06 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Envelhecer no Brasil: o milagre de quem chega lá

Por Tiago Faggioni Bachur | especial para o GCN/Sampi
| Tempo de leitura: 5 min

1. O tema do ENEM e o espelho da sociedade

Dizem que “Envelhecer é um privilégio que muitos desejam, mas poucos se preparam para merecer.”

Neste último domingo, 9 de novembro de 2025, milhões de jovens brasileiros foram convidados a refletir sobre um tema que, cedo ou tarde, alcança a todos: “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”.

O assunto escolhido pelo ENEM foi um verdadeiro espelho do país. Enquanto os jovens ensaiam planos para o futuro, os idosos travam batalhas diárias com o tempo, a saúde e (por que não dizer?) com o próprio sistema previdenciário.

Num Brasil que parece sempre viver o “agora”, falar de envelhecimento é quase um ato revolucionário. E falar de planejamento previdenciário é, para muitos, uma heresia contra o improviso nacional.

2. O Brasil que envelhece (sem se planejar)

O IBGE confirma: estamos envelhecendo. E isso é bom. É sinal de que vencemos doenças, aumentamos a longevidade e melhoramos as condições de vida. Mas também é sinal de alerta: vivemos mais, porém, planejamos menos.

A Reforma da Previdência (Emenda Constitucional nº 103/2019) redesenhou completamente o sistema de aposentadorias. Hoje, cada caso é um universo próprio: idade mínima, tempo de contribuição, regras de transição, cálculo da média, fator previdenciário, aposentadoria híbrida, pensão por morte com redutor, e por aí vai.

No meio desse emaranhado de fórmulas e siglas, está o trabalhador comum, que apenas quer saber quando poderá descansar sem medo de passar necessidade.

3. Planejamento previdenciário: o mapa antes da travessia

Mas afinal, o que é planejamento previdenciário?

De forma simples: é o estudo técnico e jurídico da vida contributiva de uma pessoa, feito por um advogado especialista em Direito Previdenciário, com o objetivo de definir a melhor estratégia para aposentadoria, no momento certo, com o melhor valor e evitando prejuízos irreversíveis.

O advogado analisa o histórico de contribuições, corrige vínculos no CNIS, projeta cenários de tempo e idade, calcula o benefício em cada regra possível e orienta sobre complementos ou recolhimentos estratégicos. É como contratar um arquiteto antes de construir uma casa: sem planejamento, a obra pode até ficar de pé (mas vai custar mais caro e dar mais dor de cabeça).

E mais: o planejamento não serve apenas para “quem vai se aposentar”. Ele é vital também para autônomos, empresários, profissionais liberais e jovens trabalhadores que querem transformar contribuição em investimento social, e não em desperdício burocrático.

Isso porque, um especialista pode apontar as opções, formas de contribuir (e até de não contribuir), podendo antecipar e/ou até conquistar benefícios muito antes do que alguns imaginam. É a maneira mais eficaz de aposentar antes e ganhando mais e não deixar que você perca tempo e/ou dinheiro.

4. A ironia da vida longa

Enquanto outros países celebram o envelhecimento como sinal de prosperidade, o Brasil ainda o enxerga como problema fiscal. A cada nova reforma, o recado é o mesmo: “você viverá mais… e trabalhará mais ainda.” Parece que nossos governantes querem o indivíduo mais tempo pagando do que recebendo do INSS.

Há um certo sarcasmo estrutural nisso. O cidadão, que contribui por décadas, precisa “provar” que merece a aposentadoria. E quando finalmente a conquista, percebe que o valor não cobre sequer os remédios que sustentam a longevidade que o Estado tanto celebra.

É como se o envelhecimento fosse uma festa, mas o convidado precisa levar a comida, a bebida e ainda pagar o ingresso.

5. O advogado previdenciarista como guardião do tempo

O advogado previdenciarista é o profissional que traduz o juridiquês do INSS para a linguagem da vida real. É ele quem protege o direito ao descanso, quem interpreta regras, evita erros administrativos e impede que anos de contribuição sejam desperdiçados por simples formalidades. Mais do que defensor em causas judiciais, é um estrategista de futuro. Em outras palavras, é alguém que entende que cada contribuição tem uma história e que cada segurado é mais do que um número no CNIS.

Sem esse olhar técnico e humano, o trabalhador corre o risco de entregar sua vida contributiva ao acaso. E como bem sabemos, no INSS o acaso raramente é generoso.

6. A cultura do improviso e o preço do descuido

O brasileiro tem uma relação curiosa com o tempo: teme o envelhecer, mas não se prepara para ele. Planeja o churrasco do fim de semana, mas não planeja os próximos vinte anos de vida. E quando o futuro chega (normalmente com uma negativa do INSS na mão), o desespero substitui o arrependimento.

A verdade é que planejar a aposentadoria é um ato de coragem e de empatia consigo mesmo. Coragem para encarar o futuro e empatia para não transferir aos filhos o peso daquilo que o Estado prometeu, mas não cumpriu.

7. Envelhecimento e dignidade: uma dívida moral

O artigo 201 da Constituição Federal assegura que a Previdência Social deve proteger contra as contingências da velhice. Mas dignidade não se resume a um benefício mensal. É poder envelhecer com segurança, autonomia e paz.

O advogado previdenciarista, nesse contexto, torna-se um verdadeiro agente de justiça social. Ele não entrega apenas cálculos; entrega tranquilidade, previsibilidade e, muitas vezes, o resgate de uma vida inteira de trabalho.

8. Conclusão: A dignidade não se aposenta

O tema do ENEM 2025 foi uma aula para o país inteiro: envelhecer é inevitável; envelhecer com dignidade é um direito.

Mas esse direito exige consciência, planejamento e orientação técnica.

No Brasil, envelhecer é um ato de coragem. Mas planejar o próprio envelhecimento - esse, sim, é um ato de justiça.

Não basta esperar que o Estado cumpra promessas; é preciso agir, planejar e buscar apoio jurídico especializado. Porque envelhecer é, sim, um milagre. Mas garantir que esse milagre seja vivido com justiça é uma missão... E o Direito Previdenciário é o caminho para isso. Em caso de dúvida, procure sempre um advogado especialista em Direito Previdenciário de sua confiança.

Tiago Faggioni Bachur é advogado, professor e especialista em Direito Previdenciário. Atua na defesa dos direitos sociais, com foco em benefícios por incapacidade, BPC/LOAS e planejamento previdenciário. Colunista do Portal GCN. Autor de Obras Jurídicas