EXCLUSIVA

'Não vamos tolerar invasão a propriedades privadas', diz vice-governador

Felício Ramuth concedeu entrevista exclusiva em que falou sobre a falta de vagas para internação na saúde pública e o desafio de enfrentar a questão dos moradores de rua

Por N. Fradique e Denise Silva | 21/03/2023 | Tempo de leitura: 4 min
da Redação

Dirceu Garcia/GCN/Sampi

O vice-governador Felício Ramuth e o CEO da rede Sampi em entrevista na tarde desta terça-feira
O vice-governador Felício Ramuth e o CEO da rede Sampi em entrevista na tarde desta terça-feira

O vice-governador do Estado de São Paulo, Felício Ramuth (PSD), esteve em Franca nesta terça-feira, 21, para participar de um evento com cafeicultores na parte da manhã. No começo da tarde, concedeu uma entrevista exclusiva ao portal GCN/Sampi e à rádio Difusora de Franca.

Sem se esquivar de nenhum questionamento, o vice-governador paulista falou sobre a possível privatização da Sabesp, sobre o desafio de garantir leitos de internação para os pacientes da saúde pública no estado e fazer andar a fila das cirurgias eletivas, as dificuldades de efetivar um trabalho junto aos moradores em situação de rua - principalmente em casos como da cracolândia, na Capital -, que o trem intercidades entre Campinas e a capital vai sair do papel, além de destacar o combate que o governo pretende promover à invasão de propriedades particulares, mesmo que improdutivas, como acontece em ações do MST (Movimento dos Sem Terra).

Muito articulado, Ramuth não evitou nenhum assunto polêmico. “Não vamos tolerar no governo Tarcísio invasão a propriedades privadas. Vamos agir com rigor”, sentenciou. “Não tem ato antidemocrático pior do que desrespeitar a lei. Invadir terras produtivas, invadir terras, é desrespeitar a lei. Agora, manifestação, isso faz parte”.

Na região de Franca, na cidade de Restinga, está situado o assentamento Boa Sorte, que tem origem em uma ação do MST em uma área improdutiva, originalmente da Fepasa. Questionado se mesmo em casos como este, em que uma área que a população muitas vezes nem tem clareza sobre a propriedade, as ações do MST não poderiam levar o assunto ao debate, o vice-governador disse que o governo pode oferecer terras da sua propriedade para assentamentos, Felício se mostrou contrário às ocupações. “O governo federal pode fazer isso (oferecer a área). Tem instrumentos. Pode fazer isso. Lá em São José dos Campos nós temos um assentamento. É natural. Desde que ela nasça desse jeito (sem invasão) e que possa haver manifestações (protestos, sem ocupar), busca desse direito, mas de forma ordeira e sem invasão”, disse. “Afinal de contas, o que vale para a direita tem que valer para a esquerda”.


Saúde pública
O vice-governador informou que há 5 mil leitos ociosos em todo o Estado e que o serviço está mal distribuído.  “Infelizmente, o que a gente tem visto é uma má distribuição de leitos, com muitos leitos ociosos no Estado. Durante a pandemia eu tenho certeza que Franca tinha mais leitos disponíveis do que tem hoje. Mais de 5 mil leitos já foram detectados ociosos no Estado, que teriam toda estrutura, com custeio, para retomar a utilização. Não precisa construir nada novo. A gente acredita nessa reengenharia dos leitos e dos atendimentos, inclusive sobre cirurgias eletivas”, disse Ramuth.

Felício Ramuth disse que o Estado tem que usar a criatividade e que o sistema de regulação de vagas será alterado. “Temos que regionalizar a Cross (Central Reguladora de Ofertas de Serviços de Saúde). O sistema era para ser inteligente, mas não é. Eu conheço porque fui prefeito (de São José dos Campos). A determinação do nosso secretário de Saúde é que o serviço seja regionalizado da forma correta. Também tem muitas Santas Casas mal administradas, onde tinha desperdícios de recursos e a gente conhece várias histórias. Mas Santas Casas bem administradas, bem geridas e profissionalizadas, têm que existir essa relação de equidade com também as Organizações Sociais (OS)”.

Apesar de sinalizar que novas construções não são necessárias em muitos casos, Felício reafirmou que o hospital estadual de Franca está mantido, que é necessário e garantiu que as obras vão continuar.

