28,8% DO TOTAL

Jundiaí teve 1.053 mortes por doença cardiovascular em 2024

Por Redação |
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Marcelo Leal / Unsplash
As doenças do coração e sistema vascular são a principal causa de morte no município, assim como aconteceu em 2023
As doenças do coração e sistema vascular são a principal causa de morte no município, assim como aconteceu em 2023

Jundiaienses estão, cada vez mais, "morrendo do coração". No ano passado, assim como em 2023, a principal causa de óbitos no município foram as doenças cardiovasculares, que podem acometer o órgão ou o sistema circulatório. No ano passado, essas doenças somaram 1.053 óbitos na cidade, quase três por dia, representando 28,8% do total de mortes em Jundiaí. No ano de 2023, foram 1.033 mortes pela mesma causa, equivalendo a 30,58% dos falecimentos no município.

E, se antes as mortes por doença cardiovascular costumavam atingir praticamente apenas pessoas mais velhas, o cenário já não é o mesmo atualmente. Pessoas mais jovens também têm sido vítimas deste tipo de doença. No ano passado, 350 casos (33%) ocorreram entre pessoas na faixa etária de 30 a 69 anos, caracterizando mortes prematuras. Em 2023, foram 330 casos (31,94%) na mesma faixa etária. Os dados são da Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS).

Tem prevenção

Cardiologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), Alcides Rocha diz que "a doença cardiovascular de maior impacto na população é a chamada doença cardiovascular aterosclerótica, que pode ser descrita de forma simplificada por acúmulo de gordura na parede do vaso, levando à obstrução do fluxo de sangue para um determinado órgão. Se a obstrução do vaso sanguíneo ocorre de forma súbita no coração, leva ao infarto agudo do miocárdio; no cérebro, ao acidente vascular cerebral (AVC). Essas placas formam-se ao longo de décadas e, em mais de 50% das vezes, não costumam dar sintomas até que ocorra um evento cardiovascular agudo, como o infarto. Isso porque o nível de obstrução antes desses eventos é frequentemente discreto. Em um dado momento, que em geral não pode ser previsto, essa placa sofre ruptura e, dentro de um processo esperado de reparo do vaso, forma-se um trombo (coágulo) no interior do vaso sanguíneo. Isso evita um sangramento, mas às custas de interrupção da circulação local e lesão do órgão".

Para evitar este tipo de acúmulo de gordura, o estilo de vida tem de ser saudável. "O melhor é prevenir a formação dessa placa de gordura ou, caso ela já tenha se formado, evitar a sua ruptura, por meio do diagnóstico e controle da hipertensão arterial sistêmica, diabetes e dislipidemia, que é o colesterol elevado. Além disso, devemos nos abster de qualquer exposição ao tabaco, sendo ativa ou passiva; ter uma alimentação saudável; fazer atividades físicas regulares, como caminhadas de 50 minutos pelo menos 3 vezes na semana; manter um peso adequado - sugere-se um IMC entre 20-25 kg/m2 -; e controlar o estresse psíquico", explica o médico.

Alcides diz ainda que as alterações no sistema cardiovascular podem ser causadas por questões genéticas. "Falando sobre a doença aterosclerótica, temos que lembrar que a sua ocorrência é comum na população, principalmente em pessoas de maior idade. Logo, quase todos possuem algum familiar com esse histórico. Para nós, médicos, consideramos histórico familiar positivo quando um infarto ocorreu em parente muito próximo (de primeiro grau, ou seja, pais e irmãos) e antes dos 60 anos de idade. Isso sugere uma doença mais precoce e agressiva nessa família, determinada por mecanismos genéticos. Muitas vezes, essa predisposição é relacionada à herança de fatores de risco modificáveis, como hipertensão, diabetes e colesterol alto. Sabe-se que essas condições, todas tratáveis, são bastante influenciadas por genética."

"Há tentativas de refinar esse aspecto herdado da doença, por meio de testes genéticos para previsão do risco futuro de infarto. No entanto, até o momento, as pesquisas com esses testes não mostraram resultados superiores à avaliação médica tradicional, que é fundamentada no reconhecimento dos fatores de risco citados para a doença. A implicação prática específica do histórico familiar positivo de infarto recai sobretudo em decisões sobre o manejo médico do colesterol. Enquanto na população geral costuma-se medir o colesterol a partir dos 40 anos de idade, o histórico familiar positivo deve levar à avaliação mais precoce possível dos seus níveis no sangue, inclusive de crianças e adolescentes, ao menos em uma ocasião, com vistas ao diagnóstico de uma condição particular chamada de hipercolesterolemia familiar", explica o médico.

Alcides lembra que, além de alimentação saudável, exercício físico e evitar o fumo, é importante que a população tenha a quantidade adequada de sono diariamente, evite longos períodos de inatividade no trabalho e se atente a sinais. "A dor no peito é, sem dúvida, a apresentação clínica mais comum da doença do coração relacionada ao infarto. O médico vai analisar um conjunto de características da dor para decidir a probabilidade inicial de que essa dor seja originada do coração, e não causada por algo mais benigno, como uma dor muscular. Uma dor em peso ou aperto no peito, espalhada, que corre para os ombros ou para o braço esquerdo, e que dura mais do que 5-10 minutos, particularmente se tiver início durante um esforço físico ou estresse emocional, é bem sugestiva de ser de origem cardíaca. Não é possível citar uma única característica que afaste este diagnóstico, mas uma dor muito localizada - apontada com o dedo - e com duração bastante curta, de segundos, torna bem pouco provável que ela seja proveniente do coração", diz o especialista, lembrando que há outras sintomáticas, como falta de ar, desmaio, palpitações e tontura.

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