14 de dezembro de 2025
AVENTURA DE UMA VIDA

Das 3 colinas para topo do mundo: dupla de Franca vai ao Everest

Por Pedro Baccelli | da Redação
| Tempo de leitura: 9 min
Sampi/Franca
Arquivo pessoal
Wesley Falcuci Silva e Paulo Cesar da Silva Junior

Das três colinas, no interior de São Paulo, para o Himalaia. O destino é o Monte Everest, a montanha mais alta do mundo, na divisa entre Nepal e China. Essa aventura, que pode ser considerada o desafio de uma vida, será vivida por uma dupla de Franca. Paulo Cesar da Silva Junior, de 38 anos, e Wesley Falcuci Silva, de 39 anos, conhecido como "Sherek", vão encarar a subida até o Acampamento Base, em novembro.

Os aventureiros por trás da expedição

Natural de Brasília (DF), Paulo é gerente comercial do Magalu e pai de Maria Clara, de 12 anos. Atualmente mora no Residencial Meireles, na região Oeste de Franca. Sua paixão pelo montanhismo começou em 2010, quando escalou o vulcão Villarrica, no Chile. “Foi onde tive o primeiro contato com escalada em neve e utilização de equipamentos específicos, conseguindo chegar ao topo e vivenciando algo realmente marcante.” Localizado na cordilheira dos Andes, o vulcão possui uma altitude de 2.847 metros acima do nível do mar.

A paixão pelo montanhismo de Paulo cresceu, e ele escalou o Aconcágua, na Argentina, com 6.961 metros, e o Mont Blanc, entre a Itália e a França, com 4.806 metros. Em solo brasileiro, ele realizou as travessias de Petrópolis-Teresópolis (RJ) e Serra Fina (MG/SP/RJ). O gerente comercial também percorreu quatro das dez montanhas mais altas do país. Confira abaixo:

Do outro lado da corda está Sherek, um "novato" no mundo das alturas. Natural de Franca e morador do Jardim Integração, Sherek é gerente de desenvolvimento de negócios e professor de muay thai. Solteiro e sem filhos, dedica seu tempo livre a projetos criativos - escreveu seu primeiro livro e está desenvolvendo um jogo mobile. Diferente de Paulo, ele nunca pisou em uma montanha. A estreia será justamente no ponto mais alto do planeta: o Monte Everest.

De onde veio a ideia de encarar o Everest?

A ideia de chegar ao Acampamento Base do Monte Everest surgiu há cerca de dois anos, quando Paulo começou a se planejar para o desafio. Acostumado a expedições autoguiadas, ele destacou que essa escolha sempre trouxe aprendizados importantes - desde o uso correto dos equipamentos até o desenvolvimento de habilidades e estratégias de planejamento. “Agora, sinto que é o momento certo para encarar um desafio maior: a trilha até o Acampamento Base do Everest”.

Diante de uma oportunidade única, Sherek embarcou nessa aventura sem pensar duas vezes. “Autoconvitei-me a ir junto quando o Paulo falou sobre, mas nunca tinha passado pela minha cabeça fazer uma expedição dessas.”

Por que o cume não é o objetivo?

A dupla traçou como meta chegar ao Acampamento Base do Everest, localizado a 5.300 metros de altitude, e não ao cume da montanha. O percurso, que começa em Lukla, no Nepal, será feito em cerca de nove dias, com paradas para aclimatação e caminhadas diárias de até 12 quilômetros. Eles destacam que o objetivo da expedição é vivenciar a experiência do trekking, sem se arriscar em uma escalada de alto nível técnico.

Paulo explicou que a decisão foi tomada de forma consciente, levando em conta tanto a segurança quanto os custos envolvidos. “Nosso objetivo de forma alguma é chegar ao cume do Everest. Isso exige outro tipo de aventura, com equipamentos específicos, preparação técnica avançada, um investimento muito maior - acima de 100 mil dólares - e envolve riscos muito mais altos, inclusive de morte. Nosso foco é exclusivamente chegar com segurança ao Acampamento Base”, afirmou.

Tecnologia como aliada da aventura

Apesar de existirem agências especializadas, tanto no Brasil quanto no Nepal, Paulo optou por organizar a expedição de maneira independente. Ele explicou que a decisão envolveu pesquisar em fóruns, assistir a vídeos no YouTube e reunir informações de diferentes fontes. O diferencial, no entanto, foi o uso de ferramentas de inteligência artificial para estruturar a viagem, desde a definição do roteiro até cálculos de distâncias e altimetrias.

Segundo Paulo, essa tecnologia se tornou parte essencial do planejamento. “Hoje em dia, a maior parte das informações e do planejamento da minha viagem é feita com o auxílio de inteligência artificial. Uso o ChatGPT para desenvolver o projeto, definir os roteiros, calcular distâncias e altimetrias e, assim, vou refinando cada detalhe nos meses que antecedem a aventura”, contou.

Treinos duros e logística ajustada

A preparação física da dupla tem sido intensa e planejada com antecedência. Paulo relatou que, como forma de treinamento prático, eles têm subido uma montanha por mês no Brasil, além de manter uma rotina de exercícios em academia, escadas e caminhadas regulares. O objetivo é ganhar resistência, força nas pernas e preparo cardiovascular para enfrentar o desafio no Himalaia. “Além das trilhas e travessias, mantenho treinos regulares de academia, subidas de escada com carga e caminhadas aos fins de semana, tudo focado em ganho de resistência, força nas pernas e preparação cardiovascular.”

