ENTENDIMENTO

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Mais informação leva a diagnósticos tardios de autismo

Mais informação leva a diagnósticos tardios de autismo

Há alguns anos, a abrangência da Saúde Mental era menor, o que restringia o diagnóstico do transtorno do espectro autista

Há alguns anos, a abrangência da Saúde Mental era menor, o que restringia o diagnóstico do transtorno do espectro autista

Por Nathália Sousa | 29/10/2023 | Tempo de leitura: 5 min
Jornal de Jundiaí

Por Nathália Sousa
Jornal de Jundiaí

29/10/2023 - Tempo de leitura: 5 min

Arquivo pessoal

Juliana Prado, de 31 anos, descobriu que tinha autismo só aos 28

O acesso ao atendimento em Saúde Mental vem mudando e sendo ampliado nos últimos anos. Por conta disso, muitas pessoas que durante a infância não tiveram acesso a esse atendimento, hoje têm diagnósticos, que, ainda que tardios, mudam a forma como enxergam o mundo e enxergam a si no mundo. Um desses diagnósticos que não era muito comum até pouco tempo atrás, mas se tornou mais acessível, é o do transtorno do espectro autista (TEA). E, recentemente, esse reconhecimento tardio ganhou repercussão, após pessoas famosas, como a atriz Letícia Sabatella e o humorista Danilo Gentili, terem o diagnóstico.

Neurologista da Apae Jundiaí, David Willian Silva diz que houve mudança na perspectiva do diagnóstico de autismo a partir dos trabalhos da psiquiatra inglesa Lorna Wing, no início dos anos 2000. "Surgiu a busca por métodos de diagnósticos, o interesse de novo pela patologia, o que foi corroborado pelo aumento do número de casos de autismo. Então, o aumento de casos, recentemente, se deve aos trabalhos da Lorna Wing, com o espectro do autismo e com a mudança de perspectiva, e do interesse em relação à patologia."

O médico diz que, além do aumento de diagnóstico, os casos de TEA também têm sido mais comuns na população. "Estão nascendo mais crianças com o transtorno. A explicação disso ainda não é totalmente balizada, mas acredita-se que seja uma conjunção de genes. Na população existem vários genes, que isoladamente podem levar a alguns sinais do autismo. Quando ocorre casamentos, onde esses genes se encontram, aí você tem mais manifestação. Existem outras teorias, mas essa é a que por enquanto explica melhor o aumento do número de casos."

"Nos anos de 1980, 1990, tinha um caso de autismo para cada 800 pessoas. Depois, passou para um caso a cada 400 pessoas. Hoje em dia, esse número está chegando na casa de um para 50. Então, aumentou a quantia de pessoas com autismo, mas também aumentou o método diagnóstico. Com o espectro, onde você pega nuances mais leves do comportamento e as valoriza, há também o aumento por causa do diagnóstico", explica.

SENTIDO

Cofundadora da torcida Autistas Alvinegros, Juliana Prado, de 31 anos, descobriu que tinha autismo só aos 28. "A informação está chegando agora e ficando mais fácil diagnosticar. Sou de 1992 e Saúde Mental antigamente não era mencionada, ainda mais se você fosse de família de baixa renda, não existia nem atendimento psicológico."

"Eu sempre fui uma criança tímida, brincava sozinha. Na adolescência, era a mesma coisa, eu sempre tinha no máximo dois ou três amigos e era tida como antissocial. Na fase adulta, tive várias crises identitárias e, pesquisando, chegava a várias conclusões sobre mim, mas não tinha um diagnóstico. Até que conheci um amigo que tinha sido diagnosticado com autismo já adulto. Ele disse para eu ir atrás de um profissional. Eu fui e descobri que tinha", conta ela.

Juliana diz que o diagnóstico, mesmo na fase adulta, é fundamental. "Quando o diagnóstico vem na infância, tem um acompanhamento. Eu sofri tudo por não saber que tinha e cheguei à fase adulta, mas fui atrás do diagnóstico para me entender. Eu me culpava por ser diferente e foi totalmente libertador eu me entender sobre ser quem eu sou. Mesmo tardiamente, o diagnóstico é fundamental."

