RELACIONAMENTO

Discutir finanças pode fortalecer ou enfraquecer união

Para o bem, com objetivos em comum, ou para o mal, com conflitos de interesses, as finanças são vitais na vida a dois

Por Nathália Sousa | 28/05/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Arquivo pessoal

Patrícia Viana e Ronaldo de Oliveira compartilham as finanças desde o início do relacionamento
Patrícia Viana e Ronaldo de Oliveira compartilham as finanças desde o início do relacionamento

A premissa de que o casal que sonha junto cresce junto funciona como um elo em muitos relacionamentos amorosos. O suporte mútuo e o compartilhamento de êxitos e "perrengues" podem fortalecer a relação. Por outro lado, a vida financeira do casal também pode ser o motivo de término de casamentos. Sobre dividir absolutamente tudo ou manter individualidades, não há "receita de bolo", mas esse tema é um dos que funcionam melhor quando há diálogo entre as partes.

Contadora, Patrícia Viana é casada há oito anos com Ronaldo Lira de Oliveira e, desde o início do namoro, eles compartilham a vida financeira com objetivos em comum. "Desde o início do namoro, com o objetivo de casar, nós já compartilhávamos nossas finanças. Para alcançar nosso objetivo, sabíamos que o planejamento unificado era a maneira mais simples para conquistar. Na época, nossa renda era muito pouca e ainda pagávamos aluguel e faculdade, então, nós montamos um plano financeiro para as contas fixas e o saldo era guardado para atingir nossas metas. Conseguimos nos casar e depois veio o sonho de comprar nosso apartamento."

Com um filho de cinco anos, o casal, segundo Patrícia, preza pelo crescimento juntos. "Sempre compartilhamos nossas finanças. Isso nos fez crescer como casal, por isso é importante que haja apenas um plano financeiro na casa, porque isso gera união e crescimento ao casal, que trabalhará por objetivos em comum. Falo isso por experiência em meu relacionamento conjugal. Entendo que orçamentos separados significam objetivos separados. Como isso poderá aproximar o casal?", questiona ela.

Para a contadora, os objetivos individuais também entram na relação a dois. "Quando queremos comprar algo pessoal, compartilhamos e incorporamos ao planejamento financeiro daquele período e, quando possível, compramos. Na verdade, quando há um relacionamento verdadeiro entre o casal, não há a preocupação se o outro ganha mais ou menos, pois há apenas uma fonte de renda, que serve para suprir e realizar as demandas da casa e os sonhos se tornam apenas um."

CONFIANÇA

Educador financeiro e coordenador da pós-graduação do UniAnchieta, Filipe Pires ressalta que o relacionamento não é uma sociedade. "Para começar, é fundamental que o casamento não seja pautado por questões econômicas, deveria ter outras variáveis para que haja sucesso, porque é uma convivência profunda e pode haver a vinda de filhos, a responsabilidade da criação. É difícil comparar o casamento a uma sociedade, em que dois entes têm um esforço contínuo em um único foco, porque há outros fatores. Não é pura e simplesmente business."

"Mas, atualmente, há tendência de outras sinergias além de apenas a premissa do amor no casamento. Essa sinergia se inicia com corresponsabilidade e não adianta ter uma parte 100% focada em metas se não há a contrapartida do outro lado, também dedicada a esse foco. Casais juntos há muito tempo tendem a ter os mesmos focos, como trocar de carro ou planejar uma viagem. A tendência é haver conflito caso não haja um acordo prévio. Casamentos que ocorrem apenas na premissa financeira tendem a não perdurar, porque benefícios e focos mudam com o tempo", explica ele.

Por outro lado, para Filipe, assim como para Patrícia, o compartilhamento financeiro e os objetivos em comum são um fator que fortalece a união. "O casal que sonha junto tende a durar mais, porque consegue atribuir algo extra ao potencial da relação, que é a realização pessoal ou do casal. Na minha relação, um dá subsídio e força ao outro para objetivos pessoais ligados ao casal", exemplifica.

E o relacionamento amoroso, assim como outros, deve ser pautado em acordos e diálogos, pois, segundo o educador financeiro, "combinado não sai caro". "Se o casal tem uma conta, tem corresponsabilidades. Os casais precisam estar fundamentados na entrega e confiança. Pode um dos membros ter potencial maior de gerar receita e outro de administrar, há outros casos em que os dois geram renda e administram. O problema é quando um só gera e administra e o outro gasta e satisfaz apenas a sua realização individual. Há diversos casos, mas é importante que haja equilíbrio, dentro da realização das metas do casal. Muitas vezes não há transparência e um cônjuge não sabe quanto o outro ganha, mas isso não é ruim, desde que esteja acordado entre ambos. Cada um cede uma quantia e, o que sobra de cada lado, cada um faz o que preferir. Não existe regra, existem acordos, lidar com a transparência e com esses focos conjuntos", diz.

CONVÍVIO

Durante a pandemia, com o isolamento social, o número de divórcios aumentou em todo o país. No entanto, a questão financeira ainda é determinante em relacionamentos. Em 2020, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma pesquisa apontando que, na década entre 2010 e 2020, 57% dos casamentos acabaram por questões financeiras no Brasil. Os outros dois principais motivos foram a rotina e a falta de tempo como causas das separações conjugais.

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1 COMENTÁRIOS

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  • Josineide Oliveira Lira Bezerra
    01/06/2023
    Compartilho minhas finanças com meu esposo Joel Bezerra. Sou casada há oito anos e até o momento está dando certo.