Lula, o eterno candidato que teima em transformar a política brasileira num museu de relíquias, começa — enfim — a perceber que seu tempo passou. O nome que um dia encarnou a esperança para alguns hoje ecoa como um eco distante de um país que já não existe. E nos corredores abafados do Planalto, a pergunta já circula com mais frequência do que o governo gostaria de admitir: até quando vale a pena carregar nos ombros um octogenário com ficha corrida e aprovação em queda livre? A resposta, caro leitor, está nas entrelinhas das pesquisas, no silêncio constrangido do próprio partido e no desespero de uma esquerda que, sem Lula, revela-se tão oca quanto os discursos reciclados de "paz e amor" de seus militantes nas redes.
A Agonia de um Projeto em Ruínas
Os números do Quaest são implacáveis: 67,4% de reprovação em Curitiba, 52% em São Paulo, 49% no Nordeste. A inflação persistente (7,8% nos alimentos), o fracasso do consignado privado (70% de avaliações negativas nas redes) e a escalada da violência (12% de aumento em roubos) formam o tripé da crise lulista. Lula, aos 79 anos, tornou-se um paradoxo ambulante: quanto mais insiste em se apresentar como "única alternativa à direita", mais acelera a decomposição de seu legado.
A declaração à CNN — "minha saúde dirá se sou candidato" — foi menos uma concessão à idade e mais um recado aos aliados: o PT não tem plano B. Pesquisa interna obtida pela Folha mostra que 78% dos filiados ainda apostam na reeleição, contra míseros 12% que cogitam Haddad. O resultado? Um partido refém do próprio fundador, incapaz de renovar-se enquanto repete o mantra de que "sem Lula, voltaremos à era das trevas". A ironia é que a "era das trevas" parece ter voltado sob seu próprio governo.
O Vazio Programático da Esquerda
Fernando Haddad, o suposto herdeiro, amarga derrota acachapante contra Tarcísio em cenário sem Lula — desempenho pior que o de Ciro Gomes e Marina Silva (Datafolha). O PT, que nos anos 80 inovou ao unir sindicalistas e intelectuais, hoje repete o erro da velha UDN: acredita que basta ter "nome forte" para vencer eleições. Enquanto isso, o PSOL enterra suas chances ao insistir em Boulos, derrotado na capital e que mal conseguiu emplacar o segundo turno com Ricardo Nunes.
A esquerda enfrenta um dilema geracional: como conciliar bases tradicionais (operários e periféricos) com pautas identitárias que alienam 62% do eleitorado moderado, segundo o Ipec? A resposta parece óbvia para todos, menos para a cúpula petista: não é possível. Enquanto discutem pronomes neutros, Tarcísio reduz homicídios em 18% no estado que concentra 1/3 do PIB nacional.
Sua estratégia é clara: transformar o bolsonarismo em um movimento mainstream, esvaziando-o de teorias da conspiração enquanto absorve sua base. E a estratégia já tem dado resultado: pesquisas do AtlasIntel mostram que quase 1/3 dos nordestinos já apoiam Tarcísio — região onde Bolsonaro sempre patinou.
O Centrão e a Morte Anunciada do Bolsonarismo
A inelegibilidade de Bolsonaro não foi um acidente: foi o desfecho lógico de um projeto autoritário e sem respostas reais ao trem desgovernado do conflito entre os poderes. Tarcísio, ao contrário, entende que poder real se conquista nos corredores do Congresso, não em carreatas. Seu acordo com Arthur Lira para destravar a reforma tributária complementar — bloqueada por 7 meses — é aula de presidencialismo de coalizão.
Enquanto isso, até o PL do mensaleiro Valdemar já sinaliza que prefere Tarcísio a Michele Bolsonaro. A matemática é simples: com 28% de intenção de voto no primeiro turno, o governador paulista pode unificar a direita sem herdar a rejeição de 44% associada ao clã Bolsonaro.
No judiciário, o sentimento é o mesmo. A decisão do Supremo de manter o teto de gastos para estados (reduzindo de 4,83% do PIB em 2009 para 2,93% em 2025) revela o novo papel da corte: árbitro técnico em tempos de crise fiscal. Tarcísio, diferentemente de Bolsonaro, não briga com o STF — mas sim se senta na mesa como um adulto, logrando vitória atrás de vitória.
A Hora da Direita Adulta
As eleições de 2026 não serão sobre esquerda versus direita, mas sobre passado versus futuro. Lula personifica um Brasil que não existe mais — um país de polarizações simples e corrupção tolerada. Tarcísio oferece algo que a nova direita jamais ousou: competência administrativa com pragmatismo político. Enquanto o PT debate se enterra Lula em vida ou em morte, o governador paulista já negocia com o centrão, aprova reformas e conquista eleitores que querem o bom e velho perfil de “gestor”.
Mas cautela, caro leitor: o que escrevo aqui não é torcida, muito menos adesão. É apenas a leitura de um quadro que começa a ganhar contornos, traçado a lápis pelo pintor sádico do futuro nacional — que em breve passará o óleo por cima. Não é o cenário ideal, longe disso.
Como presidente de transição, entre a insanidade dos últimos dez anos — iniciados em 2016 com o impeachment de Dilma, atravessados pelo delírio bolsonarista e regredidos sob a volta de Lula —, Tarcísio talvez represente não o melhor dos mundos, mas o menos pior. Uma normalidade burocrática, amparada no consórcio pragmático dos herdeiros de Bolsonaro e do centrão. Infelizmente, no curto prazo, pode ser o máximo que podemos esperar.
Miguel Francisco é coordenador do Movimento Brasil Livre, estudante de Direito na UNESP de Franca e Colunista no portal GCN.