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OPINIÃO
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Escola para a vida
Escola para a vida
Os pais lúcidos - e são muitos - querem uma escola de excelência para seus filhos. Sabem que o amanhã depende do investimento que se fizer agora. Há escolas caríssimas, com ensino fundamental mais dispendioso do que faculdades - (algumas destas "vendem" seus cursos com mensalidades ínfimas). Mas nem sempre se satisfazem com o resultado.
Por experiência própria, lembro-me da relação de materiais a cada início de ano ou de semestre. Parece verdadeiro enxoval: tesoura, cartolina, papelão, papel celofane, papel crepom, papel de seda, glitter, canetas, pincéis atômicos, réguas, esquadros, compassos, etc. etc.
Antigamente se pedia menos e se entregava mais. Os educandos aprendiam também a se portar, a se higienizar, a respeitar os adultos. Hoje, parece que alguns pais ainda acreditem que a escola suprirá a formação de berço, enquanto a mentalidade da escola - como negócio, como business, numa visão estritamente empresarial - acha que isso tem de vir de casa.
Ou seja: nem lá, nem cá. Negligencia-se o aprendizado e mantém-se a estrutura decoreba. Muitos ainda não perceberam que em tempos de Inteligência Artificial, obtém-se a informação num clique. Informação mais atualizada, mais colorida, musical e em movimento. Coisa que supera, na esperteza das novas gerações, qualquer aula prelecional da maioria dos docentes.
Por isso é que tanto os pais como as escolas precisam de urgente reciclagem. O verbete não é bom. Mas transmite a ideia. O maior perigo que a humanidade corre neste confuso 2023 é a mudança climática. Por isso, a ordem é "colocar a mão na terra". Ter uma horta orgânica dentro da escola, a preocupação com a coleta de sementes, a semeadura, o acompanhamento da germinação, a formação de mudas e o plantio é que fazem o diferencial em qualquer estabelecimento que se preocupe com o amanhã.
Os projetos educacionais têm o dever de ensinar a reciclar, a não desperdiçar, a não poluir. O planeta precisa ser descarbonizado e a economia circular auxilia essa estratégia. Em países realmente civilizados, a logística reversa existe há muitos anos. A existência de "lixões" e "ferro-velhos" é um índice de subdesenvolvimento. Detectar móveis, geladeiras, carcaças de veículos atiradas ao léu ou no leito dos rios que subsistem e teimam em ainda circular, é um atestado da indigência mental de um povo.
Cuidar da natureza não é apenas pedagógico no sentido de fortalecer o conhecimento sobre geografia, biologia, ciências naturais. É um fator de ressignificação das relações. Algo que nem os governos percebem, envolvidos na rasteira troca de cargos, na nomeação de apaniguados, na multiplicação de estruturas a serem sustentadas por um povo sofrido. Um povo que paga a luxúria, o desperdício e suporta a maior carga tributária do mundo.
A educação contemporânea tem de ser efetivamente climática. Se a tragédia do clima foi criada pelo descaso, insensibilidade, omissão ou até efetiva e deliberada atuação do bicho-homem, a requalificação dos hábitos de consumo haverá de passar por essa imersão na ética ecológica.
Reciclar, economizar, não desperdiçar, plantar e colher, são verbos muito mais inclusivos do que "decorar". O acúmulo de dados para nada servirá, se o colapso ambiental sobrevier com a celeridade anunciada. Só se salvarão os cuidadores da Terra. Esta precisa de uma escola para a vida, não simplesmente para oferecer um diploma que poderá não ter utilidade alguma.
José Renato Nalini é reitor de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)
Os pais lúcidos - e são muitos - querem uma escola de excelência para seus filhos. Sabem que o amanhã depende do investimento que se fizer agora. Há escolas caríssimas, com ensino fundamental mais dispendioso do que faculdades - (algumas destas "vendem" seus cursos com mensalidades ínfimas). Mas nem sempre se satisfazem com o resultado.
Por experiência própria, lembro-me da relação de materiais a cada início de ano ou de semestre. Parece verdadeiro enxoval: tesoura, cartolina, papelão, papel celofane, papel crepom, papel de seda, glitter, canetas, pincéis atômicos, réguas, esquadros, compassos, etc. etc.
Antigamente se pedia menos e se entregava mais. Os educandos aprendiam também a se portar, a se higienizar, a respeitar os adultos. Hoje, parece que alguns pais ainda acreditem que a escola suprirá a formação de berço, enquanto a mentalidade da escola - como negócio, como business, numa visão estritamente empresarial - acha que isso tem de vir de casa.
Ou seja: nem lá, nem cá. Negligencia-se o aprendizado e mantém-se a estrutura decoreba. Muitos ainda não perceberam que em tempos de Inteligência Artificial, obtém-se a informação num clique. Informação mais atualizada, mais colorida, musical e em movimento. Coisa que supera, na esperteza das novas gerações, qualquer aula prelecional da maioria dos docentes.
Por isso é que tanto os pais como as escolas precisam de urgente reciclagem. O verbete não é bom. Mas transmite a ideia. O maior perigo que a humanidade corre neste confuso 2023 é a mudança climática. Por isso, a ordem é "colocar a mão na terra". Ter uma horta orgânica dentro da escola, a preocupação com a coleta de sementes, a semeadura, o acompanhamento da germinação, a formação de mudas e o plantio é que fazem o diferencial em qualquer estabelecimento que se preocupe com o amanhã.
Os projetos educacionais têm o dever de ensinar a reciclar, a não desperdiçar, a não poluir. O planeta precisa ser descarbonizado e a economia circular auxilia essa estratégia. Em países realmente civilizados, a logística reversa existe há muitos anos. A existência de "lixões" e "ferro-velhos" é um índice de subdesenvolvimento. Detectar móveis, geladeiras, carcaças de veículos atiradas ao léu ou no leito dos rios que subsistem e teimam em ainda circular, é um atestado da indigência mental de um povo.
Cuidar da natureza não é apenas pedagógico no sentido de fortalecer o conhecimento sobre geografia, biologia, ciências naturais. É um fator de ressignificação das relações. Algo que nem os governos percebem, envolvidos na rasteira troca de cargos, na nomeação de apaniguados, na multiplicação de estruturas a serem sustentadas por um povo sofrido. Um povo que paga a luxúria, o desperdício e suporta a maior carga tributária do mundo.
A educação contemporânea tem de ser efetivamente climática. Se a tragédia do clima foi criada pelo descaso, insensibilidade, omissão ou até efetiva e deliberada atuação do bicho-homem, a requalificação dos hábitos de consumo haverá de passar por essa imersão na ética ecológica.
Reciclar, economizar, não desperdiçar, plantar e colher, são verbos muito mais inclusivos do que "decorar". O acúmulo de dados para nada servirá, se o colapso ambiental sobrevier com a celeridade anunciada. Só se salvarão os cuidadores da Terra. Esta precisa de uma escola para a vida, não simplesmente para oferecer um diploma que poderá não ter utilidade alguma.
José Renato Nalini é reitor de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)
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