Uma fumaça com aroma de menta, frutas ou até chiclete tomou conta de ambientes frequentados por jovens nos últimos anos. Mesmo proibidos no Brasil, os cigarros eletrônicos, sejam 'pods' ou 'vapes', são amplamente consumidos. Podem parecer inofensivos, pois têm sabores e cheiros diversos, mais agradáveis que os do cigarro convencional, mas também possuem nicotina, fazendo com que haja vício e problemas de saúde. E os problemas vão além da falta de ar e tosse, quando o pulmão é afetado.
Thais Souza, de 24 anos, precisou de internação por consequência do uso de cigarro eletrônico. "Há uns 20 dias, comecei a ter algumas queixas, como dor de cabeça, falta de ar e formigamento na perna, mas fui tomando remédio e postergando a procura de um médico. No dia 13, acordei com bastante dor e tomei remédio, mas à noite fiquei muito mal e fui para o hospital. Fiz vários exames e o médico descobriu que eu tinha uma trombose na perna e o princípio de uma embolia pulmonar. Sou saudável, não tenho colesterol, diabetes, mas fazia uso do cigarro eletrônico."
"Muitas pessoas não imaginam que cigarro eletrônico pode dar um AVC, uma embolia. Acham que só afeta o pulmão. Fiquei dois dias na UTI, precisei fazer fisioterapia respiratória e na perna que teve a trombose, porque demorei muito para ir ao hospital. O médico disse que com certeza foi pelo cigarro, tem outros jovens chegando com a mesma queixa, de trombose, por causa do cigarro eletrônico", conta.
O uso do dispositivo por Thais era constante. "Usava com nicotina há três anos, todos os dias. Era um vício mesmo. Não tinha sintomas de fumante, como tosse, só tinha cansaço, pra subir escada, na academia. Mas depois do cansaço, veio a dor de cabeça e em seguida a perna formigando, como se fosse uma cãibra. Cigarro eletrônico virou uma moda que virou um vício e é muito fácil encontrar, principalmente em São Paulo", relata.
CONSEQUÊNCIAS
Pneumologista e professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), Eduardo Leme diz que a essência engana. "A maioria dos cigarros eletrônicos tem uma essência, que pode ter diversos sabores, não é como o cigarro convencional. Isso é atrativo para crianças e jovens. Mas cigarro eletrônico é proibido no Brasil, então todas as essências são de contrabando. Como tal, não sabemos os componentes presentes ali e muitos fazem mal à saúde."
O médico lembra que os 'pods' e 'vapes' têm nicotina, como o cigarro convencional. "Cigarro eletrônico tem menos venenos que o convencional, mas tem nicotina, que causa vício e age em diversos locais do organismo, não só no pulmão. A nicotina se liga a receptores do cérebro e dá a sensação que o fumante precisa, mas uma das coisas que a substância faz é criar uma contração das artérias, diminuindo a oxigenação de todos os órgãos, pulmão, coração, cérebro, e pode causar uma inflamação que leva à formação de trombose. É mais raro, mas pode acontecer."
Eduardo diz que os cigarros eletrônicos utilizam sais de nicotina, que são mais viciantes que a pasta de nicotina, presente em cigarros convencionais. "Os jovens estão ficando viciados. Como o cigarro eletrônico é mais caro e mais difícil de encontrar, logo esses jovens vão migrar para o cigarro tradicional", acredita.
O pneumologista também chama atenção para o limite de uso. "No cigarro, o fumante dá de 10 a 12 tragadas e ele acaba. Dificilmente ele ascende outro em seguida, fuma novamente depois de um tempo. Os eletrônicos podem ter de 100 a mais de 1 mil tragadas, então o jovem pode dar 100 tragadas de uma vez, fuma mais nicotina do que com o cigarro convencional", explica o médico, lembrando que os cigarros eletrônicos surgiram como aliados para quem desejava parar de fumar, mas hoje acabam incentivando o hábito.
Comentários
1 Comentários
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LUIZ CARLOS PAULI 28/08/2023Meu Deus do céu, doenças como as citadas, estão acontecendo em jovens saudáveis e não fumantes, mas o culpado é o cigarro eletrônico. Milhoes fumam, e um caso, é apenas para difamar. A campanha contra o cigarro chegou a aberração.