05 de dezembro de 2025
DECISÃO JUDICIAL

Médica é condenada por morte de bebê em Franca; entenda

Por Hevertom Talles | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Arquivo/GCN
Isabelly Fernanda da Silva

A 3ª Vara Criminal de Franca decidiu pela condenação da médica infectologista Maria Del Carmen L. Grijalba, acusada de negar atendimento para um criança de 1 ano e 3 meses que morreu em um hospital da cidade, em 6 de maio de 2018.

A médica foi condenada a uma pena de 1 ano e 7 meses de detenção em regime aberto, substituída por duas penas restritivas de direito, com a prestação de serviços e prestação pecuniária. Ela também foi condenada a pagar as custas do processos. A senteça foi publicada no início deste mês. A defesa da médica pode recorrer da decisão.

Na área civil ainda corre um outro processo a título de indenização. A família da criança pede que a médica pague R$ 310 mil por danos morais e uma pensão pelo período até que Isabelly completasse 18 anos, se estivesse viva.

"Não restam dúvidas de que a condenação da médica junto ao Cremesp, já transitado em julgado, bem como a condenação dela no âmbito criminal, em primeira instância, não atingiram os patamares desejados pela família, afinal, a vida de uma criança não terá mais volta", ponderou o advogado Wellington John Rosa, que atua no caso com a advogada Flávia Fernanda Mamede Bergamasco.

"Agora, pelo menos um sentimento de que a justiça começou a ser feita passou a existir, é o que conforta um pouco os corações dos familiares."

A equipe de reportagem procurou a defesa da médica, que não quis se manifestar.

Condenação no Cremesp

Maria Del Carmen L. Grijalba também foi considerada culpada no Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo). A decisão foi emitida em 20 de maio de 2023.

Segundo o apurado, a médica recebeu sanções internas detro do Conselho, mas não perdeu o direito de exercer a medicina.

Relembre o caso

Um casal de sapateiros procurou a Polícia Civil, na segunda-feira, 7 de maio de 2018, após a morte da filha de apenas 1 ano e 3 meses, ocorrida no dia 6. Eles acusaram a médica de omitir socorro à filha, a pequena Isabelly Fernanda da Silva, que deu entrada no hospital no dia anterior, e morreu horas depois.

Jéssica da Silva, mãe da criança, narrou as últimas horas ao lado da filha, que sofria de atresia de esôfago e, por isso, se alimentava por sonda. A família residia na época no Jardim Martins, região oeste de Franca.

“Levei a Isabelly até o Pronto-socorro Infantil, na noite de sábado, porque a barriguinha dela estava muito inchada e ela chorava de dor. Já sabíamos o que poderia ser feito e que seria na Santa Casa, e logo a médica do PS nos acompanhou até lá. Já era madrugada de domingo. Porém, colocaram minha filha na vaga zero e não deram nenhum respaldo. Ela sequer foi para a ala infantil e teve um atendimento. A médica plantonista não a examinou nem olhou minha filha”, contou.

Ainda de acordo com Jéssica, apesar de todos os apelos feitos para que a médica atendesse Isabelly, a mulher não teria ido até onde a criança estava. A "saga" durou da meia-noite até 4 horas, quando a menina não resistiu e morreu. “Os enfermeiros me deram um cobertor, porque ela estava gelada. Mas ninguém a examinou. Minha filha foi ficando com as mãos e pezinhos roxos. Estava ficando cada vez mais fria e, quando a levaram a uma salinha para enfim atendê-la, já era tarde demais. Ela já estava morta.”

Jéssica e o marido, o sapateiro Danilo Rogério da Silva, foram até o 1º Distrito Policial, onde um boletim de ocorrência de homicídio culposo foi registrado. Eles disseram que também acionaram o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) para cobrar atitudes diante da conduta da médica. “Ela não deu nenhuma atenção à nossa filha. Deixou ela morrer. Sei que nada trará a Isabelly de volta, mas essa médica precisa ser responsabilizada. Omitiu socorro e agora estamos sem nossa pequena”, disse o sapateiro.

Em nota, à época, a Santa Casa disse que Isabelly foi encaminhada de vaga zero para ser avaliada “devido a um desconforto abdominal”. “O atendimento foi realizado de acordo com os critérios regulatórios. Devido o desfecho ter sido desfavorável, o caso foi encaminhado à Comissão de Óbitos da Santa Casa para análise e tomada de providências. Esclarecemos que a comissão, instituída conforme determinação do Conselho Federal de Medicina, analisa todos os óbitos ocorridos na instituição.”

O diretor clínico da Santa Casa à época informou que a médica tinha sido afastada.