Franca chega aos 201 anos, celebrados nesta sexta-feira, 28, exibindo um conjunto de indicadores incomuns para cidades brasileiras de médio porte: uma população amplamente satisfeita, profundamente ligada ao território e inclinada ao otimismo.
A pesquisa Agili, encomendada e custeada pelo Portal GCN/Sampi, foi realizada entre 17 e 19 de novembro com 598 entrevistas. A margem de erro é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%.
O dado mais contundente é a felicidade com a cidade: 96% dos moradores afirmam ser felizes vivendo em Franca. A distribuição desse sentimento é homogênea e atravessa todos os grupos sociais. Homens e mulheres apresentam níveis semelhantes, assim como as faixas etárias - dos jovens de 16 a 24 anos (94,7%) aos moradores de 45 a 59 (96,9%).
A escolaridade tampouco produz diferenças significativas. A felicidade vai de 94,6% entre quem cursou apenas o ensino fundamental a 97% entre os moradores com nível superior.
Territorialmente, o padrão se mantém: Centro (97,8%) e Oeste (96,8%) registram alguns dos índices mais altos. A região Norte, com 94%, ainda assim permanece dentro de um patamar excepcional de aprovação.
As faixas de renda replicam esse quadro. Todos os grupos superam 94% de satisfação, e os moradores com rendimento entre dois e cinco salários-mínimos atingem 98,4%, um dos níveis mais elevados da pesquisa.
Mesmo as diferenças religiosas não criam descontinuidades: católicos (97,1%), evangélicos (95,2%), espíritas (96,3%) e moradores sem religião (96,6%) exibem índices muito próximos de contentamento.
A força desse sentimento aparece também no apego territorial. Quando perguntados se continuariam morando em Franca caso pudessem escolher, 81,4% dos entrevistados disseram que sim. Esse desejo de permanência cresce entre as mulheres (83,3%) e se destaca nas zonas Oeste (82,4%), Sul (82,8%) e no Centro (82,1%).
A vontade de seguir morando em Franca também se expressa nas faixas de renda. Moradores que ganham entre dois e cinco salários-mínimos, faixa expressiva da classe trabalhadora urbana, lideram o desejo de permanência, reforçando a percepção de estabilidade.
Em um cenário nacional marcado por mobilidade crescente e vínculos frágeis, esses índices sugerem uma cidade que mantém laços comunitários fortes.
A expectativa quanto ao futuro segue no mesmo eixo, embora revele algumas nuances. A pesquisa indica que 57% dos moradores se dizem otimistas com o futuro da cidade, enquanto a indiferença aparece em 27,4% e o pessimismo em 12,6%.
Entre os mais jovens, de 16 a 24 anos, o otimismo permanece alto (56,3%), mas o pessimismo cresce para 14,1%, o segundo maior entre as faixas etárias. O mesmo ocorre entre moradores com mais de 60 anos, onde 14,9% expressam visão negativa.
O recorte educacional mostra que o otimismo aumenta conforme sobe a escolaridade. Moradores de nível superior chegam a 59,4% de esperança no futuro, enquanto os de ensino fundamental registram 52,1% — grupo que concentra também o maior percentual de pessimismo (15,6%).
No mapa da cidade, o Leste aparece como a região mais otimista (61,2%). Já o Norte registra os menores índices (53,3%) e o maior contingente de moradores indiferentes (30%), sugerindo uma sensação de maior distanciamento ou ceticismo.
As diferenças por renda repetem esse padrão. Moradores com mais de cinco salários-mínimos apresentam os níveis mais altos de otimismo (62,3%). Já entre os que ganham até um salário-mínimo, a esperança cai para 50% e o pessimismo sobe para 16,7%, o maior entre todas as faixas.
No recorte religioso, espíritas (61,6%) e católicos (56,7%) são os mais otimistas. Evangélicos concentram o maior índice de pessimismo (17,6%), enquanto moradores sem religião têm a maior taxa de indiferença (33,3%).
Se o humor coletivo é positivo, os problemas percebidos pelos moradores são claros e se repetem ao longo de toda a pesquisa.
Quando convidados a apontar o que mais incomoda no dia a dia, moradores em situação de rua (24,4%) aparece no topo. Em seguida, surgem saúde (11,6%), trânsito (7,3%), segurança (7,3%) e ruas esburacadas (2,8%). A administração municipal é citada como incômodo por 2,5% dos entrevistados.
Quando a pergunta muda para “o que precisa mudar com máxima urgência”, saúde também surge na primeira posição, com 23,4% e moradores de rua são a segunda principal preocupação, com 20,6%. Segurança (9%), trânsito (5%) e educação (3,5%) completam o núcleo de prioridades.
A convergência entre incômodo e urgência evidencia uma pauta urbana consistente, que atravessa classes sociais, regiões e faixas etárias.
No campo simbólico, o levantamento identifica os pilares do orgulho francano.
A resposta mais citada é “as pessoas”, com 16,3%, reafirmando o imaginário de um povo simpático, acolhedor, inclusivo, que acompanha a história local. Em seguida aparecem “cidade abençoada” (13,6%), qualidade de vida (7,3%), clima (7,3%) e basquete (4,3%).
São elementos que, combinados, ajudam a explicar a força da identidade local e o sentimento de pertencimento medido em diferentes recortes da pesquisa.
O conjunto dos dados revela uma cidade emocionalmente estável, socialmente coesa e incomodada por problemas claros, concentrados sobretudo em saúde, população de rua, segurança e infraestrutura.
Franca chega aos 201 anos com um estoque elevado de confiança social, enquanto a pauta cotidiana expõe pressões que se acumulam e exigem respostas concretas.
A combinação entre satisfação ampla e demandas persistentes ajuda a compreender o momento: uma população que aprova o lugar onde vive, é feliz com sua cidade, tem orgulho e está otimista, mas que identifica, com nitidez, os pontos onde o cotidiano se desgasta e precisa avançar.