A Unesp (Universidade Estadual Paulista) abriu uma apuração preliminar para investigar uma suposta agressão entre alunos e um professor no dia 2 de setembro, no campus de Franca. As agressões mútuas teriam acontecido durante um protesto de universitários contra o professor Gabriel Cepaluni, do curso de Relações Internacionais, a quem acusam de assédio. Durante a manifestação, os estudantes teriam agredido o professor e ele, quatro alunas. O caso ganhou as redes sociais nesta semana, após publicações de canais de direita.
No início do mês passado, uma convocação publicada nas redes sociais do Cari (Centro Acadêmico de Relações Internacionais) chamou os estudantes para uma manifestação em frente à sala onde Cepaluni lecionaria, com o objetivo de boicotar a aula do professor, acusado de assediar e perseguir alunas “dentro e fora da sala de aula”. Segundo os organizadores, denúncias já haviam sido formalizadas junto à direção da universidade.
De acordo com a nota oficial divulgada pelo Cari nesta terça, 7 de outubro, a manifestação seria “legítima e pacífica”, mas teria escalado quando, segundo os estudantes, o professor agrediu quatro alunas com empurrões e golpes, resultando em supostos ferimentos e hematomas. O centro acadêmico afirma que, desde então, Cepaluni foi afastado da disciplina por questões de segurança e que a universidade abriu um procedimento de investigação.
“Mentiras e versões manipuladas foram divulgadas para apresentar as vítimas como agressoras e o agressor como vítima de perseguição política. Essa inversão deliberada tem servido como combustível para ataques, discursos de ódio e ameaças de morte contra estudantes”, afirma a nota do Cari.
O comunicado também relaciona o episódio a um “contexto de ataques da extrema-direita às universidades públicas”, alegando que setores políticos estariam tentando “criminalizar o movimento estudantil e silenciar denúncias de assédio”.
A UJC (União da Juventude Comunista), em vídeo divulgado dois dias após o episódio, em 4 de setembro, reforçou as denúncias contra o professor. A estudante Gabrielle Nascimento relatou que o ato começou de forma organizada, com cartazes e palavras de ordem, e que o docente teria reagido com violência ao tentar furar a barreira formada pelos manifestantes. Segundo ela, quatro estudantes mulheres ficaram feridas e registraram boletim de ocorrência na delegacia.
O professor Gabriel Cepaluni também registrou boletim de ocorrência, alegando ter sido agredido pelos manifestantes e alvo de hostilidades e danos materiais, como roupas rasgadas e desaparecimento de objetos pessoais.
O caso foi repercutido em páginas de figuras públicas alinhadas à direita, o que elevou a disputa de versões a um debate político.
Enquanto os estudantes afirmam ter sido vítimas de agressão e ameaças após a repercussão do caso, o professor ainda não se manifestou publicamente de forma detalhada sobre o episódio. A reportagem tentou contato com Cepaluni por redes sociais e e-mail institucional, mas não obteve resposta. Segundo a diretoria da universidade, o professor se encontra em afastamento médico.
Em resposta ao Portal GCN/Sampi, a Unesp afirmou que está tratando o caso “com máxima seriedade e responsabilidade” e que repudia toda forma de violência. Por meio da Portaria 75 da FCHS (Faculdade de Ciências Humanas e Sociais), a universidade instaurou um procedimento de apuração preliminar, com prazo de 30 dias prorrogáveis por mais 30.
“Reforçamos o compromisso de nossa instituição com a ética, o respeito mútuo e o bem-estar coletivo na universidade. As medidas cabíveis estão sendo tomadas, respeitando o devido processo legal, a manifestação do contraditório, o amplo direito de defesa das partes envolvidas e a promoção dos direitos humanos”, informou a instituição, em nota.
A Unesp também afirmou que novas informações serão divulgadas assim que possível, em atenção aos trâmites legais e à privacidade dos envolvidos.
O Portal GCN/Sampi também tentou contato com o Cari na tarde desta quarta-feira, 8, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. A UJC da Unesp Franca também foi procurada, sem resposta.
O objetivo dos contatos era colher a versão dos estudantes diretamente envolvidos e esclarecer pontos da manifestação e das denúncias.
O caso segue em investigação interna pela Unesp e também é acompanhado pelas autoridades policiais.