31 de dezembro de 2025
TRAGÉDIA EM FRANCA

'Gritavam socorro e eu não podia ajudar', desabafa sobrevivente

Por Laís Bachur | de Franca
| Tempo de leitura: 3 min
Laís Bachur/GCN
Ronaldo Cezar Marques, de 60 anos, que estava no galpão para retirar um equipamento, quando tudo aconteceu

A tragédia registrada na tarde dessa segunda-feira, 29, em Franca, deixou uma pessoa morta e outras duas feridas em meio a uma cena de destruição, medo e desespero. Um sobrevivente da tragédia contou com exclusividade ao portal GCN/Sampi, nesta terça-feira, 30, como tudo aconteceu e os detalhes que viveu no momento do desabamento.

O funcionário Mateus Francisco Pereira, de 31 anos, morreu após o desabamento de um muro e parte do telhado do galpão onde trabalhava, na avenida Rio Branco, na área da antiga fábrica Amazonas, onde funciona o centro de distribuição do Palácio das Ferramentas.

Além dos funcionários, clientes também estavam no local no momento do acidente. Um deles é Ronaldo Cezar Marques, de 60 anos, que estava no galpão para retirar um equipamento quando tudo aconteceu. Ele sobreviveu, mas carrega marcas físicas e emocionais do ocorrido.

“Sou mais uma das vítimas daquele centro de distribuição. Eu estava no lugar errado, na hora errada. Fui só retirar um soprador”, contou Ronaldo, ainda muito abalado.

Segundo ele, no momento do atendimento na guarita, enquanto aguardava o funcionário dar entrada na nota fiscal, a chuva começou de forma leve, mas rapidamente se intensificou. “A chuva ficou forte de repente. A gente entrou para dentro e o vento começou a ficar muito forte”, relembra.

Ronaldo tentou ajudar os funcionários a fechar o primeiro portão do galpão, próximo à guarita, mas não foi possível. “Os funcionários começaram a gritar: ‘solta, solta que o portão vai cair’. E caiu mesmo”, disse.

Logo após a queda do portão, o vento empurrou tudo para o fundo do galpão. O telhado foi arrancado e levantou com força. Em um momento de desespero, Ronaldo tentou correr, mas acabou indo para a lateral da parede. Foi quando a estrutura cedeu.

“A parede caiu em cima de mim, prendeu meu braço. Fiquei prensado pelas estruturas, encostado na parede”, relatou.

Mesmo ferido, ele conseguiu se libertar sozinho. Ao seu lado, uma mulher gritava desesperadamente por socorro. “Ela gritava ‘socorro, socorro’, bem perto de mim. Mas minha mão estava prensada, cortada dos dois lados, a cabeça sangrando muito. Eu não tinha força para ajudar”, contou, emocionado.

Para conseguir sair, Ronaldo precisou remover pedaços de concreto e uma viga que estavam sobre ele. Nesse esforço, sofreu vários ferimentos pelo corpo. “Por isso, rasgou tudo a minha mão. Fiz isso para conseguir sair vivo”, disse.

Após se soltar, ele tentou deixar o local, mas encontrou o portão fechado. “Eu gritava para o porteiro abrir, que eu precisava sair. Ele dizia que não tinha energia para abrir o portão”, contou. Somente depois que conseguiram arrombar o portão e retirar o pino da estrutura foi possível a saída.

Ronaldo entrou no carro e seguiu em direção à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Anita, mas passou mal no caminho, já no bairro Vila Nova. Por sorte, um amigo o encontrou e conseguiu levá-lo até a unidade de saúde. Depois, ele foi transferido para a Santa Casa de Franca, onde recebeu atendimento médico.

Ele sofreu um corte profundo na cabeça, que precisou de pontos, um ferimento grave na mão direita, que perfurou dos dois lados e resultou na fratura de um dedo, além de várias escoriações pelo corpo. Apesar disso, Ronaldo afirma que hoje está fisicamente bem, mas emocionalmente muito abalado.

O que mais o traumatizou foi não conseguir ajudar a mulher que estava ao seu lado. “Essa imagem não sai da minha cabeça. Ela gritava pedindo ajuda e eu não consegui fazer nada”, desabafou.

O acidente

O desabamento ocorreu durante uma forte tempestade, com chuva intensa, vento forte e até granizo. O muro do galpão tombou e, com isso, parte do telhado também caiu, atingindo trabalhadores e clientes que estavam no local.

O Corpo de Bombeiros informou que há fortes indícios de que as condições climáticas tenham contribuído para o colapso da estrutura. No entanto, ainda não há informações oficiais sobre a documentação do imóvel, como alvarás e licenças.

“A nossa preocupação inicial foi totalmente voltada às vítimas. Agora o caso seguirá para apuração”, afirmou a capitã do Corpo de Bombeiros, Sandra Bueno.