21 de novembro de 2024
DESINTERESSE?

Abstenção cresce e supera votação de Alexandre no 2º turno

Por Lucas Faleiros | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Lucas Faleiros/GCN
Pátio da EE 'Ângelo Scarabucci', em Franca, quase vazio durante a tarde desse domingo, 27, quando aconteceu o segundo turno das eleições

88.029 eleitores francanos se abstiveram de votar no segundo turno das eleições municipais de 2024, realizado no último domingo, 27. O número, que representa mais de um terço do eleitorado de Franca, supera o de votos depositados no prefeito reeleito, Alexandre Ferreira (MDB), e o de abstenções do primeiro turno no município.

Ao todo, o atual chefe do Executivo, que vai comandar a cidade por mais quatro anos, teve 82.856 votos (35,4% dos válidos) no turno final - 5.173 a menos do que a quantidade de pessoas que não compareceram às urnas.

O montante de abstenções também é 18,1% maior do que o observado no primeiro turno, quando 74.489 eleitores de Franca não conseguiram ou preferiram não votar.

Além dos 88.029 francanos que se abstiveram, outros 19.197 foram às seções eleitorais, mas decidiram anular seus votos (10,2 mil) ou votar em branco (8,9 mil).

Desinteresse da população

Para o cientista político Bruno Silva, existem dois fatores que podem ter afastado os eleitores francanos das urnas em 2024. Um deles tem a ver com a dificuldade dos candidatos em envolver a população que, muitas vezes, não está interessada no cenário político.

“A gente observa um movimento que já havia ocorrido em 2020 e se manteve, mesmo que não estejamos mais no contexto desafiador da pandemia. Aqueles que não se envolvem, não veem o tema como importante e acabam não participando. Em Franca, quase um terço do eleitorado não esteve no primeiro turno. No segundo, a abstenção ultrapassou. Esse descrédito explica o distanciamento da população”, comentou Bruno.

Outro fator que, de acordo com o cientista político, tem peso para que as abstenções construam um volume alto é a exclusão de candidatos do primeiro turno, o que faz com que os eleitores tenham que votar “por eliminação”.

“É a dinâmica. A gente tem que observar o comportamento do eleitor que optou por outro candidato no primeiro turno. Ele pode escolher o político com ideias mais próximas do seu candidato, votar contra quem ele não quer que o represente, votar em branco, anular o voto ou inflar esse número de abstenções”, disse Bruno Silva.

Como resolver?

Para diminuir o afastamento entre população e política, o especialista acredita que a solução seja, para os candidatos, apostar em medidas para “reencantar o eleitor”. “É necessário avançar para além das propostas e mostrar projetos e políticas públicas que possam ser minimamente consistentes”.

Uma questão importante, de acordo com o especialista, é que, no Brasil, o momento do voto não é visto como algo tão relevante pela maior parte da população. “Por mais que tenha um caráter obrigatório, são nítidas a facilidade para justificar a ausência e a falta de uma penalidade significativa para quem não participa. Você tem uma população que se afasta mais do que participa”.

No fim das contas, para Bruno, quem acaba se interessando pelo processo eleitoral são as pessoas que enxergam um interesse direto na disputa. “Quem se aproxima é a pessoa que, de alguma forma, depende diretamente das políticas públicas ou tem a capacidade de visualizar os ganhos e perdas. Ou seja, na maioria das vezes, os mais ricos e os mais esclarecidos”.