Um grupo de voluntários mantém há três anos uma ação para alimentar e cuidar de gatos que vivem nos arredores de um hospital, na Rua Francisco Jorge, em Franca. A iniciativa busca garantir alimentação, água e castração dos animais, mesmo diante de resistência e dificuldades financeiras.
O movimento começou com a psicóloga Denise Ramos, de 43 anos, que assumiu sozinha a responsabilidade pelos cuidados, arcando com cerca de R$ 400 mensais em ração. Hoje, estima-se que entre 15 e 20 gatos vivam no local, embora parte deles circule pelas dependências internas do hospital, o que dificulta a contagem precisa.
Segundo o relato da gestora de empresa Kamille Goss Custódio, de 33 anos, a presença dos felinos chegou a gerar conflitos. Funcionários teriam sido proibidos de alimentá-los e, em algumas situações, a ração foi jogada fora, o que levou ao registro de boletim de ocorrência.
“Infelizmente, além da dificuldade financeira, existe também a resistência do hospital em relação à presença desses animais. Funcionários já relataram que foram proibidos de alimentá-los, sob risco de punições. Em algumas situações, houve até mesmo episódios de funcionários jogando fora a ração colocada, o que nos obrigou a registrar boletim de ocorrência”, relatou.
Apesar dos obstáculos, os voluntários se organizaram para manter o trabalho. Foram criadas rifas solidárias, que ajudaram a custear ração e iniciar as primeiras castrações. Também foram instalados comedouros e bebedouros fixos, mais higiênicos e resistentes. Até o momento, três filhotes já foram resgatados, dois deles encaminhados para adoção, e uma fêmea foi castrada.
“O método gancho é o mais indicado, pois, por serem muito ariscos, não têm contato próximo com humanos. Esse método dispensa cuidados pós-operatórios, permitindo que os animais retornem rapidamente ao seu habitat natural. Já a castração convencional oferecida pela Prefeitura exige um período de recuperação em ambiente controlado, o que poderia deixá-los ainda mais assustados e até causar ferimentos caso ficassem presos”, explicou.
O grupo criou o perfil no Instagram @sos.gatinhos_ para prestar contas das doações e divulgar o andamento das rifas e da rotina dos animais. Advogados, veterinários, estudantes e psicólogos também participam da mobilização, trocando informações em um grupo de WhatsApp para fortalecer a ação.
A iniciativa se apoia em legislações nacionais que reconhecem direitos a animais comunitários. A Constituição Federal veda práticas cruéis e a Lei de Crimes Ambientais tipifica maus-tratos como crime. Decisões judiciais também têm assegurado o direito à alimentação e aos cuidados.