Ando questionando o comportamento das crianças... tenho presenciado birras, choros sem razão e “pequenos” mandando em adultos. Afinal quem deve educar? Pais ocupados – bebês ainda de fraldas, deslizando o dedinho na telinha do celular. Içami Tiba, no livro “Quem Ama, Educa!”, afirma que os pais são espelhos para os filhos. O autor defende que o exemplo é uma das mais poderosas ferramentas educativas, pois as crianças observam e reproduzem os comportamentos dos adultos ao seu redor.
A correria do dia a dia dos adultos tem limitado o que de mais valoroso é para o convívio entre pais e filhos. Fazer atividades juntos, totalmente presente na brincadeira ou na ajuda das tarefas escolares, ou da casa, ou simplesmente, estar próximo, nem que seja por meia hora, distantes de qualquer dispositivo digital.
Não podemos esquecer que educação é colocar limites claros e coerentes. Por exemplo, quando uma criança derruba um copo de suco de propósito, o cuidador pode explicar a consequência, como limpar o chão junto, ao invés de simplesmente gritar ou punir de forma desproporcional. Aprender é um processo que envolve experimentar, errar e corrigir. Aplicar consequências justas ensina a responsabilidade, sem necessidade de humilhações.
A prática da “escutatória” é muito importante. Dar atenção demonstra afeto e acolhimento. A criança sentirá confiança e segurança emocional, essencial para o desenvolvimento afetivo saudável e, quando houver qualquer problema, saberá que tem com quem contar. Um pai/mãe que escuta com atenção os sentimentos de seu filho após uma briga na escola, sem julgar imediatamente, mas buscando entender, está ensinando empatia e inteligência emocional.
Assim como os pais, as crianças, hoje, têm agendas apertadas e as antigas brincadeiras de rua, como pular corda, pega-pega e esconde-esconde, que ajudavam no desenvolvimento para a vida, estimulavam habilidades físicas, agilidade, equilíbrio e coordenação ficaram para trás. A interação social presencial demandava a negociação de regras, trabalhar em equipe e resolver conflitos diretamente, o que fortalecia habilidades socioemocionais. Muitas brincadeiras eram inventadas ou adaptadas com base nos recursos disponíveis, estimulando a imaginação. Jogar bola na rua, subir em árvores e explorar espaços públicos permitia um maior vínculo com o ambiente natural.
A crescente urbanização limitou os lugares seguros para essas atividades junto à natureza que cederam lugar a espaços fechados. As crianças estão confinadas dentro de apartamentos, sedentárias, usando o celular como principal fonte de distração, o que pode levar ao isolamento social, além de contribuir para problemas de saúde, como obesidade infantil. Os jogos digitais são projetados para prender a atenção. O uso excessivo pode prejudicar a visão e causar cansaço ocular. A vantagens deles é que estão disponíveis a qualquer momento e lugar e estimulam a cognição por meio de tarefas que envolvem estratégias, lógica e raciocínio rápido, desenvolvendo habilidades mentais.
Enquanto as brincadeiras de rua promoviam um desenvolvimento integral físico e social, os jogos no celular oferecem tecnologia e fácil acessibilidade. Um equilíbrio entre essas atividades pode proporcionar uma infância rica em estímulos e experiências para que futuramente não tropecemos em zumbis ambulantes desprovidos de análise crítica.
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)