22 de dezembro de 2024

O herói que precisamos

Felipe dos Santos Schadt
| Tempo de leitura: 3 min

Não é surpresa pra ninguém que essas eleições seriam decididas, desde o primeiro turno, entre apenas dois candidatos óbvios: o ex-presidente Lula (PT) e o atual, Bolsonaro (PL). Essa situação ficou clara antes mesmo de o pleito começar, ainda no final do ano passado. Embora muitos tenham tentado, a existência de uma terceira via com chances reais de disputar os votos válidos ficou apenas na tentativa. Por mais que existam outros candidatos e candidatas, há apenas dois caminhos possíveis para o Brasil.

O primeiro caminho é esse que vivemos atualmente com Bolsonaro. O Brasil do atual presidente é um verdadeiro desastre em praticamente todas as áreas. Vá ao supermercado e perceba nosso problema econômico; veja as condições das universidades federais e observe o caos que a educação vem enfrentando; converse com as pessoas mais pobres e sinta a inexistência de projetos sociais. Se preferir, leia ou assista aos jornais e conclua por você mesmo que o país vive seu pior momento dos últimos 30 anos.

Se o primeiro caminho é esse que citei, o segundo só pode nos levar para algo que não seja isso. Você pode odiar o Lula e o PT - e eu sinceramente não entendo esse ódio todo, mas isso é para uma outra conversa -, mas é inegável que durante os governos do ex-presidente, vivíamos muito melhor do que vivemos hoje. No supermercado, os preços eram muito mais justos e nosso salário tinha maior poder de compra; universidades federais foram criadas e o acesso à faculdade foi muito facilitado com o ProUni, por exemplo; o Brasil deixou de figurar entre os países que tinham parte da sua população abaixo da linha da pobreza graças a inúmeros programas sociais. Você também pode recorrer a reportagens da época e tirar suas próprias conclusões de que no governo petista, vivíamos melhor.

Além disso, temos outra questão muito importante. O presidente Bolsonaro desafia praticamente todos os dias a nossa democracia ao proferir inverdades sobre o nosso sistema de votação. Por inúmeras vezes ele já tentou colar a ideia de que a Urna Eletrônica é fraudulenta. Disse até que teria provas contundentes sobre isso, mas que nunca mostrou. O atual presidente é uma ameaça à democracia porque incentiva seus eleitores a agirem com violência contra seus adversários políticos. O resultado desse discurso são os dois casos de assassinato durante essas eleições promovidos por bolsonaristas contra apoiadores de Lula, um no Paraná e outro no Mato Grosso.

Enquanto isso, seu rival petista jamais disse qualquer coisa que ameaçasse o sistema democrático. Pelo contrário, sempre fortaleceu os poderes da república e, foi em seu governo que deu mais autonomia para os órgãos fiscalizadores, como a Polícia Federal. Lula sempre foi um estadista de mãos cheias e é reconhecido internacionalmente por isso. As relações diplomáticas que construiu durante seu governo fortaleceu o Brasil no cenário internacional, fazendo do nosso país um dos queridinhos do mundo. Já Bolsonaro coleciona vexames e desconforto quando o assunto é relações internacionais, fazendo do Brasil pária mundial principalmente pelo modo como o atual governo tratou as questões ambientais na Amazônia e no combate contra a covid-19.

Já deu para você entender que a escolha não é nada difícil. "Mas Felipe, eu não quero votar em nenhum dos dois", você pode me dizer. E eu te digo que você tem todo o direito de não querer votar em nenhum dos dois. Mas, me responda com sinceridade, você realmente quer manter o Brasil do jeitinho que ele está agora?

Por mais que você fique aborrecido com isso, temos apenas duas opções e podemos resolver isso agora, já no dia 2. Eu sou nerd e você já deve saber disso e vou trazer uma ideia que está presente em um dos filmes do Batman. O Comissário Gordon, em um belo discurso, diz que Gotham, mesmo não querendo, precisa do Homem Morcego, pois só ele é capaz de enfrentar os vilões que infestam a cidade.

Faço o paralelo aqui. Talvez o Lula não seja o herói que você queria, mas é o herói que precisamos. Na frente da urna, antes de digitar o voto para presidente, lembre-se disso.

Conhecimento é conquista.

FELIPE SCHADT é jornalista, professor e cientista da
comunicação pela USP