21 de dezembro de 2025
JUNHO LARANJA

Leucemia, trombose e AVC: a batalha de Luciana pela própria vida

Por Giovanna Attili | da Redação
| Tempo de leitura: 7 min
Sampi/Franca
Reprodução/Redes sociais
Luciana Cordeiro: do tratamento até os dias de hoje

O mês de junho, quando acontece a campanha “Junho Laranja”, é um período voltado à conscientização sobre leucemia e anemia. Luciana Cordeiro, de 53 anos, é um exemplo de como essas doenças podem surgir de forma inesperada. Em outubro de 2023, sua vida mudou completamente. Praticante de academia há cerca de um ano e meio, ela começou a sentir uma fraqueza tão intensa que já não conseguia mais se exercitar — mal conseguia andar. Além disso, passou a ter diarreia que, a princípio, acreditava ser apenas uma virose.

O diagnóstico 

Os sinais foram piorando. Apareceram aftas e dor de garganta somente de um lado. Luciana foi se automedicando conforme o que estava sentindo. Por conta da dor de garganta, a mulher procurou um médico para que algum antibiótico fosse passado, e o médico recomendou que ela procurasse um otorrinolaringologista, pois a condição de dor de garganta de somente um lado poderia ser algo mais grave.

Luciana procurou o médico Elson Rodrigues alegando suas condições. Logo quando a mulher adentrou o consultório, ele teria apontado que ela estaria desnutrida e pediu um exame de sangue com urgência. No dia 3 de outubro de 2023, o resultado do exame foi de grande impacto. Ao retornar ao consultório, Luciana recebeu a notícia de que seu caso era gravíssimo e que necessitaria de cirurgia. Mal sabia a mulher que teria que ficar internada a partir dali.

Em suas redes sociais, Luciana registrou todo o processo de tratamento da recém-diagnosticada LMA (leucemia mieloide aguda), inclusive contando como foi a reação dela ao diagnóstico.

“É difícil você receber uma notícia dessas. Você tem duas maneiras: ou você encara e vai à luta, ou você fica chorando, desesperada e tentando entender por que aconteceu com você. Não tem um porquê, são coisas que acontecem que você tem que encarar. Foi assim que eu agi”, explicou.

Os tratamentos iniciais 

Além do diagnóstico, outros exames precisaram ser feitos para entender melhor o caso. Nesses exames, o resultado foi a presença de uma mutação de nome FLT3. Essa mutação estimula o crescimento de glóbulos brancos anormais. O tratamento foi iniciado com quimioterapia oral para conter essa mutação.

“Quando eu recebi o diagnóstico, eu não quis ‘dar um Google’, eu queria viver o tratamento um dia de cada vez, considerar tudo aquilo que o médico me falasse e não o que eu fosse ler, porque cada pessoa reage de uma maneira. Não adianta ficar pesquisando para ficar pensando na sua cabeça o que pode acontecer”, contou.

Luciana relatou que o primeiro tratamento foi o chamado “indução 3+7”, que são sete dias de quimioterapia direta e, desses sete dias, em três seriam dois tipos de quimioterapia. Após isso, teve 14 dias tomando quimioterapia oral para a mutação FLT3.

A mulher teve que passar pelo processo de queda de cabelo, por conta da agressividade da quimioterapia, processo esse que ela contou que foi acelerado pela irmã, que teria cortado de uma vez. Segundo Luciana, ela não queria sentir a sensação de ter o cabelo caindo naturalmente.

O terceiro procedimento era esperar pela reação da medula óssea. Ela cita que, por conta disso, o processo de internação normalmente é demorado.

A necessidade e importância do transplante de medula 

Por conta da mutação FLT3, Luciana precisou fazer o transplante de medula. Ela citou a importância do que viveu para o aprendizado sobre doação de sangue e, também, incentivou a doação de medula para pessoas de 18 a 35 anos.

“A gente acha que é uma coisa de outro mundo (doar medula), é tirar sangue. Só isso. Não tem nada mais que isso”, afirmou.

As dificuldades do processo 

No dia 7 de novembro, Luciana teve uma boa notícia. Seus neutrófilos tiveram uma alta considerável e ela seria liberada para, finalmente, rever sua família. Infelizmente, por conta de uma febre constante, a alta foi suspensa e ela teve que retornar ao hospital. “Fiquei frustrada no começo, é ‘punk’ você saber que está indo embora e ter que ficar mais tempo, mas aceitei, só quero ir embora agora quando estiver segura.”

