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30 de abril de 2024

Educação no centro do debate

Temos 11 milhões de analfabetos e 1/3 da população de analfabetos funcionais

Vandemir Francesconi Junior

04/10/2022 - Tempo de leitura: 3 min

A pandemia deixou graves sequelas para a educação no mundo. Já abordamos este tema neste artigo(https://www.jj.com.br/opiniao/2022/05/154651-educacao-pandemia-levou-a-maior-crise-da-historia.html). Com a recente divulgação de indicadores de nível de aprendizagem pelo Ministério da Educação, o tamanho do problema começa a ser conhecido.

Os resultados gerais do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb)mostram que os níveis de proficiência caíram em Língua Portuguesa e Matemática em todas as etapas avaliadas, regredindo em algumas áreas a patamares de aprendizagem anteriores a 2015.

O Saeb avalia estudantes dos 2º, 5º e 9º anos do Ensino Fundamental (EF) e da 3º série do Ensino Médio (EM) da rede pública - algumas da rede privada também participam. Os resultados mostram que a perda foi maior nos anos iniciais do EF e no EM. As quedas foram mais acentuadas em Matemática.

As avaliações foram aplicadas entre novembro e dezembro de 2021, momento em que algumas escolas ainda ofertavam atividades à distância ou que tinham acabado de retornar ao ensino presencial. Chama atenção, primeiramente, que a taxa de participação recuou significativamente.

Essa redução prejudica os dados de duas formas. De uma, o menor número de alunos participantes leva a uma amostra menor e a uma maior variância nos resultados. De outra, a menor participação na prova pode ter afetado mais os mais vulneráveis, deixando a amostra diferente das edições anteriores.

Os resultados do Saeb servem para calcular o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o principal indicador de qualidade da educação brasileira. O Ideb é composto pelas médias de desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática, além da taxa de abandono e reprovação. Como na pandemia a orientação do Conselho Nacional de Educação era que fossem evitadas reprovações neste período, o dado ficou comprometido, pois o nível de aprovação ficou acima do habitual.

Não restam dúvidas, porém, que os prejuízos são imensos e o país deve se unir, em um esforço nacional, para ajudar os estudantes a recuperar esses aprendizados, sob pena de condenarmos o futuro desta geração e consequentemente, o do Brasil.

Nossas mazelas são muitas - e já eram antes da pandemia. Somos um país com 11 milhões de analfabetos e com quase um terço da população analfabeta funcional. No EM, apenas 5,2% dos estudantes têm aprendizado adequado em matemática e, aos 19 anos, 36,5% não concluíram esta etapa dos estudos.Pior ainda:entre 18 e 24 anos um terço dos jovens não estuda nem trabalha.

Este descaso traz consequências muito concretas para o país. Um estudo recente do Banco Mundial estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil poderia ser 158% maior se as crianças desenvolvessem todo seu potencial e o país alcançasse o pleno emprego.

A mesma instituição desenvolveu o Índice de Capital Humano (ICH), que combina dados de educação e saúde para estimar a produtividade futura. A conclusão é que um brasileiro nascido em 2019 chegará aos 18 anos com apenas 60% de seu potencial desenvolvido.

Novos governantes, um novo parlamento, estarão assumindo em 2023. A educação precisa estar no centro do debate nacional. Cabe a nós como sociedade exigir de nossos representantes comprometimento com esta que é a principal agenda do Brasil. Está na hora de virar este jogo.

Vandemir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP