Na época dos cinemas de rua, Jundiaí teve vários. Um deles, no coração da Vila Arens, não funciona mais há muitos anos, mas a arquitetura do local evidencia que se trata de um espaço especial. O prédio, que ainda mantém características da década de 1920, quando foi construído, teve desvios de função, já abrigou agência bancária, templo religioso e agora corre o risco de ser demolido. Trata-se do Cine República, ponto de encontro de jovens e apaixonados por filmes durante décadas.
Quase centenário, o Cine República foi inaugurado em 7 de setembro de 1926, na rua Barão do Rio Branco, 398, e funcionou até a década de 1970. O prédio, que desde 2008 integra o Inventário de Proteção do Patrimônio Artístico e Cultural de Jundiaí (Ippac), do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac), não é, no entanto, tombado, o que garantiria a preservação.
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Por não haver a proteção do tombamento, o local sofre com investidas comerciais. Em reunião do dia 5 de julho deste ano, o Compac discutiu o pedido de demolição feito pelo proprietário do prédio onde outrora funcionou o Cine República. O proprietário argumenta pela demolição por questões de segurança, mas o pedido foi negado, pois o imóvel compõe o inventário do Ippac.
Também foi votada a retirada e exclusão do imóvel da relação de bens do Ippac. Por unanimidade, com 13 votos favoráveis e nenhum contrário, o Compac decidiu pelo indeferimento do pedido de exclusão do imóvel do Ippac. Ou seja, por ora, a demolição não vai acontecer, mas, caso o imóvel não seja tombado, pode haver uma nova investida para que seja retirado do inventário, o que permitiria a destruição.
Memória afetiva
Foto: acervo professor Maurício Ferreira
Mais do que um espaço com bela arquitetura, o Cine República abriga memórias de jundiaienses, da época em que os cinemas de rua tinham força e eram ponto de encontro quase obrigatório aos fins de semana. Para o casal João Sidnei Gaspari e Claudia Luiza Povolo Gaspari, marcou o início do relacionamento, quando iam ao local para namorar.
Para o jornalista Nelson Manzatto, em artigo de opinião escrito para o Jornal de Jundiaí em setembro de 2023, a lembrança do local é doce. De uma época em que novos filmes e seriados não eram acessíveis a todos, com apenas alguns cliques. Só indo ao cinema mesmo para conseguir acompanhar as produções cinematográficas, como lembra de "Mazzaropi, com seu Jeca Tatu; O Gordo e o Magro; Oscarito e Grande Otelo; O Zorro e o Tonto; e o sempre vibrante Tarzan. Até que aparecia escrito "Fim" ou "The End". Mas ninguém saía do lugar: era hora do seriado".
Outros tantos cinemas de rua sequer deixaram rastros de sua existência em Jundiaí, já não há nostalgia a quem passa pelo local e as novas gerações não sabem, na vida real, como eram os prédios que abrigavam a sétima arte. O Cine República pode ser mais um deles.