Sobre a Autistas Alvinegros, Juliana diz que a ideia surgiu para levar informação de acessibilidade a outros torcedores do Corinthians. "A gente teve a ideia da nossa torcida porque na Neo Química Arena tinha um espaço para pessoas com autismo. Tivemos a ideia de criar a torcida para divulgar o espaço. Eu só conheci o espaço depois do meu diagnóstico. Também foi para conhecer outros autistas adultos, porque somos meio invisíveis, e também para pais de crianças que tiveram diagnóstico. Mas tomou uma proporção, chamamos a atenção de várias pessoas e tem dado certo, outros estádios já têm projetos para salas sensoriais."

Também fundador da torcida Autistas Alvinegros, Rafael Souza Lopes tem 36 anos e recebeu o diagnóstico aos 33. "Eu comecei a pesquisar sobre autismo por causa do meu sobrinho, que já tinha o diagnóstico. Pesquisando sobre o assunto, eu comecei a me encaixar nos sinais", conta.

"Descobrir o autismo, mesmo que tardiamente, foi uma libertação, por saber que todas as minha dificuldades tinham um nome. Hoje consigo, mesmo com as dificuldades, ser uma pessoa que tem autonomia e vive uma vida melhor", relata.

Sob o lema "respeito, empatia & inclusão", o projeto da torcida uniu o amor pelo clube à luta pela acessibilidade. "Os Autistas Alvinegros surgiram pelo meu amor pelo Corinthians, por frequentar os jogos desde a infância e por me descobrir autista depois de adulto."

DIAGNÓSTICO

O neurologista David Willian Silva explica que as avaliações são clínicas e não há um exame ou constante nos diagnósticos dentro do espectro autista. "No autismo cada caso é um caso sempre. Claro que existem alguns sintomas que são mais ou menos indicativos, mas se a gente for analisar isoladamente, todos nós seremos autistas. Um pouco de seletividade, um pouco de contingência social, um pouco de dificuldade com linguagem, é muito difícil achar uma pessoa que não tenha nenhuma dessas condições. O que vale no diagnóstico do autismo é a associação dessas condições e o prejuízo, obrigatoriamente."

David também fala que uma pessoa, quando descobre tardiamente o TEA, já passou por diversas situações de adaptação, então as terapias, aplicadas em crianças, já não têm efeito. "O ideal sempre é ter o diagnóstico mais precoce, porque aí você consegue instituir a estimulação mais precoce e você consegue um benefício no comportamento. Depois de adulto, isso já é bastante reduzido em quantidade e qualidade."

O acesso ao atendimento em Saúde Mental vem mudando e sendo ampliado nos últimos anos. Por conta disso, muitas pessoas que durante a infância não tiveram acesso a esse atendimento, hoje têm diagnósticos, que, ainda que tardios, mudam a forma como enxergam o mundo e enxergam a si no mundo. Um desses diagnósticos que não era muito comum até pouco tempo atrás, mas se tornou mais acessível, é o do transtorno do espectro autista (TEA). E, recentemente, esse reconhecimento tardio ganhou repercussão, após pessoas famosas, como a atriz Letícia Sabatella e o humorista Danilo Gentili, terem o diagnóstico.

Neurologista da Apae Jundiaí, David Willian Silva diz que houve mudança na perspectiva do diagnóstico de autismo a partir dos trabalhos da psiquiatra inglesa Lorna Wing, no início dos anos 2000. "Surgiu a busca por métodos de diagnósticos, o interesse de novo pela patologia, o que foi corroborado pelo aumento do número de casos de autismo. Então, o aumento de casos, recentemente, se deve aos trabalhos da Lorna Wing, com o espectro do autismo e com a mudança de perspectiva, e do interesse em relação à patologia."

O médico diz que, além do aumento de diagnóstico, os casos de TEA também têm sido mais comuns na população. "Estão nascendo mais crianças com o transtorno. A explicação disso ainda não é totalmente balizada, mas acredita-se que seja uma conjunção de genes. Na população existem vários genes, que isoladamente podem levar a alguns sinais do autismo. Quando ocorre casamentos, onde esses genes se encontram, aí você tem mais manifestação. Existem outras teorias, mas essa é a que por enquanto explica melhor o aumento do número de casos."

