DISTÚRBIO

Sonambulismo traz riscos e requer cuidados neurológicos

Alguns problemas médicos também podem contribuir para o sonambulismo, como epilepsia, depressão e ansiedade

Por Rafaela Silva Ferreira | 12/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Jornal de Jundiaí

Arquivo Pessoal

Alexandre Martori, neurologista, explica o que é o sono não REM
Alexandre Martori, neurologista, explica o que é o sono não REM

O sonambulismo é um dos transtornos do sono caracterizado por uma condição de adormecimento profundo, o qual a pessoa se levanta, caminha e realiza atividades como se estivesse acordada. Estima-se que cerca de 1 em cada 20 pessoas sofram de sonambulismo em alguma etapa da vida. O transtorno é mais comum em crianças, principalmente entre quatro e oito anos de idade, embora possa ocorrer em qualquer período.

De acordo com o médico neurologista, especialista em medicina do sono, Alexandre Henrique Martori, o sonambulismo é uma parassonia de sono não REM. "É uma manifestação física indesejável que acontece durante o sono. O sonambulismo possui estágios de sono não REM [sono sem movimento rápido dos olhos] que a gente divide em N1, N2 e N3. Os estágios N1 e N2 são mais superficiais. É o estágio de sono REM que temos os movimentos rápidos dos olhos. Geralmente, dizemos que estão mais associados aos sonhos e quando temos o maior estado de relaxamento do nosso corpo."

O sonambulismo ocorre no estágio de sono N3 e na transição para REM, principalmente na primeira metade da noite, que é quando geralmente as pessoas têm uma concentração maior de sono. "Acontece que o cérebro de uma pessoa em estado de sonambulismo tem um 'despertar parcial' desse sono não REM, mas está em estágio N3 ainda", explica o neurologista.

José Carlos Pereira Junior, professor de pediatria na Faculdade de Medicina, especialista em sono e autor do livro Distúrbios do sono na criança e no adolescente: uma Abordagem Para Pediatras, acrescenta: "O córtex cerebral regula a necessidade do sono. Mas são as estruturas encefálicas que deveriam manter a pessoa dormindo".

Dr. Pereirinha, como é conhecido, também diz que o sonambulismo é o "distúrbio extremo". "Existem outros distúrbios do sono que podem ser desencadeados antes do sonambulismo. Síndrome do sono inquieto e síndrome das pernas inquietas são exemplos disso." O especialista ainda cita maneiras de evitar os episódios. "Não assistir filmes muito chamativos ou que deixe o cérebro muito agitado. Remédios energéticos podem ser prejudiciais na incapacidade de nos imobilizar nos sonos, também. Porque todas as noites sonhamos, e se não estamos com as musculaturas paradas totalmente, vivenciamos a experiência."

SONÂMBULOS

Camila da Silva, 20 anos, sofre do distúrbio desde os 12. Segundo ela, já acordou muitas vezes sonâmbula andando pelos cômodos da casa. "É muito frequente. Há vezes que, segundo meu namorado, faço gestos aleatórios e me levanto da cama em posições estranhas."

Embora as experiências pareçam "assustadoras", Camila nunca experimentou algum tipo de tratamento para o distúrbio. "Eu sei que existem vários tratamentos, mas nunca fui atrás de nenhum. Sei algumas coisas sobre técnicas holísticas, como meditação e acupuntura, mas ninguém também nunca me incentivou a experimentar", ela conta.

Há vários fatores que podem contribuir para a causa do sonambulismo, os quais variam de pessoa para pessoa. No caso de Camila, às vezes ela acredita que seu subconsciente não "desliga". "Eu deito na cama e tenho a sensação que meu cérebro quer me deixar pilhada constantemente. Fora a minha falta de rotina para dormir e, é claro, a ansiedade diagnosticada."

Quando questionada sobre algum episódio curioso durante o sonambulismo, Camila não hesitou em citar. "Houve uma vez que minha mãe me contou um caso. Na época, ela chegava tarde do serviço, por volta das 2h da madrugada. E sempre ia no meu quarto e da minha irmã verificar se estávamos cobertas e bem. Ela conta que um dia eu simplesmente me levantei da cama, falei e sorri para ela. Logo depois eu voltei a deitar e dormir como se nada tivesse acontecido. Depois, eu me lembro de acordar e ir usar o banheiro, enquanto ela tomava banho. Ela perguntou o porquê de eu ter falado com ela de olhos fechados, e eu disse que não lembrava de nada." A jovem também foi questionada se suas crenças religiosas afetariam um possível diagnóstico científico. "Eu prefiro acreditar que não há nada de sobrenatural, mas simplesmente uma falha na comunicação entre meu cérebro e o restante do meu corpo. Se eu for dar ouvidos a todas as lendas que cercam o sonambulismo, eu juro que nem tento dormir mais [risos]."

Dr. Pereirinha diz que o córtex cerebral regula a necessidade do sono
Dr. Pereirinha diz que o córtex cerebral regula a necessidade do sono

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