“Tem gente que sonha viver por toda a eternidade, mas não sabe o que fazer com uma simples tarde chuvosa de domingo.”
Não sei ao certo de quem é a frase acima. Por um tempo pensei que fosse atribuída à Simone de Beauvoir, mas nem o Professor Google me ajudou na empreitada de confirmar isto.
O tema de hoje seria outro, mas ontem à tarde a sensação que essa frase sempre me provocou bateu tão forte numa determinada hora do dia, que deixei a ideia do texto de hoje para amanhã. Ou outro dia, pouco importa.
O fato é que vi a frase em algum lugar alguns anos atrás, e passei a prestar atenção nos domingos à tarde. Se com tempo chuvoso, então...o tédio chega a doer.
Sempre achei que viver cem anos seria bom. Se a vida só tivesse tardes de domingo, bem menos que isso seria suficiente.
Mas, ontem não foi domingo. Foi pior: sei lá se algum poste atropelou algum carro, ou se aconteceu algo parecido. Sei que faltou luz.
Por mais de uma hora, descobri o quanto sou refém da energia elétrica em minha vida pessoal. Faltasse todos os dias e eu teria que reinventar um jeito de viver, fazer uma reengenharia de todo o “modus operandi” da minha reles existência nesse planeta.
Para começar, não consegui abrir o portão para colocar o carro na garagem e não tinha as chaves da casa. Saí do carro, não consegui que ninguém de dentro da casa abrisse a porta da rua pelo interfone. Gritei da rua feito louco e apareceu meu filho na janela (moro no segundo andar!). Jogou a cópia da chave no meio da rua, e consegui vencer minha primeira batalha.
Seis e meia da tarde. Meio claro-meio escuro. Sem TV, sem rádio, tentei um café.
O acendedor do fogão, sem chance. Fósforos? Eu sei que tem em algum lugar. Se eu fumasse pelo menos pra isso serviria um isqueiro. Acho!
Micro-ondas, nada.
Computador? Bem, a bateria do Note ainda aguenta um tempinho. Mas o roteador tá fora de combate. Internet, nem pensar.
Impressionante a sensação de impotência.
O tempo foi passando, já comecei a pensar em banho frio, comida gelada, carro dormir na rua, nem sei mais qual seria o tamanho da tragédia.
Do jeito que havia acabado e eu não sei porque, a energia voltou e eu também não sei porque.
Mas voltou. Tudo resolvido.
Só que eu acrescento esse adendo à frase lapidar que começou o texto: “Tem gente que sonha viver por toda a eternidade, mas não sabe o que fazer com uma simples tarde chuvosa de domingo. E se for sem energia elétrica...”