“Fica mais leve quando você aceita. Fico triste pelas pessoas que estão passando pelo mesmo e não aceitam. Oro por essas pessoas todos os dias para que elas possam aceitar, entregar e confiar em Deus, que tudo dá certo”, completou.

Mais tratamentos 

A segunda etapa do tratamento, chamada de “consolidação”, foi feita na semana do dia 10 de dezembro e se tratava de quimioterapias em dias alternados. O procedimento, no entanto, seria bem mais forte que o inicial. Além disso, o tratamento contra a mutação ainda continuaria.

“Foi tranquilo. Não tive reações, náuseas, nada. Meu corpo está acostumado. Na primeira, na indução, além das células doentes, o corpo não está acostumado, porém, essa foi mais tranquila”, explicou.

Após todo esse processo, a imunidade da Luciana caiu e ela passou por um novo processo para que voltasse aos seus níveis normais. Neste mesmo dia, 19 de dezembro, Luciana recebeu a notícia de que faria uma nova punção de medula no dia 20 e teria alta no dia 21.

Nova internação

Após passar o Natal e o Ano Novo com a família, Luciana teve sua segunda internação para consolidação e, segundo ela, foi totalmente o contrário das primeiras etapas. Vírus e bactérias vieram à tona, causando febre e necessidade de outros antibióticos. Após toda essa luta, Luciana teve alta novamente no dia 1º de fevereiro de 2024.

O transplante de medula 

No dia 11 de março de 2024, Luciana recebeu seu transplante de medula e teve o resultado inicial no dia 29 daquele mês. “Foi como tirar a dor com a mão. Eu não me sentia indisposta, eu não sentia dor. É surreal”, relembrou.

A mulher contou que a fase pós-transplante é bem difícil, por conta das quimioterapias que são recebidas para afetar a medula antiga, eliminando-a para receber a nova. Esse procedimento afeta o corpo todo. Luciana cita que perdeu o paladar, passou por descamação da pele, teve muito cansaço, entre outros.

Luciana teve que ser internada novamente para fazer mais exames, para ter certeza de que a medula não estava rejeitando seu corpo. A biópsia foi feita e deu negativo para essa possibilidade, chegando à conclusão de que os vômitos, diarreias e falta de apetite que estavam ocorrendo seriam fruto dos remédios tomados para o tratamento pós-transplante.

As intercorrências 

No final de maio, Luciana teve uma trombose, precisando tomar anticoagulante, além de anemia.

A mulher também foi vítima de uma aplasia de série vermelha, que é quando o pouco sangue que fica dentro do paciente começa a criar anticorpos, não deixando o novo sangue do doador permanecer. Segundo ela, somente 10% das pessoas têm chance de desenvolver essa condição.

"Jogou-me um balde de água fria. Toda semana eu recebia bolsa de sangue. Teve que entrar com outro tratamento.”

Luciana ainda teve um AVC (acidente vascular cerebral). Ela contou que estava vindo de São Paulo, onde realizou o tratamento, para Franca, quando parou de sentir a perna esquerda. Ao chegar ao hospital, Luciana descobriu que estava tendo um AVC, decorrente de um pequeno trombo que se formou e foi para o cérebro. Esse trombo só conseguiu passar por conta de um FOP (forame oval patente), que é um buraco pequeno no coração. Luciana contou que o médico teria dito a ela que somente 20% da população tem esse buraco. O tratamento é colocar uma prótese para realizar esse fechamento.

Além das intercorrências já citadas, ainda houve uma hérnia cervical que estava comprimindo a medula espinhal da mulher, que gerou sessões de fisioterapia por 4 meses.

“Foram muitas intercorrências, porém, consegui vencer todas com a graça de Deus”, afirmou Luciana.

Como está Luciana atualmente? 

O tratamento de Luciana segue atualmente, por conta de mais uma intercorrência: uma hemólise, que é a destruição dos glóbulos vermelhos, ou hemácias, do corpo. Apesar dessa intercorrência, Luciana está bem.

“Hoje eu estou bem, graças a Deus. O tratamento ainda não acabou. Eu vou para São Paulo de 2 em 2 meses. Estou tomando corticoide pelo tratamento, mas estou super tranquila. Não preciso mais fazer transfusão de sangue, meu sangue está estabilizado, a anemia está estabilizada, mas continuo em tratamento", finalizou.