Sábado passado foi dia de celebração e reverência aos mortos.
Em todas as regiões do Brasil, pessoas deixaram suas casas e compareceram a cemitérios, onde, por algum tempo, exerceram a prática da reflexão, do externar de sentimentos variados, sempre tendo relação com os despojos depositados sob lápides de concreto ou palmos de terra. Oferendas de flores, silêncios compenetrados, velas acesas, preces saudosas, cada um a seu modo em manifestação de carinho, respeito e consideração, a tudo quanto representara um dia aquele ser humano cujos restos ali se encontram.
Não vou falar aqui da origem da data, de quando passou a ser celebrada, do porquê de ser em tal dia, que isto basta uma simples olhadela pelas várias ferramentas de busca e as informações estão todas à disposição.
O que me incomoda é a palavra finados.
Etimologicamente, finados quer dizer findo. Acabado. Terminado.
Sem entrar no mérito da existência ou não de vida após a morte, que isso vai da crença de cada um, mas eu entendo que a expressão não se coaduna com a saudade, com a memória, com as lembranças, e, principalmente, com os exemplos que emanam da nossa aproximação com a imagem de nossos pais, avós, tios, irmãos, ou mesmo amigos e conhecidos, cujas fotografias estampam as lajes, sejam as sepulturas suntuosas ou bem simples.
O que acontece, e de forma impregnada de símbolos e evocações, é uma reflexão sentida sobre a efemeridade e fugacidade da vida.
Sobre o que se deixa plantado e enraizado durante o tempo de nossa permanência aqui. E que permanece vivo na forma de viver de alguém.
Várias são as pessoas que passaram pela minha vida e que hoje não mais coabitam fisicamente o planeta. Parentes, amigos, conhecidos, ídolos da música e das letras, todos, de um modo ou outro, fazendo parte de minha forma de pensar, de ver as coisas, de valorar as relações, de evitar excessos, de respeitar o dia e a noite como presentes e dádivas que são.
Mortos sim. Acabados, jamais!