"Nos anos de 1980, 1990, tinha um caso de autismo para cada 800 pessoas. Depois, passou para um caso a cada 400 pessoas. Hoje em dia, esse número está chegando na casa de um para 50. Então, aumentou a quantia de pessoas com autismo, mas também aumentou o método diagnóstico. Com o espectro, onde você pega nuances mais leves do comportamento e as valoriza, há também o aumento por causa do diagnóstico", explica.

SENTIDO

Cofundadora da torcida Autistas Alvinegros, Juliana Prado, de 31 anos, descobriu que tinha autismo só aos 28. "A informação está chegando agora e ficando mais fácil diagnosticar. Sou de 1992 e Saúde Mental antigamente não era mencionada, ainda mais se você fosse de família de baixa renda, não existia nem atendimento psicológico."

"Eu sempre fui uma criança tímida, brincava sozinha. Na adolescência, era a mesma coisa, eu sempre tinha no máximo dois ou três amigos e era tida como antissocial. Na fase adulta, tive várias crises identitárias e, pesquisando, chegava a várias conclusões sobre mim, mas não tinha um diagnóstico. Até que conheci um amigo que tinha sido diagnosticado com autismo já adulto. Ele disse para eu ir atrás de um profissional. Eu fui e descobri que tinha", conta ela.

Juliana diz que o diagnóstico, mesmo na fase adulta, é fundamental. "Quando o diagnóstico vem na infância, tem um acompanhamento. Eu sofri tudo por não saber que tinha e cheguei à fase adulta, mas fui atrás do diagnóstico para me entender. Eu me culpava por ser diferente e foi totalmente libertador eu me entender sobre ser quem eu sou. Mesmo tardiamente, o diagnóstico é fundamental."

Sobre a Autistas Alvinegros, Juliana diz que a ideia surgiu para levar informação de acessibilidade a outros torcedores do Corinthians. "A gente teve a ideia da nossa torcida porque na Neo Química Arena tinha um espaço para pessoas com autismo. Tivemos a ideia de criar a torcida para divulgar o espaço. Eu só conheci o espaço depois do meu diagnóstico. Também foi para conhecer outros autistas adultos, porque somos meio invisíveis, e também para pais de crianças que tiveram diagnóstico. Mas tomou uma proporção, chamamos a atenção de várias pessoas e tem dado certo, outros estádios já têm projetos para salas sensoriais."

Também fundador da torcida Autistas Alvinegros, Rafael Souza Lopes tem 36 anos e recebeu o diagnóstico aos 33. "Eu comecei a pesquisar sobre autismo por causa do meu sobrinho, que já tinha o diagnóstico. Pesquisando sobre o assunto, eu comecei a me encaixar nos sinais", conta.

"Descobrir o autismo, mesmo que tardiamente, foi uma libertação, por saber que todas as minha dificuldades tinham um nome. Hoje consigo, mesmo com as dificuldades, ser uma pessoa que tem autonomia e vive uma vida melhor", relata.

Sob o lema "respeito, empatia & inclusão", o projeto da torcida uniu o amor pelo clube à luta pela acessibilidade. "Os Autistas Alvinegros surgiram pelo meu amor pelo Corinthians, por frequentar os jogos desde a infância e por me descobrir autista depois de adulto."

DIAGNÓSTICO

O neurologista David Willian Silva explica que as avaliações são clínicas e não há um exame ou constante nos diagnósticos dentro do espectro autista. "No autismo cada caso é um caso sempre. Claro que existem alguns sintomas que são mais ou menos indicativos, mas se a gente for analisar isoladamente, todos nós seremos autistas. Um pouco de seletividade, um pouco de contingência social, um pouco de dificuldade com linguagem, é muito difícil achar uma pessoa que não tenha nenhuma dessas condições. O que vale no diagnóstico do autismo é a associação dessas condições e o prejuízo, obrigatoriamente."

David também fala que uma pessoa, quando descobre tardiamente o TEA, já passou por diversas situações de adaptação, então as terapias, aplicadas em crianças, já não têm efeito. "O ideal sempre é ter o diagnóstico mais precoce, porque aí você consegue instituir a estimulação mais precoce e você consegue um benefício no comportamento. Depois de adulto, isso já é bastante reduzido em quantidade e qualidade."

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