Em, 1965, o mecânico e inventor autodidata Maurício Lorensini foi até o Rio de Janeiro com uma invenção que, na época, não teve a devida atenção e hoje revoluciona o mundo automobilístico. Em sua oficina em Jundiaí, na rua Bartolomeu Lourenço, no Centro, Maurício criou o primeiro carro elétrico que se tem notícia no Brasil. O pioneiro da eletrificação automobilística no país nasceu em 1924 e tem diversos outros inventos patenteados.
Durante a Segunda Guerra, Maurício criou um motor movido a água e a ar-comprimido, que fora adaptado de um caminhão. Também projetou baterias à prova de descarga inesperada: eram divididas em três ou mais elementos, montados em caixas separadas e que podiam ser substituídos, de forma independente, em caso de avaria. Essas baterias foram produzidas em série nos anos 50sob o slogan “Livre-se do mau elemento”. Em 1960, Lorensini já havia patenteado 78 projetos. Alguns dos inventos foram industrializados por terceiros, mas o inventor jundiaiense jamais conseguiu obter ganhos financeiros suficientes com suas criações.
Depois disso, o inventor resolveu criar o "carro do futuro". Na época, o petróleo era muito mais abundante e não havia discussão sobre mudanças climáticas. Logo, o petróleo era protagonista absoluto e não havia motivo para que fosse substituído. Hoje, porém, 60 anos depois, a situação mudou muito e os carros elétricos vêm ganhando cada vez mais espaço em todo o mundo. Em Jundiaí, berço do pioneiro, não é diferente. Em 2023, a cidade contava com 921 veículos elétricos e híbridos, número que saltou para 1.934 em 2024.
O primeiro carro elétrico brasileiro de que se tem notícia não chegou a ganhar carroceria nem saiu do estágio de protótipo, foi construído, em Jundiaí, sobre chassi do jipe Willys. O carro chegava a 70 km/h e era alimentado por um conjunto de baterias de chumbo-ácido convencionais, que podiam ser recarregadas com o veículo em operação por meio de um motor estacionário de um cilindro e 5 cv. Essa tecnologia é a mesma que alimenta, por exemplo, o BMW I3 na atualidade. O motor elétrico de tração era acoplado à caixa de câmbio.
O carro chegou até o Rio de Janeiro em fevereiro de 1965, para participar da “Corrida de Calhambeques”, promovida pelo Automóvel Club do Brasil para celebrar a inauguração do Viaduto dos Marinheiros. O então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, aliás, inaugurou a obra a bordo do automóvel elétrico dirigido por Lorensini. O jundiaiense desejava produzir o veículo em série e afirmava ter recusado a oferta de Cr$ 20 milhões pela patente. Mas o fim da história foi triste: Lorensini nunca conseguiu ganhar dinheiro com suas invenções e o carro do futuro terminou seus dias desmontado e enferrujado em Jundiaí.