Franca foi palco de mais um caso comovente que expõe a necessidade urgente de ampliação dos leitos de internação no SUS, solução prometida pelo governador Tarcísio de Freitas (PL) para o segundo semestre, quando deve ser inaugurado o Hospital Estadual de Franca. José Erimar Saraiva de Almeida, de 52 anos, que trabalhava no setor de compras de um açougue, morreu na madrugada desta terça-feira, 15, após esperar horas por uma vaga de internação que, segundo familiares, só foi liberada após sua morte. José Erimar deixou a mulher e dois filhos gêmeos de 8 anos.
Segundo relato emocionado do irmão, Elismar Almeida, de 35 anos, José Erimar começou a sentir fortes dores nas costas na quinta-feira, 10, inicialmente tratadas como torção ou problema muscular. Após atendimento no pronto-socorro, recebeu medicação para dor e foi liberado. No entanto, o quadro se agravou nos dias seguintes.
“No sábado, 12, ele voltou ao pronto-socorro duas vezes, com muita dor e falta de ar. Aplicaram-lhe injeções, mas o efeito durava apenas uma hora. No domingo, 13, ele ficou em casa, mas estava estranho, com muita falta de ar e falando coisas desconexas”, relatou Elismar.
Na segunda-feira, 14, pela manhã, a situação tornou-se crítica. “A esposa dele me ligou dizendo que ele estava passando muito mal. Busquei-o às sete horas da manhã e o levamos ao pronto-socorro. Ele não conseguia falar nem respirar direito. Foi levado diretamente para a internação no hospital (pronto-socorro).”
Segundo Elismar, os médicos mostraram-se preocupados e iniciaram rapidamente os procedimentos de emergência, incluindo sedação e intubação. Mesmo assim, a transferência para um hospital com mais recursos não ocorreu a tempo.
Elismar também informou a equipe do portal GCN/Sampi, que buscou vaga para o pai em diversos hospitais particulares da cidade, mas em todos ele foi informado que seria preciso esperar o início do dia, pois estaria fora do horário comercial. "Achamos um absurdo, a pessoa agora tem que ter hora para morrer, um absurdo!", comenta Elismar.
José morreu na madrugada desta terça-feira, 15. “A vaga só foi liberada depois que ele faleceu. Ficamos no pronto-socorro das 7h (segunda-feira) até às 4h30 (terça-feira). Ele morreu às 4h48. E só às 6h, quando voltei ao hospital, me disseram que a vaga havia sido liberada”, contou o irmão, indignado.
José será velado nesta quarta-feira, 16, das 6h às 10h, na sala 2 do velório São Vicente. O sepultamento está previsto para as 10h no Cemitério Santo Agostinho.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que o paciente José Erimar Saraiva de Almeida deu entrada no Pronto-socorro "Dr. Álvaro Azzuz" na noite do dia 14, apresentando queixas de mal-estar e dor após esforço físico.
Após a acolhida e avaliação da equipe médica, foi decidido que o paciente necessitava de investigação diagnóstica em ambiente hospitalar. Para isso, foi inserido no Siresp (Sistema Informatizado de Regulação do Estado de São Paulo), que gerencia o acesso aos leitos nos hospitais conveniados ao SUS (Sistema Único de Saúde), controlado pelo governo do Estado.
Durante o processo de regulação, o paciente apresentou piora clínica e morreu antes da transferência para unidade hospitalar.
O Siresp, antiga Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde), lamentou o ocorrido e informou que o paciente teve duas transferências autorizadas para a Santa Casa de Franca, administrada pelo município: a primeira na segunda-feira e a segunda na madrugada de terça-feira. O transporte para a transferência do paciente é de responsabilidade da unidade de origem.
O Estado reiterou que é um serviço intermediário entre as unidades de origem e as de referência. A Central não cria leitos, mas auxilia na identificação de vagas em hospitais próximos, sejam eles municipais, estaduais ou filantrópicos, e aptos a cuidar de cada caso.