Sabesp
O vice-governador, que também é presidente do Comitê de Desestatização do Governo, reafirmou que há um estudo de privatização da Sabesp em curso. “Nós contratamos um estudo sobre a privatização da Sabesp. Esse estudo tem que levar duas premissas: primeiro, baixar o preço da tarifa. Segundo, (alcançar) a universalização, com 100% de tratamento de esgoto e 100% tratamento de água em todas as cidades atendidas pela Sabesp. Hoje a lei exige que seja até 2038, nós queremos antecipar para 2032. Tem muitas cidades que a Sabesp atende bem, mas tem muitas cidades que tem pouquíssimos volumes de percentuais de esgoto tratado”, disse Ramuth.

Moradores de rua
Felício disse que o Estado vai incrementar ações nas áreas de Segurança e Social, mas que disse essas ações precisam ser implantadas em conjunto com os municípios, principalmente na questão de moradores de rua. “O Governador vai investir em inteligência, com recursos, com abordagens qualificadas e tratamentos. Segundo levantamento, 40% dessas pessoas têm vontade de deixar a cena aberta de uso (de drogas) para serem acolhidas em um sistema de tratamento. Vamos integrar os serviços do Estado com os serviços do município e entidades que já prestam esses serviços”, explicou.

Faz parte do plano criar um complexo sistema de câmeras de segurança no perímetro da Cracolândia para permitir que eventuais procurados pela justiça sejam imediatamente identificados. É um sistema parecido com o que Felício implantou enquanto prefeito de São José dos Campos. Haverá, ainda, a instalação de um hub (espécie de Central), com espaço para braços da igrejas Católica e Evangélica que atuam no tratamento e assistência da população em situação de rua, além de abrir espaço também para ONGs que atuam com política de redução de danos. “Não é um desafio fácil, mas vamos fazer”.

5 COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.

  • José Roberto
    22/03/2023
    As refinarias privatizadas da Bahia e do Amazonas cobram 11% a mais em média da gasolina. Privatização não vai abaixar o preço. A Sabesp tem ações na bolsa de valores. Já é uma empresa mista. Não há necessidade de privatização. Monopólios privados fazem o preço disparar!!!
  • Darsio
    22/03/2023
    O agropecuarista que age dentro das leis, que respeita a legislação ambiental e que torna a sua terra produtiva, deve sim ter toda a proteção por parte do poder público. Mas, e o que dizer daquele que grilou as terras, que desmata e que usa a terra apenas para especular? Diz a CF que, terra grilada, improdutiva e que serve apenas a especulação, pode e deve sim ser usada em reforma agrária. Mas, porque nada disso acontece? E, o que dizer de agropecuaristas que, ignorando a Lei Áurea, insistem em usar trabalho escravo. Isso pode, vice-governador? Afinal, a história tem nos mostrado que a polícia militar serve apenas para bater e mandar bala apenas em pretos, putas e pobres.
  • Jeferson Neu
    22/03/2023
    Engraçado, o Felício diz que não precisa construir nada na área da saúde do Estado de SP. Logo do lado de São José dos Campos, Jacareí é a única cidade com população acima de 200 mil habitantes em São Paulo sem nenhum equipamento de saúde operado pelo governo estadual. Nem sequer um AME tem em Jacareí. O próprio AME de São José dos Campos é sobrecarregado pela demanda de Jacareí e entorno e em Jacareí tem problemas graves no atendimento. Vamos acordar para a realidade Felício?
  • JANAINA
    21/03/2023
    O que não tolera invasões de propriedades privadas legalizadas não é um governo, são as leis, poucos imperativos legais são tão explícitos nos nossos códigos civis. E a ação para impedir é retirar invasores tbm não são de indivíduos ou grupos privados, continua sendo os princípios legais e os nossos códigos, quando um invasor tiver que desocupar propriedades privadas ele deve entender que não é por ação privada, é por ação do Estado. Temos leis, tos códigos, temos tribunais, é o princípio das leis que devem reger uma sociedade democrática e isso fica fácil de entender quando alguém sofre o esbulho do que é seu, seja esse um milhão ou um centavo.
  • CARLOS VAGNER PEREIRA DIAS
    21/03/2023
    Em relação à privatização da Sabesp, um dos problemas que eu vejo como leigo, é que hoje quem banca as cidades menores (recursos financeiros), são as cidades maiores. Será que o setor privado vai ter esse mesmo \"carinho\" com elas ou vão querer investir apenas nas cidades rentosas, que dão lucro para a Sabesp. Essa é a questão que tem que ser bem explicada.