JUROS

Comércio e Indústria reagem mal à manutenção da Selic em 10,5%

Por Nathália Sousa |
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A taxa Selic vem estabilizada em 10,5% desde maio, após dias quedas neste ano
A taxa Selic vem estabilizada em 10,5% desde maio, após dias quedas neste ano

Tanto o Comércio quanto a Indústria receberam mal a notícia de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa básica de juros no Brasil (Selic) em 10,5% ao ano. O percentual é considerado alto, se comparado ao de outros países e também ao próprio histórico nacional, pois pouco baixo desde o pico mais recente, de 13,75% entre setembro de 2022 e julho de 2023. Em um passado próximo, de agosto de 2020 a fevereiro de 2021, a taxa alcançou um patamar baixíssimo, de 2%, valor que fora visto pela última vez nos anos 90.

Como consequência, o mercado acabou elevando o dólar a R$ 5,46, momentos antes da reunião do Copom, maior patamar desde julho de 2022. Nesta quinta-feira, fechou a R$ 5,45. A próxima reunião do Copom para debater a taxa de juros acontecerá em 45 dias, no início de agosto.

Para o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), Rafael Cervone, não há justificativa para que a Selic esteja atualmente a 10,5%. “Temos um grupo de trabalho para discutir o porquê da Selic nesse patamar. Não existe explicação, talvez seja pressão da Faria Lima e percepção de que se deva apostar no mercado financeiro, o que é uma insensatez, porque mercado financeiro não gera emprego. No mundo inteiro e América Latina, outros países mantêm a taxa mais baixa.”

Cervone lista motivos que fragilizam a Indústria, junto aos juros altos. “O endividamento de empresas no Brasil é de R$ 126 bilhões de reais. No ano passado, o país teve recorde de recuperação judicial, com alta de 70%. Tem 6,7 milhões de empresas inadimplentes, e quem tem mais problemas neste sentido são os pequenos. Ao mesmo tempo, 70% dos empregos no Brasil são criados por pequenas empresas. E a alta dos juros acaba aumentando a tributação, uma coisa leva a outra. Em 1970, o tempo médio para se pagar impostos no Brasi era de 76 dias. No ano passado, já era de 180 dias.”

O presidente do Ciesp diz que é delicado falar sobre uma taxa de juros ideal, mas defende que seja de apenas um dígito, o que equipara o Brasil a outros países e melhoraria condições para empresas. “Vivemos juros domésticos elevados, desaceleração do crédito, inadimplência, desaceleração do crescimento global. Não tem confiança de investimento e quem é mais prejudicado é o pequeno”, opina.

CONSUMO PREJUDICADO

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Jundiaí e Região, Edison Maltoni acredita que haja desincentivo ao consumo com os juros elevados. “O cenário de juros altos encarece o crédito e restringe o consumo das famílias. Dessa forma, a situação ideal é ter a menor taxa de juros possível para melhorar a condição do empresário.”

Sobre a alta do dólar como reflexo do mercado, Maltoni diz que as pequenas empresas acabam mais prejudicadas. “Quanto à alta do dólar, ela pode comprometer as operações de qualquer empresa. Por ser usada na maioria das operações de câmbio, a moeda é referência para o mercado nacional e internacional. Ou seja, é a base para as transações de compra e venda das empresas, e sua alta pode provocar instabilidade econômica. No entanto, quem mais sofre são as empresas micro e de pequeno porte, que dependem da cotação para a movimentação do negócio. O maior impacto é a perda significativa do poder de compra. Com um valor mais elevado, os clientes recuam nas compras, o que não é bom para as microempresas ”, declara.

Presidente da Associação Comercial Empresarial de Jundiaí, Leandra Maia Diniz diz que a taxa de juros do Brasil está entre as piores do mundo. “A taxa de 10,5% coloca o Brasil como uma das maiores taxas de juros do mundo e entre os piores países no ranking mundial de competitividade. Este índice prejudica a tomada de crédito e desestimula o consumo, afetando principalmente as micro e pequenas empresas”, explica.

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