13 de dezembro de 2025
NOSSAS LETRAS

Hoje não vou me deixar para trás

Por Ariel Bruna | Especial para o GCN/Sampi
| Tempo de leitura: 5 min

Em “preto e branco e poético” vamos falar de solitude, solidão e silenciamento, vamos falar do que realmente importa quando ninguém está perto. Condicionamento e comodismo, vamos falar de coragem. O grande problema de se permitir silenciar é que você começa a acreditar que não tem nada a dizer.  Quando foi que começamos a chamar de paz aquilo que nos silencia? Vamos conversar?

Conversando sobre relacionamentos com uma cliente do salão que também é minha amiga, me peguei dizendo dizendo: “estou curada, aprendi viver na minha companhia de tal modo que acredito nunca mais ter alguém na minha vida“. Agora,  me observando enquanto escrevo, percebo que a minha resposta é sempre a mesma quando o assunto é relacionamento, que tornou-se automático.  Então vasculho dentro de mim. É importante nos fazermos as perguntas difíceis e talvez ampliar possibilidades para sair da inércia em que estamos. Com a coragem necessária, me olhei e me perguntei: eu te machuquei?

Antes de comentar a reposta que tive do meu eu mais profundo, se eu pudesse te dizer algo hoje seria: aprenda a ficar sozinha. Não o tempo todo, mas o suficiente para não ser alguém que se desaponta ao menor sinal de solidão. Aprenda a ficar em silêncio. Você não precisa de tantos amigos como você imagina ou como nos impõem as redes sociais. Você não precisa de quem não quer estar ao seu lado. É certo que nascemos e morremos um ser único, cada qual com suas singularidades,  mas também é certo que “o real não está na saída nem na chegada, ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” como disse Guimarães Rosa. Por isso, curta mais a jornada, passe um final de semana com você mesma e dê uma trégua à essa necessidade imperativa de pertencer à alguém. Sabe a segurança que tanto procura? Só você mesma pode te dar. Cante sozinha, ria de si mesma. Mude o cabelo e se leve para jantar. Eu sei que ficar sozinha pode parecer assustador, mas acredite: se você não encontrar paz na solitude, ficará sempre dependente nas mãos da boa vontade alheia.

_ Eu te machuquei? A resposta veio de imediato : _Não, você só apertou onde já estava doendo. Recolocar-se no lugar que exige Presença, Confiança e Reciprocidade, pode trazer aquela vontade de se isolar, ou de cobrar muito mais que o outro pode dar de si. E sim,  pode doer em lugares da sua história que você pensava resolvido. Percebi o quando nossas respostas para uma pergunta frequente se torna automática, programada. Se não seguimos uma linha evolutiva que se transforma, estamos apenas mascarando na realidade algo que não queremos encarar de frente. Mentir para si mesmo é sempre a pior mentira, já cantava Renato Russo. O fato é que dói confiar, dói ainda mais viver em guerra com o afeto. Então, se minha amiga me perguntasse novamente, hoje eu responderia diferente. Eu diria a ela que relacionamentos podem reabrir feridas antigas mas, também,  curar. Este é o risco de estar viva e começar a se importar. Então respire, ao invés de decidir no impulso encare a pergunta nada fácil: me sinto tão bem na minha solitude que que já não percebia ser solidão? Eu escuto o silêncio, o auto cuidado que busco está em minhas mãos .

O sinônimo mais próximo de "solitude" é solidão, com uma diferença sutil importante: enquanto "solidão" significa um estar sozinha que causa sofrimento, "solitude" é um estar sozinha de forma voluntária e positiva, onde se desfruta da própria companhia e autoconhecimento.  Quando você tem linhas de raciocínio alternativas e evolui, muitas pessoas podem te ver como arrogante por não conseguirem te controlar. Outras podem de julgar “fria” porque você pára de se explicar, ou dizem que você é “difícil “porque você aprendeu a dizer não. A questão é não se desgastar. Quando você se encaixa num padrão que é facilmente aceitável pelo outro, pode parecer confortável, porém, você passa a creditar cegamente naquilo que não é. Ao analisar-se, você está presa no ciclo que se repete impedindo que viva novas experiências somente para suprir as expectativas que outras pessoas projetam em você. Não sendo a verdade sobre você, a opinião dos amargurados é apenas o que não conseguem encarar deles no espelho.

Talvez seja tempo de permitir viradas inesperadas, observar o que está pedindo espaço para ser reinventado, confiar mais no que se apresenta com nitidez e se afastar daquilo que apenas confunde. Às vezes, para caber, não queremos ser alguém que pareça “ameaça” ou “difícil de entender”, ou até mesmo problemática como já ouvi por pensar diferente. As pessoas tendem a considerar “problema” quando você se torna alguém que não dá de bandeja aquilo que antes só usavam para se beneficiar, o seu silêncio. Não preciso carregar o que projetam em mim; para isso, preciso me conhecer em além das primeiras camadas  para saber o que é meu, e o que nunca foi.

O inesperado desprograma o roteiro de nossas vidas, podemos nos surpreender com o que ainda nos emociona.  Quando foi que começamos a chamar de paz aquilo que nos silencia? O grande problema de se permitir silenciar é que você começa a acreditar que não tem nada a dizer. De repente, um súbito de consciência: tudo que eu pensava no automático ganha intenção. Que esse meu texto reflexivo, de auto-exame compartilhado, seja também um alerta. Alguns julgamento sobre você é são disfarces para insegurança dos outros. As pequenas e novas mudanças começam na fala, na simplicidade dos gestos, e tomam corpo. O já conhecido abre espaço para novas verdades  antes adormecidas. Sinto que posso me mostrar mais, me expressando. Nós podemos. Não para provar qualquer coisa à ninguém, mas para olharmos o horizonte e dizermos confiantes: hoje não vou me deixar para trás.

Ariel Bruna é colorista profissional, proprietária do espaço de beleza @arieldouradohair e escreve diariamente na página @pretoebrancoépoetico. É mãe da Sophia e do João Lucas. Uma mulher com medos bobos e coragens absurdas.