Você pode imaginar uma bailarina, leve como uma fada, ofegante? Eu não consigo. Essa sensação de leveza só é obtida para quem tem esse controle.

Tenho convicção que a educação dessa outrora menina foi bem-sucedida e útil pois estruturou nela o que é simples e efetivo. É algo que empodera a criança, ao passo que muitos detalhes e explicações só fazem nublar e esconder o que é essencialmente importante. Quer algo mais direto e claro como “respire e tudo vai acabar bem”? Qual criança não entenderia isso?

Lembro-me que, na sequência da pergunta, pedi a ela, com meu sorriso “amarelo”, se ela poderia transmitir a lição também à minha própria versão aos sete anos de idade, dado o valor do ensinamento.

Fica a reflexão, então, sobre a importância da valorização do conhecimento interior de cada um, esperando para ser manifestado pela verdadeira educação. Feliz dia das crianças para todos nós!

Alexandre Martin é médico formado pela Unicamp e especialista em Acupuntura e Osteopatia