Desafiando um cenário econômico nacional complexo, com inflação alta e crédito restrito, a economia de Franca demonstrou notável resiliência e força no primeiro semestre de 2025. Dados divulgados nesta semana pelo IE-ACIF (Instituto de Economia da Associação do Comércio e Indústria de Franca) revelam um crescimento consistente em indicadores cruciais, como a abertura de empresas, a geração de empregos com carteira assinada e a comercialização de veículos novos, pintando um quadro otimista para o município.
O dinamismo do empreendedorismo local ficou evidente com o aumento de 4,74% no número de empresas ativas em comparação com o mesmo período de 2024, totalizando 61.045 negócios em maio. Somente neste ano, 2.762 novas empresas foram abertas, com destaque para a predominância de MEIs (Microempreendedores Individuais), que representam 84% dos novos registros. O setor de vestuário lidera o ranking de atividades, com 5.610 empresas, seguido pelo tradicional comércio de calçados (3.536) e pelo setor de promoção de vendas (2.115).
De acordo com Rodrigo Souza, economista responsável pelo Instituto de Economia da ACIF (IE-ACIF), o primeiro semestre de 2025 teve um desempenho acima das expectativas, apesar do cenário político e fiscal desafiador. O resultado positivo foi impulsionado principalmente pelo agronegócio e pelas exportações, com destaque para o setor calçadista de Franca, refletindo também na geração de empregos e no mercado de veículos da cidade.
Um dos dados mais expressivos do levantamento foi o recorde no mercado de trabalho. Em maio, Franca atingiu a marca de 102.710 trabalhadores com carteira assinada, o maior número desde o início da nova série histórica do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em 2020.
Ao todo, foram criados 3.253 novos postos de trabalho em 2025. A indústria foi o principal motor desse crescimento, com uma expansão de 8,11%, seguida pelo setor de serviços, que avançou 3,03%. O comércio, por sua vez, manteve a estabilidade no nível de ocupação. Como reflexo positivo desse aquecimento, os pedidos de seguro-desemprego registraram uma queda de 5,72% em relação ao ano anterior.
Na balança comercial, apesar de um recuo de 10,78% no saldo em comparação com 2024, o resultado se manteve positivo em R$ 133,4 milhões. As exportações totais caíram 4,6%, influenciadas principalmente pela retração de 16,5% nas vendas de café. Em contrapartida, o setor calçadista, pilar da economia francana, mostrou sua força e cresceu 21,9% nas exportações. A Alemanha se destacou como um mercado em expansão para os produtos locais, com um aumento de 24,78% nas compras.
O otimismo do consumidor também se refletiu no mercado automotivo. A venda de veículos novos no primeiro semestre cresceu 7,78%, somando 3.506 unidades. O segmento de motocicletas liderou a alta com 12,18%, seguido por automóveis (7,65%) e veículos comerciais leves (4,77%).
Para o segundo semestre, Rodrigo Souza aponta que o cenário deve ser mais difícil. A falta de avanços na política econômica e o anúncio de tarifas sobre produtos brasileiros, como calçados e café, podem impactar negativamente a indústria e o mercado de trabalho local. Por outro lado, políticas de transferência de renda, como o reajuste do salário mínimo acima da inflação e o Bolsa Família, devem continuar sustentando o comércio e os serviços. No entanto, o economista destaca que ainda é cedo para medir o real impacto das novas tarifas e do cenário político instável na economia de Franca.
A tarifa extra de 50%, anunciada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez com que entidades como a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) e Sindifranca (Sindicato das Indústrias de Calçado de Franca) apontarem que Franca deve ser o polo mais penalizado do país. Se o novo tributo se mantiver, as projeções apontam para perdas de até 15 milhões de dólares em exportações e a extinção de algo entre 1.200 e 1.500 postos de trabalho, afetando não só as fábricas, mas também fornecedores, representantes e toda a cadeia produtiva local. Se nada mudar, a nova tarifa de 50% passa a valer a partir de 1° de agosto.