DENÚNCIA

Acesso à medicação por jovem expõe negligência em CAPS

A adolescente precisou ser levada às pressas para o HU após ingerir dez comprimidos de tranquilizante; prefeitura confirma o caso

Por Rafaela Silva Ferreira | 23/03/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Jornal de Jundiaí

Divulgação

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Na última sexta-feira (17), uma garota de 16 anos, assistida pela Associação e Comunidade Casa de Nazaré, precisou ser levada às pressas para o Hospital Universitário (HU) após ingerir dez comprimidos de um tranquilizante - atentando contra sua vida - dentro do Centro de Atendimento Psicossocial de Jundiaí (CAPS IJ). No momento, ela estava sob efeito da droga K2 (tipo de maconha sintética, que tem o "efeito zumbi"), consumida nas redondezas da instituição.

A Prefeitura de Jundiaí confirmou o caso e disse que a equipe do CAPS IJ receberá intensificação das medidas de segurança e protocolos internos (veja nota completa da Prefeitura no fim da matéria).

Segundo a jornalista Ana Paula Guimarães, madrinha afetiva da garota, o episódio se deu após a menor fugir da responsabilidade do CAPS IJ e fazer uso da droga.

"O pior é que, antes disso tudo acontecer, ela ficou internada a semana do dia 13 inteira no CAPS IJ, numa tentativa de desintoxicação. Mas o local não tem estruturas para serviço de internação. Eles tomam esses tipos de decisões no desespero. Agora, ela está comigo, na minha casa, por alguns dias", relata Ana. "Ela [a adolescente] ficou internada até o sábado (18) no HU. Então, acordou num efeito rebote, agitada e procurando por mais drogas."

A jornalista conta que esse é seu terceiro apadrinhamento afetivo, sendo participante do programa desde 2018, ano em que teve seu primeiro afilhado que também frequentava o CAPS IJ. "Acontece que desde essa época, eu percebo alguns erros na administração [do CAPS], como computadores, celulares e redes sociais sem o devido acompanhamento. Porque, claro, quando os adolescentes estão nessas situações envolvendo vícios, por exemplo, não podem ter acesso ilimitado ao mundo externo."

Para Ana Paula, o Centro de Atendimento não presta o serviço esperado. "É péssimo porque os jovens usam a liberdade para o mal. E, sem o devido monitoramento, eles podem sair a hora que quiserem, pegar drogas e voltarem distribuindo para os demais. Coisa que já acontece." Ainda em relato, a jornalista afirma que já viu fotos da sua afilhada beijando outras garotas no banheiro. "Eles se beijam, usam drogas e combinam de se matar. Os adolescentes querem ficar lá porque tudo é muito permissível. Na Casa de Acolhimento não é assim."

A menor deverá permanecer com Ana Paula até hoje e depois voltará para a Casa de Nazaré. "Meu trabalho como madrinha é dar amor e fazer coisas com domínio familiar. Os serviços que o CAPS IJ oferece são necessários, mas é nítido que precisa de uma nova administração e de um melhor desenvolvimento da ideia. Minha intenção é fazer todos saberem o que acontece lá dentro. Porque, às vezes, nem a Prefeitura está ciente disso."

CASA DE NAZARÉ

Maria Aparecida da Silva, coordenadora da Associação e Comunidade Casa Nazaré, também tem queixas sobre o atendimento do local. "Sobre esse episódio, eu tenho a dizer que a questão da saúde mental de crianças e adolescentes explodiu no mundo todo e em Jundiaí não é diferente. Essa menor está conosco há algum tempo, tem condições psiquiátricas diagnosticadas e já havia ficado uma semana internada no CAPS IJ. Foi nesse período que ela fez uso de mais drogas. Isso é sério, porque eu entendo que se a pessoa está internada ali, sendo vigiada 24 horas, não tem como se drogar."

Segundo Maria, no Carnaval a garota também fez uso de drogas, o que causou uma desestruturação psicológica.

Maria Aparecida afirma que, segundo informações do próprio CAPS IJ, o medicamento tranquilizante não foi adquirido na farmácia da instituição. "Havia uma mãe em atendimento, que portava esses comprimidos. A menor os furtou", explica a coordenadora.

"Enfim, reconheço e me solidarizo com os profissionais do CAPS IJ e do HU, que fizeram o possível para cuidar de toda a situação. Mas a falta de funcionários, já que o serviço não é 24 horas como é necessário para este atendimento, deixa a desejar. Conhecemos o que é trabalhar em poder público. Sabemos que dificilmente conseguimos levantar questões como essas contra o próprio espaço. Mas é uma situação grave. Essa droga K2 está atingindo nossos adolescentes porque ela é barata e vem circulando entre os jovens com menor poder aquisitivo. Essa menina, depois de fazer o uso, mudou completamente do que era. O HU e o CAPS IJ têm bons profissionais, volto a ressaltar. Mas chega uma hora que ninguém dá conta de tudo isso", finaliza.

PREFEITURA

A Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS), a partir da Coordenação de Saúde Mental, informa que a equipe identificou a ocorrência imediatamente e realizou os atendimentos necessários, inclusive com o acionamento do SAMU. Não houve desdobramentos graves para com a saúde da adolescente, que já é atendida no CAPS IJ, e procurou o serviço relatando que havia feito uso de K2, anteriormente à sua chegada. A ingestão da medicação aconteceu por acesso a um consultório, onde estava sendo feita uma prescrição medicamentosa. A equipe de atendimento recebe treinamento frequente para o atendimento e cuidado especializado para crianças e adolescentes com sofrimento psíquico, inclusive aqueles que fazem uso de álcool e outras drogas. Em decorrência da situação, a equipe receberá intensificação das medidas de segurança e protocolos internos.

2 COMENTÁRIOS

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  • Targino Praxedes
    27/03/2023
    Infelizmente hoje às drogas está acabando com nossos jovens.
  • Jalmes
    26/03/2023
    Tudo errado. Primeiro que o caps não funciona em sistema de internação, os usuários são acolhidos segundo seu desejo, principalmente nos casos em que não existe qualquer tipo de desorientação ou desorganização psíquica. Outra coisa, a pessoa usa drogas na vida, esse é o problema dela, aí a questão de risco ocorre pq ela resolve usar droga no serviço? Como controla? Revista? Câmera e vigia no banheiro? Segurança? Vai ter alguém seguindo os usuários em todos os lugares? Outra coisa é co.o uma instituição pode ser responsabilizada se uma pessoa furta medicações e usa para tirar a própria vida... Se não foi da farmácia Da unidade, como isso é uma negligência? Que tipo de supervisão sobre os usuários é essa q consegue prevenir esse tipo de episódio, não funcionando num sistema policialesco? Se ela não tentasse se matar no caps, tentaria na rua, é nesse sentido, talvez ela só esteja viva pq o lugar onde ela tentoú foi em uma instituição onde os profissionais estavam prontos pra dar assistência...