Opinião

O primeiro advogado

25/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Não somos devotos de nossa História. A despeito de pesquisas levadas a efeito por Alceu de Toledo Pontes, Nelson Foot, Roberto Franco Bueno, os irmãos Mazzuia - Inocêncio e Mário - e, mais recentemente, Luiz Haroldo Gomes de Soutello, falta muita pesquisa sobre a História de Jundiaí.

Estes dias recebi notícia de meu confrade da Academia Paulista de Letras, o sociólogo José de Souza Martins, de que em 1924, Jundiaí foi conservadora e contra os rebeldes e até se pensou em invadir Campinas. A filha que se desenvolveu mais do que a mãe. A "Campinas de Nossa Senhora da Conceição do Mato Grosso de Jundiaí" é hoje uma verdadeira capital. Tão desenvolvida quanto, sem os inconvenientes da insensata conurbação chamada São Paulo.

Assim, não se tem certeza qual foi o primeiro advogado jundiaiense. Quem teria sido? Teria estudado em Coimbra, já que a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco foi criada em 1827 e começou a funcionar em 1828, praticamente duzentos anos depois do nascimento de nossa cidade?

Quando se lê o saboroso livro "A Academia de São Paulo - Tradições e Reminiscências", de Almeida Nogueira, encontra-se menção ao primeiro jundiaiense que foi aluno das Arcadas. Antonio Joaquim de Sampaio Peixoto, nascido em Jundiaí em 1808, filho de José Joaquim Sampaio Peixoto. Integrou a turma de 1830 a 1834 e exerceu a advocacia em Campinas. Ali também foi Juiz de órfãos em 1939, promotor público e, em 1854, juiz municipal. Depois voltou à advocacia.

Por sua cultura jurídica, recebia consultas de várias localidades da Província de São Paulo e foi assessor de muitos juízes leigos na região. Diz-se que em certa ocasião, solicitado por um juiz suplente, de Moji-Mirim, elaborou minuta de uma sentença versando sobre questão de terras. O juiz se serviu dela, pois era leigo e recebeu muitos cumprimentos pela excelência do trabalho.

Surgindo outro processo de natureza diversa, o mesmo juiz leigo, muito confiante na produção de Antonio Joaquim de Sampaio Peixoto, reproduziu a sentença tão elogiada. Só mudou os nomes dos litigantes. Só que deu causa a um grande alvoroço no Fórum. A sentença era absurda, pois os autos versavam outro tema.

Alvo de tantos comentários, o juiz leigo não se constrangeu. Propalou a todos que a sentença lhe fora entregue pelo Dr. Sampaio.

O advogado jundiaiense, que fez toda a sua vida em Campinas, foi deputado à Assembleia Provincial de São Paulo, no biênio de 1844-1845 e pertencia à chapa conservadora. Seu filho, também Sampaio Peixoto, era conhecido como "Sampainho", professor de pintura em Campinas e o primeiro construtor da Matriz nova da Cidade das Andorinhas, hoje Catedral de Nossa Senhora da Conceição.

Uma cidade que surgiu no século XVII contou com inúmeras pessoas que atuaram no sentido de torná-la mais civilizada, mais moderna, mais humana. Muitos outros advogados devem ter aqui profligado seu ofício, que não é dos mais tranquilos. As pessoas procuram o advogado quando o problema já se agudizou. Poucos os que se servem de uma atuação preventiva, que o consultam antes de firmar um contrato, de celebrar um negócio. Em seguida, ante o insucesso, culpam o advogado que não soube corrigir o seu erro.

Lembro-me da figura de José Romeiro Pereira, advogado estimadíssimo, figura de proa, chegou a ocupar duas Secretarias Estaduais em seu tempo. Incumbiria à OAB local, hoje presidida pelo dinâmico Gustavo Ungaro, devotar atenção para a elaboração da história da advocacia jundiaiense. Talvez estimulando um concurso. Quem sabe!

José Renato Nalini é diretor-geral de universidade, docente da pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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