Na parte logística, eles já adquiriram as passagens internacionais e estão em contato com agências locais para contratar sherpas, responsáveis por carregar parte dos equipamentos. Também pesquisam os lodges ao longo da trilha, levando em conta a estrutura e a altitude de cada vila. Sherek, no entanto, adota um tom mais leve ao falar de sua preparação. “Tenho uma rotina fisicamente ativa, mas não estou fazendo nada específico ainda. Estou confiando no meu histórico de atleta”, brincou.

Passo a passo da jornada até o Himalaia

Equipamentos para encarar -10°C

A maior preocupação com os equipamentos está relacionada ao frio intenso que enfrentarão em novembro. Durante o dia, as temperaturas devem variar entre 10°C e 0°C, mas à noite podem cair para -10 °C.

Para se protegerem, adotarão o sistema de três camadas de vestuário, usado no montanhismo: uma primeira pele térmica para manter a temperatura corporal, um fleece como segunda camada e uma jaqueta corta-vento resistente ao frio e à chuva.

Também levarão gorros, luvas, meias específicas, botas apropriadas e mochilas de ataque com roupas reservas e itens essenciais. No caso de Paulo, haverá ainda uma bolsa exclusiva para equipamentos fotográficos, como câmera, lentes, drone, GoPro, tablet e acessórios para registrar cada etapa da expedição.

Além do vestuário técnico, os dois também ressaltam a importância dos equipamentos de segurança indispensáveis em regiões remotas. Entre eles, está o GPS com mapa topográfico da área, que permite seguir a rota mesmo sem sinal de internet.

Outro recurso é o comunicador via satélite, capaz de enviar mensagens e acionar resgate em caso de emergência, mesmo em locais totalmente isolados. Segundo eles, esses dispositivos aumentam a segurança da escalada, garantindo que, em qualquer imprevisto, haja meios de pedir ajuda e compartilhar a localização com precisão.

Onde a dupla vai dormir e comer no Nepal?

Durante a escalada, Paulo e Sherek se hospedarão em lodges, espécie de pousadas simples existentes nas vilas ao longo do trajeto até o Acampamento Base. Esses locais oferecem estrutura básica para alimentação e descanso, mas apresentam limitações, como fornecimento irregular de energia elétrica, sinal de Wi-Fi instável e ausência de aquecimento interno nas regiões mais altas. À noite, dentro dos quartos, as temperaturas podem chegar a -10°C, motivo pelo qual a dupla levará sacos de dormir que suportam até -15°C, transportados pelos porters - ou sherpas - responsáveis por carregar o excedente de equipamentos.

Eles acrescentaram que, em princípio, não haverá acampamento durante o percurso, mas estudam a possibilidade de passar uma noite no próprio Acampamento Base, experiência pouco comum, utilizando materiais alugados no último vilarejo antes da chegada.

Segurança em primeiro lugar

Antes de iniciar os preparativos para a expedição, Paulo fez questão de manifestar solidariedade à família e aos amigos da montanhista Juliana Marins, que morreu após sofrer uma queda em uma montanha na Ásia. Ele lembrou que o acidente ganhou repercussão pela gravidade e pelas dificuldades de resgate, mas ressaltou que situações assim não são raras. “Infelizmente, mesmo no Brasil, vemos com frequência notícias de resgates em trilhas, e algumas delas terminam em fatalidade”, disse.

Ele explicou que, por isso, a dupla procura manter uma preparação constante e responsável, e não apenas reagir quando um caso trágico vem à tona. Entre os cuidados, estão o monitoramento diário das condições climáticas, o estudo prévio dos mapas e altimetrias e o uso de equipamentos adequados para o frio intenso e para o terreno montanhoso. Paulo acrescentou que também leva sacos de dormir compatíveis com temperaturas negativas e que sempre escutam relatos de moradores locais para identificar trechos alterados por fatores naturais.

Segundo ele, a segurança não depende apenas de equipamentos, mas também do ritmo da caminhada. O planejamento da expedição prevê paradas regulares para aclimatação, alimentação e hidratação, além de respeitar os limites do corpo, sem pressa para chegar ao destino. “Toda a logística foi montada com o objetivo de reduzir os riscos e tornar a experiência segura do início ao fim”, destacou.

Questionado se, após a morte de Juliana, adotaram cuidados adicionais, Paulo respondeu que o planejamento já contemplava protocolos criteriosos. Ele explicou que o trajeto até o Acampamento Base do Everest não envolve áreas expostas, como penhascos, mas sim trilhas consolidadas, utilizadas há décadas pelos sherpas e moradores para transportar mercadorias. “São caminhos de montanha, sem veículos, mas seguros e muito frequentados. Ainda assim, mantemos atenção total ao clima, ao terreno e à nossa aclimatação”, afirmou.

O preço de viver um sonho

O custo estimado da expedição ao Everest gira em torno de R$ 20 mil por pessoa, valor que contempla passagens aéreas, hospedagem, alimentação, contratação de sherpas, taxas de entrada nos parques e demais despesas logísticas. Toda a organização está sendo feita de forma independente, o que garante maior controle sobre cada etapa e permite otimizar os gastos sem abrir mão da segurança e da qualidade da experiência.

Para viabilizar parte desse investimento, o grupo busca parcerias e apoios de empresas e pessoas interessadas em associar sua marca ou nome a um projeto de superação, aventura e contato direto com a natureza. A viagem contará com cobertura completa nas redes sociais, com fotos e vídeos em alta qualidade, além de menções e destaques aos apoiadores. Quem quiser colaborar pode entrar em contato pelo Instagram @pcmochileiro, onde já estão sendo compartilhados os bastidores da preparação e onde também será feita a transmissão direta do Himalaia.