05 de dezembro de 2025
BETANO BÔNUS

Uma faca de dois gumes: as faces da IA nas campanhas políticas

Por Betano Bônus |
| Tempo de leitura: 4 min
Fonte: Pixabay

As eleições presidenciais de 2026 se aproximam pouco a pouco, mas a batalha pela opinião pública já começa a ser travada online. E, desta vez, essas dinâmicas prometem ser um marco histórico para a política, já que serão moldadas pelo uso intenso da inteligência artificial (IA), tanto como ferramenta de empoderamento cívico quanto como arma de manipulação. É nesse contexto que a IA se torna uma faca de dois gumes: ela é capaz de aprofundar a participação democrática ao mesmo tempo que pode miná-la por dentro.

O lado positivo

A IA pode desempenhar um papel essencial à democracia quando usada de forma ética, ampliando a transparência, o engajamento e a acessibilidade da vida política. Empregos nesse sentido podem incluir chatbots que respondam às perguntas dos eleitores sobre candidatos ou suas propostas, e modelos de aprendizado de máquina que analisem dados de financiamento de campanhas para detectar irregularidades.

O programa de checagem de fatos e alfabetização digital do Senado, intitulado Senado Verifica, é um exemplo que mostra como a IA pode fortalecer a consciência cívica e promover a democracia. Em parceria com o sistema de Justiça Eleitoral, o projeto utiliza ferramentas de verificação assistidas por IA para detectar alegações falsas e educar os cidadãos sobre como identificá-las.

O revés da IA

Mas nem tudo são flores, e o lado sombrio da IA na política já se tornou perturbadoramente familiar aos brasileiros, manifestando-se por meio de sofisticadas estratégias de desinformação, como o uso de deepfakes (isto é, vídeos ou gravações de áudio ultrarrealistas que simulam pessoas reais dizendo ou fazendo coisas que nunca fizeram). Essas fabricações digitais se espalham num piscar de olhos pelas redes sociais, gerando indignação e comoção no público. O objetivo delas nem sempre é convencer as pessoas de que uma mentira é verdade, mas sim semear confusão e corroer a confiança em qualquer fonte de informação.

Essas táticas manipuladoras são frequentemente alimentadas por coletas invasivas de dados. Empresas de marketing político e operadores digitais obscuros arrecadam grandes quantidades de dados pessoais por meio de cookies, rastreadores online e conexões não seguras, e os usam para fazer micro segmentação: o envio de mensagens cuidadosamente personalizadas que exploram os medos, preconceitos e aspirações de cada eleitor. O que antes exigia grupos focais e pesquisas de opinião agora pode ser feito por um algoritmo que sabe mais sobre a psicologia de um indivíduo do que seus amigos mais próximos.

Manipulações do gênero não são novidade para o cenário brasileiro. A eleição presidencial de 2018, por exemplo, foi marcada por uma enxurrada de mensagens enganosas em aplicativos de mensagens, muitas das quais originadas de redes de influenciadores digitais coordenadas. Já em 2022, o problema havia evoluído: o conteúdo gerado por inteligência artificial tornou tênue a fronteira entre conteúdos autênticos e manipulados, e a velocidade de circulação entre as plataformas tornou a verificação de fatos uma tarefa árdua (ou quase impossível). Agora, com a ampla disponibilidade das ferramentas de IA generativa, até mesmo usuários amadores poderão criar vídeos falsos convincentes em larga escala.

O papel da proteção da privacidade

No cerne dessa disputa tecnológica reside uma questão menos visível, mas igualmente crucial: a privacidade. Sem a devida proteção, cada curtida, compartilhamento e clique alimenta os algoritmos que determinarão quais anúncios ou propagandas os eleitores veem, desencadeando uma onda sutil de manipulação. É por isso que defender a privacidade é um pilar da democracia moderna.

Para conseguir isso, várias soluções são apontadas por especialistas. A primeira é utilizar tecnologias que aprimoram a privacidade, como as redes virtuais privadas (VPNs). Com a melhor VPN do Brasil, os eleitores podem criptografar suas conexões de internet, mascarando seu endereço IP e dificultando que terceiros monitorem suas atividades de navegação ou coletem seus dados pessoais. Ao criar um “túnel” seguro entre os dispositivos e a web, as VPNs reduzem o risco de campanhas de desinformação direcionadas que dependem do rastreamento das pegadas digitais dos usuários.

Uma segunda medida é tomar cuidado com o que se compartilha online, sobretudo nas redes sociais. Prestar uma atenção redobrada nas configurações de privacidade das plataformas utilizadas pode também auxiliar no processo, uma vez que muitas oferecem a possibilidade de negar acesso aos dados e atividades a terceiros.

Uma ação conjunta

Por fim, é importante levar em conta que a proteção da democracia digital depende da ação conjunta de todos os envolvidos, e não apenas do poder público. Verificar as fontes antes de compartilhar, questionar narrativas excessivamente emocionais e reconhecer quando o conteúdo parece ter sido criado para provocar em vez de informar são algumas medidas que ajudam a defender a transparência do processo político.

Também é fundamental que os eleitores conheçam as boas práticas de segurança online, como o uso de aplicativos de mensagens criptografadas, a precaução diante de links suspeitos e a adoção de configurações de privacidade em plataformas sociais.

À medida que as eleições de 2026 se aproximam, a batalha por corações e mentes será cada vez mais travada com linhas de código e análise de dados. Se esses instrumentos serão usados para o bem ou para mal, só o futuro dirá.