Já imaginou fazer parte da transformação de um esporte que já foi marginalizado e, em 2020, se tornou uma modalidade olímpica? Essa é a trajetória de Kleber Silva, 52, que se dedica há mais de 37 anos ao skate. Hoje, ele atua como treinador e educador no projeto "Além do Skate", realizado na famosa Pista do Bueno, localizada na região leste de Franca. Além do esporte, sua mulher, seus quatro filhos e dois enteados são o seu porto seguro e incentivadores da concretização dos seus projetos.
A história de Kleber com a causa começa no início dos anos 2000, quando decidiu se envolver em um projeto social. "Iniciei com uma ONG chamada Skate Cidadania, em parceria com o Instituto Arte Vida. Na época, revitalizamos uma quadra com obstáculos de madeira para a prática do skate", relembra. Assim nasceu seu primeiro projeto oficial no esporte, em 2003.
O atleta já sentia o desgaste físico das competições, mas não queria encerrar sua carreira ali. Mesmo aos 30 anos, seu desejo era viver algo "além do skate". “Eu já não competia mais, mas queria continuar envolvido com o esporte. Encontrei minha vocação ensinando as novas gerações”, conta o treinador, que passou a formar jovens atletas.
Inicialmente, o projeto tinha foco na inclusão e recreação, mas foi ganhando força ao longo dos anos. “Em 2006, participei do Projeto São Paulo do Skate, coordenando núcleos em Franca. Em apenas oito meses, 320 crianças passaram por nós”. O movimento social já mostrava o crescimento do skate e indicava o sucesso que viria antes mesmo de o esporte ser popularizado pelas Olimpíadas.
A pista localizada no Parque Vicente Leporace foi o palco de seus projetos e aulas por anos, mas desafios frequentes surgiam devido às constantes reformas, que interrompiam suas atividades. “Quando a pista foi construída, não houve participação dos skatistas na elaboração do projeto, então muitos detalhes técnicos ficaram de fora. Ainda assim, conseguimos adaptar o espaço e oferecer as aulas", comenta Kleber. Já em 2013 na praça do Jardim Bueno, nasceu o projeto Além do Skate, que continua até hoje, após 11 anos de histórias, no mesmo lugar.
Em 2016, com uma nova reforma na pista e a pandemia de 2020, o projeto precisou ser interrompido. "Foi um período difícil. Tivemos que parar tudo, mas o interesse pelo skate cresceu com as Olimpíadas e as redes sociais. Quando retomamos, percebi que a demanda havia mudado. Hoje, além do aspecto social, tenho alunos que buscam alta performance, o que exige um trabalho mais individualizado", explica.
Com persistência e dedicação, o projeto "Além do Skate" continuou na praça do Bueno, enfrentando em 2021, durante um período mais calmo da pandemia. Kleber dava aulas para poucos alunos, com horários marcados. Com o arrefecimento da pandemia em meados de 2022, a procura aumentou e o número de alunos cresceu consideravelmente.
"O skate vai além das competições. Ele é terapêutico, ajuda na socialização e se tornou uma alternativa saudável em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia e pelos videogames", reflete Kleber.
Para Kleber, não há palavras que descrevam a sensação de ver seus alunos crescendo e competindo. Essa é sua maior recompensa como educador. Um exemplo é Wesley, um de seus primeiros alunos, que começou ainda garoto, cheio de vontade de aprender, e hoje é um competidor ativo, representando Franca em torneios pelo Brasil.
“Temos alunos de apenas 4 anos que estão começando, e é emocionante pensar no futuro deles". Kleber destaca Mariah, de 12 anos, que se tornou um dos principais nomes na categoria mirim, inspirando outras meninas a praticarem o skate, ao lado de referências como Rayssa Leal, a famosa "Fadinha do Skate".
Apesar das dificuldades, o veterano do skate mantém o entusiasmo e a esperança de ver Franca se tornar um polo de referência para o esporte. "Estamos no caminho certo. O skate abriu muitas portas para mim e para esses jovens. Conheci pessoas, lugares e vivi experiências únicas graças ao esporte. É isso que quero passar para as próximas gerações: o skate é mais do que um esporte, é um estilo de vida", finaliza Kleber, emocionado.