Já foi dito que muitas vezes é o livro que nos encontra. É o caso de Mayobe em minhas mãos. Desde que que aprofundei minha correspondência com leitores e escritores angolanos, especialmente de Luanda e algumas províncias mais distantes da capital desse país que se tornou soberano, independente de Portugal, tão recentemente. Através do meu projeto TANTO MAR ENTRE NÓS, estabeleci contato com a diversidade de produção literária de além mar congregando em duas antologias textos e vivências traduzidas em palavras, verso e prosa, tudo disponível para ao entendimento dos falantes da nossa língua portuguesa: metaforicamente, o veículo e laço que nos une apesar da distância a partir do passado colonial em comum.
Pepetela... conhecia o nome e sua relevância na História de Angola, mas ainda nenhuma obra lida. Pepetela, grande referência literária e política de todos e todas que eu ia conhecendo mais de perto, por mensagens, e-mails, mensagem de voz, chamada de vídeo, entrevistas que fiz no meu canal do youtube, enfim: eu precisava ler Pepetela.
E aconteceu de Mayombe me encontrar. Fui convidado pela professore de História Gisele Dourado para falar de Literatura para seus alunos da escola CEDE (David Carneiro Ewbank) na Vila Nova aqui mesmo em Franca. O encontro se deu na Sala de Leitura dentro da “Semana Estadual do Livro e de Incentivo à Leitura e à Escrita” promovido em todas as unidades escolares do Estado de São Paulo”, e foi muito incrível a troca de leituras e conhecimento que se estabeleceu entre nós. No final do evento, ganhei um livro de presente: Pepetela me encontrou com seu Mayombe!
O escritor angolano escreveu um romance histórico e ficcional ao mesmo tempo, nele temos acesso à experiência de um grupo de guerrilheiros na floresta de Mayombe durante a Guerra de Independência de Angola contra Portugal (1961-1974), e o tema central é a busca daquele povo (pais e avós dos meus novos amigos que estariam nas duas antologias TANTO MAR ENTRE NÓS) por uma identidade nacional unificada em meio aos conflitos étnicos e ideológicos de então.
Publicado em 1980, o livro de Pepetela me encontro em setembro 2025 porque tive o prazer de responder ao chamado da Literatura.
Baltazar Gonçalves é historiador e membro da Academia Francana de Letras.