Todos os dias, a Prefeitura de Franca e o Governo do Estado de São Paulo trabalham para tentar alocar os pacientes de média e alta complexidade, que precisam de internação hospitalar, na saturada rede pública de saúde. E quando, além da falta de vagas na Santa Casa de Franca, o problema passa a ser convencer as famílias a autorizarem a ida dos pacientes aos leitos disponíveis? Parece ilógico, mas é o que acontece neste momento.
Quatro em cada dez pacientes recusam leitos hospitalares por estarem localizados em outros municípios. “Lutamos dia e noite, com muito empenho. Hoje, a cidade não tem leitos suficientes e o Estado, que é o responsável por gerenciar as vagas, encaminha para a região, que oferece boa estrutura. Damos o apoio necessário, garantimos a locomoção e o transporte. Mas, se o paciente se recusa a ir, não podemos obrigar, e o drama fica ainda maior, com mais gente esperando nos PSs por vagas que existem na região, mas que se recusam a aceitar”, disse a secretária municipal de Saúde de Franca, Waléria Mascarenhas, em entrevista exclusiva ao portal GCN/Sampi.
Segundo a secretária, 64 pacientes (cerca de 44% do total) que estavam nas unidades de atendimento do município recusaram a transferência para hospitais de outras cidades nos últimos 30 dias, mesmo diante da incapacidade da Santa Casa de Franca em absorver toda a demanda local por absoluta falta de leitos. Não é uma realidade extemporânea - mês a mês, o quadro se repete.
A negativa é recorrente e vem acompanhada, em geral, de justificativas como falta de condições para acompanhar o paciente na cidade vizinha. Em outras, é a recusa pura e simples. “O paciente, se não for transferido, fica no pronto-socorro, pois a Santa Casa não comporta todos”, afirma Waléria.
É nesse compasso de espera que o problema se agrava: pacientes que poderiam estar em tratamento hospitalar ocupam leitos de emergência por dias, pressionando ainda mais o sistema, já muito pressionado, e deixando outros tantos pacientes sem o tratamento adequado de que precisam.
A realidade se traduz em números. Nesta última sexta-feira, 18, por exemplo, 33 pessoas aguardavam regulação de leitos em hospitais da cidade, internadas em unidades municipais:
Afinal, por que tanta gente recusa a transferência, mesmo sabendo que isso pode significar esperar por tempo indeterminado um tratamento adequado? O medo de sair da cidade natal, a insegurança diante do desconhecido, o apego à família e até a falta de informação sobre a boa qualidade dos hospitais de cidades da região ajudam a explicar esse “não” familiar.
Apesar disso, a secretária garante que os hospitais da região têm estrutura para acolher os pacientes, para onde são encaminhados os casos menos graves, e que o município oferece todo o suporte necessário, da locomoção ao retorno após a alta médica.
A negativa não implica automaticamente em uma espera maior. No entanto, o processo se reinicia, e deixa tudo mais lento, especialmente no atendimento a novos pacientes que entram no sistema todos os dias. Ao negar a vaga, o paciente precisa ser reinserido no Siresp (Sistema Informatizado de Regulação do Estado de São Paulo), antigo Cross, e a análise para nova transferência dependerá da gravidade de seu estado de saúde e da disponibilidade de vagas.
Não há fila cronológica tradicional; a classificação se baseia em critérios médicos, como o grau de risco do paciente. Assim, alguém com condição mais crítica pode ser priorizado, mesmo que tenha chegado depois. “Não existe fim de fila”, explica Waléria. “A regulação se dá pela complexidade do caso e pela vaga disponível no momento”, completa.
Com a previsão de inauguração do Hospital Estadual de Franca para o segundo semestre deste ano, a expectativa é de importante alívio para o sistema de saúde local. A nova unidade, construída na avenida São Vicente, ampliará a capacidade de atendimento a casos de média e alta complexidade, reduzindo a dependência da Santa Casa, cujos leitos estão no limite, e a necessidade de transferências para outros municípios.
O Hospital Estadual em Franca ocupará um terreno de 31 mil metros quadrados e contará com quatro edifícios, totalizando 25.679 metros quadrados de área construída. Com investimento de R$ 150 milhões, a estrutura terá 225 leitos, incluindo leitos de clínica médica e cirúrgica, hospital-dia, psiquiatria e UTIs pediátricas e adultas.
Enquanto o novo hospital não abre as portas, a batalha da Secretaria de Saúde tem sido conscientizar a população a aceitar as vagas oferecidas na região. “Temos enfatizado muito que esses hospitais da região têm condições de receber os pacientes. O município leva, acompanha e busca o paciente; ele não está desamparado”, finaliza Waléria.