
Em 2024, o Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), em Jundiaí, realizou seis captações de órgãos, resultando em 17 órgãos e 154 córneas captadas. No ano anterior, os números foram significativamente maiores: 11 captações, 35 órgãos e 266 córneas.
A enfermeira Raíssa Gabriela Fileli, líder da Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes (CIHT) do HSV, ressalta a importância do diálogo sobre doação de órgãos: "É necessário informar a família sobre o desejo de ser um doador. No Brasil, a doação de órgãos e tecidos acontece mediante a autorização de um familiar de 1º grau (ou 2º grau na ausência destes) ou, em casos judicializados, tutor legal comprovado.” No caso de menores de idade, ela explica que é “necessário a autorização de ambos os pais, independentemente da formação familiar, para que seja feita a doação".
Entre os órgãos sólidos que podem ser doados e transplantados estão coração, pulmões, rins, fígado, pâncreas e intestino. Já entre os tecidos, podem ser doadas as córneas, ossos, pele, vasos e válvulas cardíacas. No caso dos tecidos, a doação pode ocorrer mesmo sem a constatação de morte encefálica, sendo possível a partir de doadores que faleceram por parada cardiorrespiratória.
A realidade da fila de transplantes impacta diversas famílias, como a de Francisca de Jesus Conrado Moura, mãe da pequena Lorena Conrado Moura, de sete anos. A criança aguarda há seis meses um transplante devido à síndrome nefrótica de um rim, condição que causa perda excessiva de proteína pela urina, levando ao acúmulo de líquido no corpo, níveis baixos de albumina e altos de gordura no sangue.
Francisca relembra o início do tratamento da filha. "Começou quando ela tinha um ano e oito meses. Descobrimos que ela tinha síndrome nefrótica e passou por várias internações. Para entrar na fila do transplante, ela teve uma piora após contrair dengue e ficou 30 dias internada na UTI. Foi quando começou a hemodiálise, no dia 26 de julho de 2024. Desde então, estamos na luta".
Agora, a mãe se prepara para doar um rim à filha. "Fiz todos os exames, sou 100% compatível e vou dar meu rim para ela. Estamos na última etapa, aguardando o resultado dos meus exames. Se tudo der certo, logo faremos o transplante."
A enfermeira Raíssa reforça que a doação de órgãos é um gesto de solidariedade e pode salvar várias vidas. "A doação de órgãos salva vidas e um único doador pode salvar até oito pessoas." Ela destaca ainda a importância do diálogo familiar. "É natural do ser humano não gostar de falar sobre a morte, porém, essa conversa é necessária, pois ajuda nas tomadas de decisões difíceis nesse momento de sofrimento", afirma.
A profissional acredita que a doação de órgãos representa o maior ato de amor que uma família pode realizar em um momento de perda. Para aqueles que aguardam na fila de espera, o transplante é a única esperança, e a decisão dos familiares pode amenizar essa angústia.