IMPACTO ACIDENTES

Motociclistas lideram mortes no trânsito de Jundiaí

Por Camila Bandeira |
| Tempo de leitura: 5 min
Jornal de Jundiaí
Motociclistas representam 70% das mortes no trânsito de Jundiaí em 2025
Motociclistas representam 70% das mortes no trânsito de Jundiaí em 2025

Os acidentes de moto continuam sendo uma das principais causas de internações e atendimentos nos serviços de emergência. Dados do Hospital São Vicente (HSV) mostram que, em 2023, foram 346 atendimentos no pronto-socorro adulto e 34 internações. Em 2024, os atendimentos chegaram a 343, com duas mortes e 18 internações. Já em 2025, até o momento, foram registrados 34 atendimentos, sem óbitos e sem internações.

O Infosiga também aponta que, em 2023, das 63 mortes no trânsito, 39% envolviam motociclistas. Em 2024, esse percentual foi de 38% entre as 71 vítimas fatais. Já em 2025, nos primeiros meses, 70% das mortes no trânsito foram de pessoas em motocicletas.

Histórias de vítimas

Entre aqueles que sobreviveram, Junio Michael relembra o impacto do acidente que mudou sua vida. Ele pilotava sua moto quando ultrapassou um carro. “Eu só lembro do barulho, da pancada e depois fui levado para o hospital”, conta. Junio sofreu fraturas e precisou passar por uma cirurgia de emergência. “No começo, achei que nunca mais fosse andar direito. Tive que aprender a ter paciência. Hoje, ainda sinto dores no joelho". O acidente dele aconteceu no ano de 2022.

Reginaldo Antônio também viu sua vida mudar completamente após um acidente em 2018. Ele colidiu com a traseira de uma carreta em meio à neblina na Estrada Velha, sentido Franco da Rocha. "Não lembro de nada, só sei o que me contaram depois. Fraturei cinco vértebras, tive lesão completa na medula e perdi os movimentos do peito para baixo", relata. Desde então, ele se tornou cadeirante. Após 32 dias internado, enfrentou desafios na adaptação em casa. "No começo, resisti à fisioterapia. Não queria aceitar minha condição, mas depois percebi que era essencial para minha independência. Hoje ainda tenho limitações, mas conquistei mais autonomia", completa.

A demora no tratamento também marcou a recuperação de José Adonil São Alves Pereira. Em agosto do ano passado, ele trafegava de moto quando um carro o atingiu lateralmente, causando uma lesão exposta no pé direito. O impacto resultou em duas cirurgias e no uso de fios metálicos para estabilizar a região. “Por conta da demora para retirarem os fios, fiquei com uma sequela permanente. Se tivessem retirado antes e eu tivesse usado um sapato ortopédico, poderia ter minimizado”, lamenta. Agora, José se prepara para uma terceira cirurgia, mas já sabe que não terá a recuperação completa. “O médico já me disse que não volta ao que era antes. É algo que poderia ter sido evitado”.

Casos como o de José e Luís mostram que, além do trauma inicial, a recuperação é um processo longo e muitas vezes cheio de obstáculos. Para alguns, como Fernando Faria, marceneiro, o retorno à rotina ainda parece distante. Ele colidiu com outra moto e rompeu ligamentos do joelho. “Na hora, senti que tinha quebrado alguma coisa. Não conseguia me mexer”, conta. Após cirurgia, cinco meses depois, ele ainda não recuperou totalmente os movimentos e enfrenta dificuldades financeiras por estar sem trabalhar. “O pior não é só a dor, é a incerteza. Eu não sei quando vou poder voltar ao meu serviço.”

O desafio da reabilitação

A recuperação de acidentados nem sempre é fácil. Especialistas do Centro de Reabilitação Jundiaí (CRJ) afirmam que muitos pacientes demoram para iniciar o tratamento, o que compromete a recuperação.

Pacientes no Centro de Reabilitação Jundiaí (CRJ)

Segundo a fisioterapeuta Luciana Neves, fraturas são os traumas mais comuns entre motociclistas, e a maioria dos pacientes precisa passar por cirurgia antes de iniciar a reabilitação. “Os casos que não exigem cirurgia são raros. A maioria dos acidentados chega para a fisioterapia no pós-operatório, já com limitações que tornam o processo de recuperação mais longo”, afirma.

Outro motociclista, que preferiu não se identificar, sofreu um acidente ao cair em um buraco na rua durante uma noite chuvosa. "Demorou dois meses para eu conseguir fazer a cirurgia da clavícula. No começo, não conseguia nem levantar o braço, mas a fisioterapia tem me ajudado bastante. Agora já consigo fazer exercícios do dia a dia", conta.

Luís Fernando Vaz também enfrentou meses de tratamento. Ele trabalhava como mototaxista quando um carro na contramão o atropelou. “O motorista disse que dormiu no volante. Quando vi, já estava no chão”, relata. Luís passou dois meses com um fixador e, desde então, segue com a chamada “gaiola” na perna para estabilizar a fratura. “Agora, em maio, vou tirar, mas a recuperação tem sido boa. Já estou andando sem muletas e é só esperar para seguir a vida”.

Mirlane Buso, também fisioterapeuta do CRJ, destaca que muitos pacientes só chegam à fisioterapia semanas após o acidente, o que atrasa os resultados. “Quanto mais rápido o paciente começa, melhor. Mas tem gente que fica 40 dias sem mexer a parte afetada”, relata. Ela também aponta a falta de orientação médica como um fator preocupante. “Os médicos pedem para não mexer no início, mas acho que falta uma orientação mais clara sobre a importância de iniciar a fisioterapia o quanto antes.”

Equipe do SAMU em ocorrência simulada - Hospital São Vicente

O médico Frederico Michelino de Oliveira, diretor clínico do Hospital São Vicente, destaca a importância do atendimento imediato às vítimas. "A 'hora de ouro' é essencial para salvar vidas. Cada minuto conta no socorro a um acidentado", afirma. Ele explica que o atendimento de vítimas de acidentes de moto segue uma sistematização focada na maior ameaça à vida. "A maior ameaça à vida começa com a parte da respiração; precisamos deixar uma via aérea pérvia, ou seja, que permita a passagem do oxigênio. Depois disso, o pulmão e a caixa torácica precisam estar funcionando bem; por isso é necessário estar atento às lesões pulmonares e às lesões que afetam a troca de oxigênio", detalha.

Além disso, ele alerta para a importância de controlar hemorragias, pois o choque hemorrágico é uma das principais causas de morte no trauma. "Também precisamos identificar déficits neurológicos e evitar que uma lesão já existente piore", completa.

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