A saca de 60 quilos do café arábica da Alta Mogiana alcançou patamares entre R$ 2,1 mil e R$ 2,2 mil. Este é o primeiro registro histórico, desde a implementação do Plano Real, em 1994, em que o preço do produto ultrapassa a marca dos R$ 2 mil. A região cafeeira, com matriz em Franca, compreende mais de 15 municípios paulistas e mineiros.
O valor dobrou em comparação com o mesmo período do ano passado, quando a saca de café girava em torno de R$ 1 mil. O diretor de Negócios da Cocapec (Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas), Ricardo Lima, explicou que a disparada é resultado de um conjunto de fatores, como a instabilidade climática.
“No ano de 2023 (safra comercializada em 2024), tivemos condições climáticas adversas, que afetaram toda a população e os reservatórios, além da quantidade de incêndios que ocorreram, os quais também impactaram as lavouras cafeeiras, pois o déficit foi bastante acentuado”, afirmou.
A desvalorização do real em relação ao dólar também impactou o preço da commodity. Nesta sexta-feira, 6, a moeda americana foi negociada a R$ 6,08. “O câmbio, devido a diversos fatores, como a economia mundial, a instabilidade global e a própria condição fiscal do Brasil, mudou. E, logicamente, isso tem peso no aumento do preço do café na gôndola, e, especialmente, o consumidor sente isso.”
Outro fator é a democratização do acesso às notícias. “O mercado é bastante informado e dinâmico na circulação das informações, e isso, de certa forma, projeta reduções na oferta, o que, logicamente, afeta os preços, pois já se trabalha com a expectativa de que a próxima safra venha com perdas significativas, embora ainda não quantificadas pela Cocapec.”
O preço da commodity agrícola é afetado pela lei da oferta e da demanda. Entende-se oferta como a capacidade de produção, enquanto demanda é o consumo de café e seus derivados.
O pacote de 500 gramas sofreu reajuste de preço nas prateleiras dos supermercados. O café era vendido entre R$ 13 e R$ 15, dependendo da marca, no ano passado. Já em 2024, as mesmas embalagens são comercializadas entre R$ 22 e R$ 24. Apesar desse aumento, pelas razões citadas, o setor prevê um crescimento de 1,5% a 2% nas vendas anuais do produto.
Ricardo afirma que é improvável que o consumidor perceba uma queda significativa nos preços nas prateleiras no curto prazo – de dois a quatro meses. Isso ocorre porque o café é uma cultura perene, com ciclo de vida longo. As mudanças nos preços só devem ser sentidas a partir da próxima safra. “Novos ciclos produtivos dependerão de estações, como a Primavera, o Outono e o Verão, serem adequadas, com chuvas no momento certo, para que haja desenvolvimento nas lavouras. Só então teremos um novo processo de floração em 2025.”
Uma das características do café é a bienalidade, com safra maior em um ano e menor no seguinte. Para 2025, a produção será alta. As interferências climáticas, porém, já causam prejuízos aos cafeicultores, sendo ainda cedo para calcular as perdas. “Pela experiência do nosso departamento técnico e das visitas aos campos nas diversas regiões mineiras e paulistas, é possível identificar, a partir de apontamentos rurais (ou seja, na florada que aconteceu), que nem toda ela se transformará em produção. O momento certo para quantificar as perdas virá.”
Cerca de 80% do café produzido na região da Alta Mogiana tem potencial para ser exportado, com destinos em outros países das Américas, Europa, Oceania e Oriente Médio.
Seja com preços mais acessíveis ou mais salgados, os apreciadores do famoso cafezinho continuarão aproveitando o produto, tanto dentro quanto fora do Brasil.